Pensamentos de Clarice Lispector
Com perdão da palavra, sou um mistério para mim.
(A descoberta do mundo)
Ouve-me, ouve o meu silêncio. O que falo nunca é o que falo e sim outra coisa. Capta essa outra coisa de que na verdade falo porque eu mesma não posso.
(Água viva)
Acho que devemos fazer coisa proibida – senão sufocamos. Mas sem sentimento de culpa e sim como
aviso de que somos livres.
Tenho que ter paciência para não me perder dentro de mim: vivo me perdendo de vista. Preciso de paciência porque sou vários caminhos, inclusive o fatal beco sem saída.
Mas não sou completa, não. Completa lembra realizada. Realizada é acabada.
Suponho que me entender não é uma questão de inteligência e sim de sentir, de entrar em contato...
Ou toca, ou não toca.
Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento.
Sou as minhas atitudes, os meus sentimentos, as minhas ideias...
O que realmente faz valer a pena estar vivo, não há filmadora ou máquina fotográfica que registre...
Surpresas, gargalhadas, lágrimas, enfim, o que eu sinto, quem eu sou, você só vai perceber quando olhar nos meus olhos, ou melhor, além deles...
Ela acreditava em anjo e, porque acreditava, eles existiam.
Nota: Trecho ligeiramente adaptado do original.
...MaisAmar os outros é a única salvação individual que conheço: ninguém estará perdido se der amor e às vezes receber amor em troca.
Que medo alegre, o de te esperar.
Corro perigo
Como toda pessoa que vive
E a única coisa que me espera
É exatamente o inesperado
Suponho que me entender não é uma questão de inteligência, e sim de sentir...
Nota: Trecho de entrevista dada por Clarice Lispector a Júlio Lerner em 1977. Link
Aceitar-me plenamente? É uma violentação de minha vida. Cada mudança, cada projeto novo causa espanto: meu coração está espantado. É por isso que toda minha palavra tem um coração onde circula sangue.
Estou tão assustada que só poderei aceitar que me perdi se imaginar que alguém me está dando a mão
Eu escrevo sem esperança de que o que eu escrevo altere qualquer coisa. Não altera em nada... Porque no fundo a gente não está querendo alterar as coisas. A gente está querendo desabrochar de um modo ou de outro...
Amar não acaba. É como se o mundo estivesse à minha espera. E eu vou ao encontro do que me espera.
Dar a mão a alguém sempre foi o que esperei da alegria.
Eu vivo à espera de inspiração com uma avidez que não dá descanso. (...) Cheguei mesmo à conclusão de que escrever é a coisa que mais desejo no mundo, mesmo mais que amor.
Ali estava eu, a menina esperta demais, e eis que tudo o que em mim não prestava servia a Deus e aos homens. Tudo o que em mim não prestava era o meu tesouro.
Eu me permito mais liberdade e mais experiências.
E aceito o acaso.
Anseio pelo que ainda não experimentei.
Maior espaço psíquico.
Estou felizmente mais doida.