Coleção pessoal de Eliot

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⁠- Calma e Silêncio -

Há vontade de morrer em meu
Espirito breve!
Nenhuma ausência há em mim
além de mim ...
Meu rosto é de silêncio,
oblíqua madrugada, vontade de
negar e não ceder.
Minh'Alma é breve, tão breve
como breve é o instante!
Tudo é passageiro, nada fica,
é destino ...
É a calma e o silêncio
de quem se aceita, entrega,
resigna ...
Estou só! Sempre só!

⁠Há qualquer coisa -

Há qualquer coisa d'infinito
nas vagas linhas do horizonte
uma quimera sem sentido
ou uma saudade sem fonte ...

Há qualquer coisa que nos negam
os olhos fechados de quem parte
um não sei quê d'águas sem arte
onde os barcos não navegam ...

Há qualquer coisa permanente
que nos injecta mágoa e solidão
uma visão errante, um senão
ou uma vontade de ser diferente ...

Há qualquer coisa dita em vão
nas bocas que maldizem o amor
inveja, dor, mágoa e solidão
que vai matando sem pena nem pudor ...

Há qualquer coisa que não sabemos
oculta no tempo que nos castra
talvez seja a distância que nos arrasta
da juventude que perdemos ...

Há qualquer coisa, muita, tanta coisa
inerente à vida sobre a Terra
a ausência de paz é guerra
mas o destino é a pedra de uma lousa.

⁠Praia dos Mortos -

As manhãs
vagas; sombrias
pairam densas sobre
a Praia dos Mortos,
vem as madrugadas
duras, frias
cheias de silêncio
e águas paradas ...

O que restou
dos sonhos dos mortos?! ...
Esperam neste cais
o regresso à vida;
vivem de memória
ninguém os vê,
vivem de saudade
e da velha história ...

⁠À Toa -

Silêncio meus poetas, canto-vos um fado
que nasce das minhas mãos, vazias e gastas
pois nada mais me liga, ao frio do passado
àquelas velhas mágoas, que choram as desgraças.

Que a vida quando dói, não pára de doer
e a Alma cansada, entrega-se vencida
digo adeus sem despedida, que fica por dizer
num cais d'águas paradas, tristes; proibidas.

Deixarei meu fado, nos braços da saudade
na memória dos teus olhos, feridos e vazios
sigo à mercê do tempo, do vento e da idade
com esperança digo adeus, e as mãos cheias de frio.

(Para o Fado Nóquinhas)

⁠Por detrás dos gritos ensanguentados
da noite escura
vagueiam sonhos cheios de verdade
e de silêncio ...
As horas fraudulentas, inquietas,
os murmurios das cigarras indiscretas,
tudo passa num vai-e-vem sem precisão!
Estrelas cintilando numa cupula de trevas,
folhas ao vento, pálidas, secas, sem vida
incapazes de voltar aos dias aureos ...
E Eu?! Que faço Eu a meio d'um cenário
tão sinistro?!

⁠Sinto uma certeza
que me transcende a Alma;
que vai e vem e volta
num eterno movimento:
nada, nunca, neste mundo
te levará de mim;
meu Amor!
Como o silêncio só existe
p'lo ruído,
como a noite só existe pelo dia,
eu existo só por ti
tu nasceste para mim ...
Meu amor! O instante é para
sempre ...

⁠Há sempre um infinito em nós por
definir ...
Uma saudade, um vazio, uma falta que
alguém nos faz!
E nos ardentes campos da ausência
onde nascem rosas brancas,
feitas de mágoa e de silêncio,
há também estrelas invertidas em Céus
de Primavera ...
Um dia hei-de abraçar-te novamente ...

Para Celeste Rodrigues
3 anosde saudade.

⁠A Casa do Fontão -

A Casa do Fontão
é uma Casa especial
junto à Serra do Marão
ao Norte de Portugal.

De seu coração bondoso
Dona Luisa vem à porta
de sorriso carinhoso
nada mais ali importa.

E os dias vão passando
cada canto é especial
Dona Luisa vai mostrando
uma amizade natural.

É arte bem receber ...
E junto à Serra do Marão
fiquem todos a saber
que é na Casa do Fontão.


(Dedicado à Dona Luisa e à sua belissima Casa do Fontão que, ao Norte de Portugal, junto à Serra do Marão em Amarante, inspira paixões, amizades e poetas ...)

⁠- Se assim não for -
(Soneto)

Na verdade há mágoas palpitando no meu peito,
há sintomas de saudade de outro tempo,
silêncios adormecidos no meu leito
que se agitam conforme agita o vento!

E há sequelas agarradas à minha pele
incapazes de me deixarem respirar,
talvez um dia sejam brancas como a neve
e me deixem , como Florbela, "amar ... amar!"

Talvez os dias me possam ser mais leves
e os sonhos que hoje correm à minha frente,
ao meu lado, me possam ser mais breves ...

Se assim não for recordarei na minha gente
o amor de quem o sente e não descreve,
porque afinal, quem fala muito, muito mente!

⁠Madrugada sem teus Braços
(Fado)

Madrugada sem teus Braços
noite aberta sem destino
dia-a-dia; passo-a-passo
sem saber do teu caminho ...

Sem saber dos nossos sonhos
da mentira que é a vida
das angústias que deponho
na palavra despedida!

Se me amaste ou outro em mim
já nem sei se o consumaste,
foste embora, sei por fim
que afinal nunca me amaste!

Sigo a vida, em vão, sozinho,
cheia de sonhos aos pedaços,
noite aberta sem destino
madrugada sem teus braços!

⁠Eu Amo -

Eu amo a esperança que há no mundo
quando nós andamos de mãos dadas
e amo a vasta calma que há no fundo
das horas que a vida traz marcadas!

Amo os abismos que se alinham
em cada minuto que vivemos
e até das coisas que se adivinham
eu amo a esperança que perdemos!

Só não amo o que amo por amar!
Não sei amar o que não sinto
nem sinto amor se não me tocar ...

A vida é muito mais que simple instinto:
um abraço, um beijo, um olhar,
o gesto de ternura de um faminto!

Corações Inquietos -

Há corações indefinidos
a palpitar em muitos peitos
sonhos sem esperança, perdidos,
agonizando em tantos leitos!

Vontades separadas de si
mesmas, à deriva sem amor,
incapazes aqui ou ali
de ver o mundo além-da-dor!

Estou suspenso! Estou incrédulo!
Incapaz de entender o mundo
ou a tristeza deste século
que nos abraça moribundo ...

E passam dias caiados
pelo medo! Casas sem tectos
cheias de sonhos arrasados
por tantos corações inquietos.

Há em mim -

Há em mim
paladinos abismos calados
de que temo falar ...

Há em mim
a vontade de ser que nunca fui
mas que pulsa no destino ...

Há em mim
uma sequência de infinito
sem lei nem preconceito ...

Há em mim
brisas de rosas fechadas
tingidas p'lo Luar ...

Há em mim
um não sei quê d'ilusão
que me veste de silêncio ...

Dai-me um pouco de Sol -

Dai-me um pouco de Sol
dai-me um pouco de vida
porque ai das Vidas sem Sol
ai das vidas sem Vida!

Porque ai dos olhos sem luz
ai dos rostos sem sorriso
ai do Calvário sem Jesus
que até da morte é preciso!

Ai dos homens que não sonham
ai daqueles que não choram
ai de todos os que ponham
os seus sonhos no que adoram!

Tudo é vago e passageiro
nada Está eternamente
o Destino é derradeiro
ninguém vive para sempre!

⁠Lotes Vazios -

Uma mão cheia de nada é o que
trago entre os dedos ...
Silêncio, vazio e solidão,
o que de mais inteiro e profundo
habita cada homem!
É um quase sonho de chegar a
qualquer parte, uma quase-vontade,
um quase ser capaz de pronunciar
o teu nome!
Talvez seja egoista este querer estar
sozinho,
este renegar querendo-te,
este pensar sentindo-te
este amar distante ...
Que estranha forma de sentir
tão cheia de poeira e loucura.
A minha Alma está cheia de Lotes Vazios!
Uma mão cheia de nada ...

⁠ Uma Vida sem mim -

Já te habituaste a uma vida sem mim ...
Tem ao menos a coragem de assumir
que não tivemos principio nem fim
na história deste livro por abrir!

Na verdade não pensaste em nós dois
naquilo que podiamos viver;
tudo oque fomos ficou para depois
e até nós dois ficámos sem saber ...

Nada resta do dia em que te vi
mais brilhante que o Sol do amanhecer
quando o meu coração bateu por ti.

Quando a minha Alma pensou saber
que eras toda a minha vida e senti
que era a ti que me haveria de prender ...

⁠Ecos Silenciosos -
(Sonho)

Ontem, na madrugada dos meus dias,
cheia de choro e neblina,
sombras passearam-se por entre os
meus sentidos ...
Não me lembro o que queriam,
apenas as senti, rodearam-me na cama,
tocaram-me no corpo ...
Quem eram? De onde vinham?
Que angústia, que lamento, que dor as
trespassava?! ...
E havia um véu, uma espécie de cortina
entre nós! Como se de duas realidades se
tratasse!
Tive medo! Não sabia o que pensar ...
... seti-lhes as penas.
Ofegante, despertei, tinha o olhar vidrado
nas vozes daqueles Ecos Silenciosos ...

⁠A Treva Obscura e Densa -

A minha Alma ignota e agreste, sempre triste,
incapaz de procurar felicidade e alegria
nas demandas que vive, em que persiste,
deleita-se nos versos e na poesia ...

Traz consigo a treva obscura e densa
a profundeza da dor que se perpetua
eterna, prolongada, palpitante, extensa
e a vida que à sua volta continua ...

Eu sou angustia, desalento e mágoa
sou um espelho sem reflexo em parede fria
sou o rio por onde já não passa a água ...

Já não tenho uma familia de pertença!
E porque sou ignorado dia-a-dia
sou silêncio ... sou a treva obscura e densa.

⁠O que a Morte pode tocar -

Que terrivel é amar aquilo que a morte pode tocar ...
Porque a morte chega cedo e cedo é sempre,
a vida, longa ou breve é curta, finda o ar,
quem sofre, sofre sem parar a dor que sente.

P'ra quem fica resta a pedra de uma lousa
p'ra quem parte é arremedo de um principio
e um silencio vago; infinito pousa
sobre o corpo de quem fica amargurado e frio.

Nao chorem nunca sobre os figados da morte
porque somos parte das suas entranhas
na bussola da vida com destino a Norte.

Mas havemos de chegar a algum lugar
porque tarde ou não ninguém foge às suas manhas ...
Que terrivel é amar aquilo que a morte pode tocar!

⁠O que a Morte não pode tocar -

Grato estou por ter amado o que a morte pode tocar!
Grato à Vida, grato ao tempo e ao Destino
por me ter posto ao lado gente que por amar
tornou mais belo, mais inteiro o meu caminho.

Amo os mortos e os mortos dos meus mortos ...
Para sempre! Guardo-os na memória! Estão em mim ...
Eles foram tanto! Não apenas corpos
agora abandonados subjugados a um fim.

Eu amo a vida que ainda habita os mortos
a que está além da forma incapaz de ver
que aqueles que eu amei habitam noutros Portos.

Navegam noutros barcos no cimo de outro mar ...
Todos estão em mim e na certeza de me saber
grato por sentir que isto a morte não pode tocar.