Coleção pessoal de Nanevs

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Os meus pés de frutas


Lembro da minha casa de varanda
lá pelas terras do Conforto,
onde eu brincava na rua
e minha maior preocupação
era me livrar das "correadas"
(que naquela época eram permitidas),
que minha mãe, por certo me daria
depois de mais uma traquinagem.

Era uma casa bem grande e com quintal,
onde um pé de manga e um abacateiro
também faziam morada. Mas a goiabeira...
essa morava no quintal da vizinha
e me obrigava a "trepar" no muro
para roubá-las.

Um dia...
depois de ler "O meu pé de laranja lima",
quis ser seu protagonista (amei a ideia dele)
e amarrei uma cobra(de brinquedo) no cordão.
Me julgava mais esperta que o Zezé,
só não sabia que minha mãe também o era.
Os vergões das lambadas (e não era a dança)
ornamentaram meus "gravetos" e meu bumbum
por um bom e dolorido tempo.

São tempos idos e encantadores
que de vez em quando me puxam pro passado
e me levam de volta para a minha casa de varanda
lá pelas terras do Conforto...

(Nane-09/12/2014)

Placar final

É hora de voltar
Respirar fundo e voltar
É hora de mandar às favas
Todos os percalços
E construir com as pedras...um abrigo

Chorei todas as lágrimas
Senti todas as dores
Que ainda estão em mim
Mas é hora de voltar
E lutar...

Vencer ou perder faz parte do jogo
Que Deus escala e escolhe
Partir pro ataque é o que resta
Enquanto a partida durar
É preciso fazer gol

É hora de voltar
E esperar com paciência
O apito final
Desse jogo involuntário
Sem vencedor (ou perdedor)

(Nane-09/12/2014)

Stand by

Amor, estou aqui
Aguardando você voltar
Porque sei que vai voltar
Quando cansar de brincar de amar

É meu o seu amor
Ainda que você não saiba
Estou de prontidão
Na minha solidão

Vá sim, viver seus amores
Divirta-se a valer
E quando voltar
Aninhe-se em meus braços

Sou eu quem te espera
Por toda a vida
Não tenha pressa de chegar
Eu vou te esperar

Até mesmo por não ter outra opção
Sou seu stand by
Um dia você vai perceber e entender
Que só eu eu amo você

Então, finalmente virá
E eu torcerei como nunca
Para que nesse dia
Você possa...me encontrar

(Nane-09/12/2014)

Medos

Meus medos afloram
Quando mais me sinto forte
Vasculham minhas gavetas
Em busca da minha fragilidade

Busco na luz de meus parâmetros
A identidade da coragem
Que sou forçada a ter
Para sobreviver

A escuridão se faz
Em pleno sol do dia
Mas a lanterna do destino
Clareia meu caminho

Finjo não sentí-los (os medos)
Enquanto eles teimam em me assombrar
É preciso ignorá-los
Cubro a cabeça...

Mas a noite escura e quente
Me faz sentir calafrios
Tento respirar bem devagar
Para eles (os medos) não me encontrarem

Meus medos afloram
Quando mais preciso ser forte
Eu finjo...finjo...finjo
E sobrevivo

(Nane-08/12/2014)

A força do destino


O amor se faz presente
E pressente a eternidade
Torna-se imortal
Apenas por ter existido

Mora no infinito
De um coração finito
Que bate numa alma eterna
Predestinada a ele (o amor)

O sem final feliz
Pouco importa para o amor
Que conviveu com a felicidade suprema
No instante em que aconteceu

E essa ficou gravada
Na memória do universo
Dos seres que se amaram
E por força do destino...se separaram

(Nane-08/12/2014)

Fardo



Meu corpo arde desejoso
Sente a falta do seu
Vê passar o tempo incólume
Na pele enrugada e sem brilho
Nos contornos perdidos
Na mente ficando demente...

Que imagina seu corpo enrijecido
Tocado por outras mãos
Enquanto as do meu corpo tremem
Não de prazer
Mas pelo tempo incólume
Que me leva embora

A máscara que se desenha em minha face
É a do tempo passando tão rápido
Ornamentada pelas rugas sulcadas
E a púrpura nos olhos cansados
Até do próprio carnaval
E de todas as minhas fantasias

Meu corpo admite (e sente) a velhice
E recorda o seu juvenil
Espera sem pressa a hora
De libertar-se desse peso
Que obriga minha alma pesada
A carregar esse fardo

(Nane-08/12/2014)

Lendas e mistérios

Lendas e mistérios
Cercam o real
Onde começa ou acaba
Ninguém sabe dizer

Lendas e mistérios
Envoltos no cotidiano
Do louco e do lógico
Sem diferenciar

Lendas e mistérios
Confundindo ideais
Sensatos e insanos
Tênues divisores

Lendas e mistérios
Refletindo reflexos
De verdades e mentiras
Num espelho particular

Lendas e mistérios
Do que foi ou do que será
O certo e o errado
Ninguém jamais saberá

(Nane-06/12/2014)

Na espera

Amor, presta atenção
Passe o tempo que passar
Escuta o que vou te falar
Você está em mim
Assim como eu em você

Se hoje
Meus sonhos são pesadelos
Pela tua ausência
Foram em outros tempos
A paz que embalou
Meu sono de Morfeu


O sim e o não
Junto ao preto e o branco
Incerto e ambíguo
Sou eu e você
Perdidos e encontrados
Num só delírio

Mais meu do que seu
E embora te sinta
Não posso prender
Voa sem nenhum limite
Pelo espaço e pelo tempo
Até cansar

Meu tempo é teu tempo
Enquanto eu puder
E vou te esperar
Até que queira voltar
Se por acaso não vier
Eu vou te aguardar
Num outro lugar...

(Nane-05/12/2014)

Lizandra

Me encantou o olhar matreiro de Lizandra
Encarando o meu de soslaio
Aguardando com paciência eu me afastar...

Seu corpo magro dentro do vestido
Deixava a mostra dois "gravetos"
Ainda sem curva nenhuma...

O cabelo, visivelmente embaraçado
Escorria-lhe pelos ombros pontudos
Escondendo seu sorriso malicioso

Entrei em casa e por detrás da cortina
Vi quando ela, feito um relâmpago
Subiu com maestria na mangueira (em meu quintal)

Não mais de dez minutos
Foi o que lhe bastou
Para encher de mangas a sacola

Desceu num salto de saltimbanco
E olhou sorrateira a sua volta
Procurando por alguém

Saí "brava" de casa e gritei:
-Peste! Espera que te pego
Ela sorrindo, desandou em correria

Me encantou a ousadia de lizandra
Roubando minhas mangas doces
Como as que eu roubava na infância

(Nane-04/12/2014)

Bárbara Iansã


Rainha dos ventos
Bárbara Iansã
Senhora dos bordados
De ouro ao entardecer

Enfeita o crepúsculo
Saúda o anoitecer
Hipnotiza os homens
Com seu olhar de poder

Impossível não há
Para a bela Oyá
Herdeira guerreira
De tantos amores

Ogum
Seu eterno apaixonado
Xangô
Seu verdadeiro amor

Rainha dos ventos
Bárbara Iansã
Sopra em mim
Sua brisa suave

Eparrei!!!

(Nane-04/12/2014)

O parto

As minhas entranhas dilaceradas
Doem a dor santa das mães
Que geram um filho natimorto
Sem nunca beijar-lhe a face

Meus dedos deslizam por sua pele
Fria e sem nenhuma cor
Revivo cada instante da gestação
Realizando (na imaginação) a festa do nascimento (que não houve)

Seu corpo já não cheira bem
Reluto em sepultá-lo
É meu filho embolorado
Não saiu dos meus guardados

Talvez um dia (quando eu não mais existir)
Alguém entenda a dor do parto
E permita que o meu filho
Editado e revisado
Seja publicado...

(Nane-03/12/2014)

Jogo de xadrez

Queria calar
Mas a poesia é intrometida
Feito um tabuleiro de xadrez
Remexe meus neurônios
Me dá um xeque mate
E solta o palavriado
Involuntário e sem cabresto

Sou poeta vencido
Sem muita inspiração
Deixei no passado meus lampejos
E a tristeza se fez de minha musa
Enquanto a fumaça do cigarro
Desenha formas deformadas
Na mesa do meu jogo

Ponho em xeque a poesia
Rei e rainha perdidos
Queria me calar
Mas a poesia é intrometida
Me da um xeque-mate
Me obriga a rabiscar
E cuspir palavras que eu não sei dizer

(Nane-03/12/2014)

Entre verdades e mentiras

Tu me dissestes que foram mentiras as minhas verdades
E eu, no entanto, julguei serem verdades as tuas mentiras
Nos iludimos e nos deixamos envolver
Por mentiras e verdades criadas por nós mesmos
Aconteceu o previsível, o desgaste da quimera
O enredo perdeu todos os sentidos
Entre as verdades e as mentiras
Valeu demais o nosso tempo
Ninguém mais vai poder preencher o teu espaço
Talvez eu até consiga serenar toda essa dor
E refazer a vida com a tua doce lembrança em mim
Mas...nada vai poder tirar você de mim
Te saber feliz agora é o que importa
Ainda que me custe a própria felicidade
Deixa ficar comigo os momentos em que fomos
Unha e carne, carne e unha
Guardei teu timbre, tua voz e teus carinhos
Que irão comigo por onde eu for
Só não confunda mais minhas verdades
Posto que elas nunca foram mentiras
E tão pouco me diga mais tuas mentiras
Disfarçadas de verdades

(Nane-02/12/2014)

Asas cortadas

Entendo hoje, mais do que nunca
O olhar vazio de minha mãe
Enxergando no passado
O que poderia ter sido
Se por outros caminhos
Tivesse decidido...

Dogmas e retidão
Presilhas disfarçadas
De encantos e joalherias
Quando uma só escolha
Decide uma vida inteira
Deixando consequências
Em outras vidas inocentes...

Voar sem um destino
Sonha o pássaro cantor
Preso na gaiola...

Temeu voar quando podia
Agora se faz tarde seu querer
Restou-lhe o olhar vazio...

(Nane-02/12/2014)

Do concreto abstrato

Uma saudade tão abstrata
Que de tão absurda
Tornou-se concreta
E cimentou em meu peito
A dor da separação

Agora sopra a brisa vespertina
Balançando as roupas no varal
Que esperam para serem tiradas
Enquanto sopra os pensamentos
Na direção do desconhecido

Logo o manto da noite cobrirá
O dia que se finda
As lembranças se misturam
Fazendo a argamassa da saudade
Pesar concreta e sem descanso

A brisa é tão branda
Não consegue levar embora
A dor dessa saudade
Que teima em ser absurda
E ficar...

(Nane-01/12/2014)

Novembro negro

E lá se vai novembro...
Levando consigo
Tantas lembranças
Tantas palavras
Tantos abraços
Tantas esperanças
Tantos carinhos

E lá se vai novembro...
Levando consigo
Dentre tantas pessoas
Uma tão imensa
Num corpo pequeno
Que de "Baixinha"
Eu chamei


E la se vai novembro...
Deixando a saudade
E um legado
De áureos tempos
Onde tanta gente
Aprendeu na convivência
A ser solidário

E lá se foi novembro...
Na certeza de uma volta
Que não sei quem vai estar
Na despedida do outubro
Vindouro e esperançoso
De um novo tempo
Certo que chegará

Que venha dezembro...

(Nane-30/11/2014)

O velho Chico

O velho Chico
Observa da varanda
Patos e galinhas
Correndo em seu quintal
Sem se preocupar
Com o tempo a passar

Seu olhar vagueia sem fixar
Em ponto algum
Ou fixado num outro lugar
Que mais ninguém pode enxergar
Além do velho Chico
Sentado na varanda

O velho Chico
Nem tão velho assim
Se deixando envelhecer
Da tristeza que a alma
Insiste em demonstrar
No seu olhar

O mato cresce em volta
Mas ele parece não perceber
Continua olhando da varanda
Como se esperasse por alguém
Que não vai mais chegar
Para alegrar o seu olhar

(Nane-28/11/2014)

A cigana

Uma cigana leu a minha mão
Não me falou do futuro
Não se ligou ao meu presente
Mas descortinou o meu passado

Botou "caraminholas" em minha cabeça
E sumiu na imensidão dos continentes
Pra onde foi...
Ninguém sabe, ninguém viu

Perdeu-se na poeira da estrada
Dançando nos palcos do mundo
Levando a magia das tendas
E lendo os mistérios de outras mãos

Corre um alazão nas pradarias
Feito um vento selvagem
Encantando e desafiando
Transeuntes absortos

Na estrada agora silenciosa
Restou lembranças da cigana
Que leu na minha mão
O castigo da solidão...

(Nane-28/11/2014)

Marés

Toda a onda que vem do mar
Me leva sem que eu possa remar
Apenas me entrego, me solto
E aguardo submissa onde vou parar

A maré cheia me seduz
Convidando ao desconhecido
A maré baixa me leva de encontro
Ao porto seguro

A brisa marinha me embriaga
A noite fria me arrepia
Perdida entre duas vertentes
Caminho sem direção

Logo o sol sairá
Bem lá de dentro do mar
Rompendo a aurora virginal
De mais um dia normal

O porre terá passado
O sono chegado
Eu, de novo venci o mar
Vou pra casa...me deitar

(Nane- 28/11/2014)

sedução

Valeu a pena tudo isso?
Numa noite clara de calor
Em que a lua sinalizava as estrelas
No tapete da areia úmida,
Perguntei enquanto caminhava...

A escuridão na imensidão
Feito um manto do horizonte
Salpicado de pontos brilhantes
Parecia responder ironizando
E chamando à um mergulho...

Pyrilampos sedutores,
Canções perturbardoras,
O infinito desnudo
Convidando ao encontro
Da poesia fatal...

Talvez Iemanjá,
Num momento de TPM
Causou um maremoto,
Me embriagou
E cantou pra mim...

Meus tímpanos vibraram.
Meus instintos vacilaram.
Não sou pescador...
Minha rede é de deitar
E ao mar...apenas escutar...

(Nane-28/11/2014)