Coleção pessoal de EduardoChiarini

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⁠Raízes
Estreitam laços, laços estreitos
com as linhas do carinho, um choro,
entre nossos sentimentos, em coro,
no peito, antigos tristes lamentos.
Um choro enfeito, como confeito,
depois, o choro desfeito, perfeito,
que choramos sozinhos, conosco,
da saudade que tínhamos do chão fosco.

Inverno eterno

Se me falta seu suave carinho,
terno como a rosa sem espinho,
me torno decerto incompleto,
e de angústia e solidão repleto.

Nestes tristes momentos etéreos
de solitários sentimentos férreos,
a mim infrinjo estranhos sofrimentos,
quais indiferentes rigorosos invernos.

Como se as estações de todos os anos,
em uma única estação de tristes enganos,
repetisse indefinidamente a solidão.

Não há céu, não há chão, tua mão...
teus carinhos que se vão, ficam somente,
saudades perdidas nesta emoção.

A procura.

Ela procurava algo que não havia,
e talvez por isto sofria,
intencionava descobrir o que não existia,
e na sua imaginação se perdia.

Na busca alucinada que desanimava,
a cada luminosa manhã,
onde nenhuma palavra consolava,
desorientada e persistente procura vã. ⁠

⁠Pinturas.

Hoje, no céu, as nuvens formaram,
como se tivessem combinado,
um meio arco em volta ao sol dourado.

Nuvens tintas de tons de cinza,
em um lindo céu de azul claro,
esculpido no ar por um artista raro.

Ao longe, desfez-se, fora do meu olhar,
em linhas finas de ouro e prata,
como se não fosse certa a hora e a data.

Esperei por horas novas pinturas,
a serem feitas pelas nuvens em tinturas,
mas, teimosas ou cansadas, não fizeram nada.

Na carreira.

Corredeira,
cordilheira
brincadeira
que besteira!
Suadeira,
corre e corre,
espanta e morre.
De repente,
num repente,
dançando forró ou baião
polícia, não!
Confusão,
por ai não!
O padre grita,
para o ladrão,
ô mulher aflita, ô bendita,
o filho foge,
pega o ladrão, armação,
foi cachaça, não foi não.
Café com pão.

Na minha solidão.

Preso na solidão de mim mesmo,
e definitivamente perdido,
continuo andando e tateio a esmo,
total e completamente incompreendido.

Será que era preciso, ter ido por estes atalhos,
pergunto-me tal qual um paspalho,
chego à conclusão que não, não era...
não era preciso nem necessário.

⁠A propriedade.
Não, não nos pertence nosso maior bem,
a vida... a nossa vida; é de quem?
Então intuo não existir propriedade
em um sentimento de verdade.
Penso, e de mim suspeito,
que algumas dores que levamos no peito,
não passam de indizíveis vaidades,
das entregas feitas sem sinceridade.

Um pedaço de amor.

Ah, doce pequenina desta sina
de encontrar amor, ah, menina,
o verdadeiro, o que não se excede,
e que, soberano, não se impõe,
a ele nada perguntes, nem lhe peças,
talvez não queira trocas, nem promessas.

Bastará ficar em silêncio ao seu lado,
olhando-te, admirando, com cuidado,
seus olhos lhe serão profundas vistas,
seu corpo um santuário de prazer,
não haverá disputas, nem errado,
nos delírios e loucuras do querer.

⁠Soneto bandoleiro.
Muito se tem dito,
pouco se tem feito,
e o tido como perfeito,
é, desastrosamente, desfeito.
Muito se tem falado,
pouco se tem agido,
e o que era tido como certo,
hoje se esgueira; na sombra escondido.
Seria da natureza do homem,
tamanha afronta que nem se dá conta
de seus semelhantes esfomeados que somem.
Os infortunados banidos, bandidos,
como se fossem bandoleiros,
porque acabou o dinheiro?

Encanto

Hoje quem canta
como ama, encanta,
na suave melodia,
ou no arfar do cansaço, da íngreme
subida da escadaria,
não importa! É poesia.
Acalanto para um coração
que se afasta da solidão,
e, traz a emoção, na beleza da canção.
Leva as mágoas para o relento,
aquelas que partiram
em pedaços, estilhaços,
tornando-o dividido e ferido,
ressentimentos de quem partiu
em um momento, e
sem se dar conta, encontrou-se,
com seu próprio sentimento.

Ilusão
Tenho coisas importantes coisas a dizer,
E eu aqui, sem saber, como e o que escrever.
Como colocar em um papel, irreal e astuto,
Fruto da imaginação, esta visão em um eterno Carrossel. Pensamentos, em roda de pião,
Como se fosse a nódoa , que incomoda,
As lavadeiras antigas na beira do ribeirão.
Roda e não chega em nada, como se
Devesse estar apenas parada, como se fosse
Apenas Mais uma ilusão.

⁠Mundanos.
Mundanos, insanos, profanos,
entre pedaços de pano,
dos palhaços moralistas, artistas,
com suas listas, de como ser humano.
Errantes, distantes, amantes,
não perdem um instante,
entre o amor e o sexo,
qual o nexo, complexo, estético?
Então, cá para nós, estamos próximos e sós.

⁠Na Estação.
Na estação não
havia senão o chão,
poeira de anos,
acumulados desenganos.
Intrigado percebi abismado
minha viagem adiada,
o trem de ferro, tornou-se
composição.
Aliviada a jornada
de forma indelicada,
solitária e desorganizada,
em uma outra conotação,
para continuarmos então.
Na ferrovia da imensidão,
os trilhos, filhos,
e a bagagem na mão.
Poderá alguém afirmar
onde é que esta estrada irá?
Certamente que sim.
A estrada está apenas lá,
o viajante decide onde ficar
ficaremos enfim,
vendo poeira e estrelas, beijos
da estrada sem fim.

⁠Lobo.
Um poema, uma poesia,
poderia sim ter valia,
na triste e difícil caminhada da vida.
Lembro-me que quando adolescente
cantava Vandré contente,
enquanto andava na beira da estrada.
Esperando a carona que talvez aparecesse
naquela hora tardia,
ou talvez, apenas um lobo, um lobisomem
que não existia nos devoraria.

Soleira

Do dia, na soleira,
deixo minha algibeira.
Pouco peso,
recomendação dos poetas, profetas.
Carrego poesias indefesas,
um pouco de vento e estrelas,.
Sorrisos de crianças, doces lembranças,
de sábios, loucos mambembe,
deixaram por ali e acolá,
e, que hoje vivo a procurar.

Partidas sentidas.

Presença de pura alegria,
da noite para o dia,
tornou inexistente aqueles dias.
Ausência, fingida indiferença.
Doí-me profundamente,
a sua partida inadiável, inexplicável,
indo por aquela porta, e nada falei.
Hoje, choro lágrimas silenciosas,
escondidas em mim, dores sem fim.

Simples melodia

Cada dia é mais um dia,
que penso na melodia,
que, se poeta fosse, cantaria,
na pura forma da poesia.
Mas onde foi a alegria,
Pergunto à revelia?
Seria mais simples,
se mais simples fossemos,
e não nos esforçassemos
em lutas e guerras de foice,
e poemas de sangue à noite.

⁠ Existencialismo

Às vezes ocorre assim como um vento,
questões do ser na essência,
as antigas e ainda não esclarecidas
questões sobre a existência.
Existimos por sermos matéria e alma?
Somos por sermos evolução animal?
A alma traz consigo conhecimento imortal,
enquanto o ser matéria, desejos e ensejos,
tristezas e alegrias não transcendentais.
E desse jeito, afinal, no final,
refletimos uma imagem estagnada,
olhando para o céu sem entender nada.

O Abraço.

O homem sério, compenetrado, negócios...
A mulher executiva, ativa, falante, elegante
Todos em desespero!
A bolsa caindo, fechando, falindo....
Ao longe adolescentes cantando e rindo...
O desespero de mais um dia
De tédio, que remédio?
Aquele que pensava em mudar o dia.
Aquele que na primeira hora já partia, apressado, suado...
Cansado.
A todos aqueles que não cumprimentei
Falhei...
Devia tê-los cumprimentado com um abraço
Um sorriso, talvez feliz...
Simples bom dia, que pareceria inusitado;
Ao desconhecido, coitado!
Tomado de surpresa, por gesto raro de beleza, educação;
Rolando na ribanceira de sisuda solidão;
Desta quinta-feira, sem eira nem beira;
À espera de uma solução.

A Competência e a Felicidade.

A competência é um termo jurídico
Compreensivelmente, me perdoando, não sabia
E, agora, mesmo sabendo, que somente por extensão
Dá-se à competência alguma razão.

No sentido de conhecer e de saber;
Homenageio neste pobre escrito,
De um mero aprendiz da vida
Uma competência iluminada...

Já a felicidade é um conceito inútil
Pois, segundo, o filósofo Schopenhauer,
Por maior esforço não é alcançada
Mas, por outro lado, é, inutilmente, tentada

Ninguém é obrigado com este filósofo
Da felicidade inútil, entender-se, por concordar
Em seu pensamento, a falta de tormento
É a paz interior, o objetivo a alcançar

Homenageio, pois, quem com competência, e;
Felicidade, por extensão, sem maldade,
Atingiu gloriosa homenagem
Em sua vida de serena humildade. Eduardo Chiarini/2020