Coleção pessoal de AlvaroAzevedo

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Lento sobre o curto estigma do tempo
Ao avulso e suave toque do momento
Trazendo consigo a saudade ao relento
É o versar da alma sobre o vento
Sopro entreaberto das pirâmides e segmentos
Erosão de um solo esquecido sem tratamento
Autópsia de um corpo seco sem sofrimento
Esse é o caminhar da brisa no tempo

O primeiro passo para torná-mo-nos
animais irracionais, é utilizar de nossa racionalidade para agir como eles.

Morrer, é cair eternamente por entre o pensamento daqueles que o lamentam.
Até de fato, alcançar imensidão. Onde sequer conseguem ver, e nem mais quer-se ver
No fim, resta somente o tempo e seu passado momento.
Perdendo para a infinidade do presente, a espera de um futuro ausente.

Shakespeare, em sua obra "hamlet"
perguntou-se em primeira instância:
“Ser, ou não ser? Eis a questão…” Diria então a Shakespeare, que prefiro não ser!
Prefiro apenas estar!
E nesse estado, me fazer independe do sentido.
Logo, não serei...
Não tomarei para mim as dores que assolam o sentido!
Estarei ao meu ver, covarde de ser!
Porém, estarei intrinsecamente humano...
E essa vã escolha, se transformará apenas numa Ilusão futura, do estado que virá...

Por que ter medo da sombra? Se nela não se vê nada?
Deveria-se ter medo da luz, que permite ver, e faz ser visto.

Somos todos poetas.
No entanto, nem todos os poetas são poesias.
Nem todos fingem dor em demasia,
para alcançar a alma e trazer calmaria.
Alguns se vão na dor, outros no clamor, refletem o verso em agonia.
Sua própria vida, seu refúgio, sua alforria.
Que nas palavras encontra a passagem para a utopia.

Fruta ingrata


Da gruta a rima enxuta
Rima a luta, com a fruta
E cai do pé, e leva multa
Ao lutar de forma bruta
Com o galho que a degluta
Mais se exalta que reluta
Vide o solo que a permuta
Não aceita e agora chuta
O mesmo tronco que a debuta.
É ingrata a pobre fruta
Já caiu e levou multa
Mas não perde uma luta
Vai de encontro a sua conduta.

Filosofar, nada mais é, do que o pensar além do sentido, delirar em pleno juízo, se afogar em seco motivo.

Tanto se fala de amor, e tanto eu penso sobre tal
Para mim “o amor” não é um sentimento, é o ápice sentimental.
Um choque de todas as sensações, num ciclo acidental
Juntando-se umas às outras, em busca de um equilíbrio vital.

Todo ser humano, sem exceção, têm o mau hábito de alienar-se ao menos uma vez na vida.

A mente só é uma prisão, no cogitar de que se prende.
Pois não há trancas, nem chaves.
Há somente o homem, que se confinou por medo de não se libertar.
Confinamento esse, inexistente,
pois sempre esteve livre…
Nada passa de uma armadilha de si próprio, para consigo mesmo.
Crendo piamente no quilate de suas correntes.

Uma vez disseram que nada dura para sempre... É de se entristecer...
Queria ter a minha frente, que disse isso, é falar-lhe:
"O momento pode não durar para sempre, mas o que esse momento foi, continuará tendo sido, eternamente.
Assim como as partes de um inteiro, mesmo que retiradas do meio, um dia o tornaram completo…"

Pouco amor resta no mundo.
Mas muita dor rege o peito de cada um, a cada segundo.
Tristes são aqueles falsos risonhos.
Sorriem com o sorriso do ter, mas não sentem o sentido de sorrir, em se perder…

Laranjeira


Havia, abaixo do largo monte, acima de uma videira,
Numa relva de cores vibrantes,
As calhas de uma laranjeira.

Plantada em solo distante,
Longe das terras alcoviteiras.
Perto dos mares triunfantes,
Ao lado de tumbas traiçoeiras.

Sublime, porém errante,
Moldada em raízes rasteiras.
Contada em romances Cervantes,
Como raspa de brisa em bandeira.

Por hora o desencanto a saboreia,
Tomando-na em risos deflagrantes.
Zombando o término de sua candeia
Mas inesquecível será, o tal acre sabor, dessa laranjeira...

Dor de alma


Ausência pouca, camarada!
Por que a mim traria dor,
O que mais vejo na estrada?

Por que com olhos de terror,
Enfrentaria essa jornada?
Se com os mesmos olhos o amor,
Cavalga a mim, na alvorada?

Por que perder-me do favor,
De mais um dia em caminhada?
Culpando o tempo sofredor,
Nas demasias desgastadas?

Por mais que eu sofra em temor
O Temor de mim, não leva nada!
Senão o próprio precursor,
O medo, o sofrer; a dor passada...

Enigma


Em vestes póstumas, se foi a razão;
Levou o espelho, deixando o reflexo;
Da imagem nociva, um ponto convexo;
De curvas varridas, transcritas a mão.

Em marcas de ferro, a fogo na folha;
Na tábula rasa, o contraste, a escolha;
De dias nascidos, ao perdido momento;
E noites passadas, sob o sofrimento.

Agora na falta, o caminho é distante;
Paralelo a maldade a inata verdade;
Escondida nas sombras de um meliante.

Se faz insolúvel, a passos de vaidade;
O tal enigma, em mudança constante;
A espera da luz, no reflexo da lealdade.

Rosa dos ventos


Aos quatro cardeais, trago-lhes as boas novas
Nos ventos do cerrado, à Nordeste,
Veio a última rosa.

Trouxe consigo, mais duas pétalas honrosas
Essências perdidas no momento...
Porém, no cálice do tempo, puseram-se a prova!

Enfim, aos dezesseis sentidos, o enigma aflora
Na essência das capitais, caídas sobre o ferro vibrante

O intrínseco silêncio do recomeço, sobre o fim, toma o agora
E a invalidez das últimas rosas, dá lugar a suavidade do momento
A nova flora.

Lembrança póstuma


Para não dizer que o mundo perdeu-se de seus amores
Para não desver as flores, ao longo do tempo, com opaco das cores.

Para não fazer-se carrasco, aos nobres olhos dos doutores
Para sempre levares como epifania, a parábola dos sofredores

Para assim, carregar na penumbra, a claridade dos autores
E enfim, fazer-se-a, a vontade dos seus senhores…

Funções

Navegantes estagnados,
em movimento constante
Uniformemente variados,
em pontos equidistantes

Inconscientemente posicionadas,
as aspas em seus semblantes
Intrinsecamente caracterizados, pela ambiguidade incessante

Indefinidas as preposições,
em proporções edificantes
Visíveis desilusões, para o
invisível das sensações! Sentimentos ludibriantes...

Sonho com um pensamento
Que pense por mim
Que me prenda em seu tempo.

E nesse confinamento
Me traga a certeza do sentido
No algoritmo do momento.

Que me carregue nos braços
Sobre o leito do sofrimento
Aprisionado aos seus enlaços.

Que me mostre o seguimento
Pelas calhas do compasso
Até o fim desse desalento.

Sonho em pensar nesse sentido,
Sem sentimento...