Frases de Rubem Alves
A saudade é flor que só floresce na ausência. É nela que se dizem as orações suplicando dos deuses a graça da repetição da beleza. E é só para isso que existem os deuses: para garantir o retorno do belo".
(Do Universo à Jabuticaba - [3 ed] Planteta, São Paulo, 2015).
Quanto maior a beleza, maior também a tristeza. A beleza em solidão é sempre triste. Beleza solitária dá vontade de chorar. Para ser boa, a beleza exige, pelo menos, dois pares de olhos tranquilos se olhando, dois pares de mãos amigas brincando, e bocas de voz mansa sussurrando.
O ser humano se vê em um
mundo que não lhe pertence e, para tentar escapar deste, cria para si um outro, em que o "princípio
de prazer" se sobrepõe ao "princípio de realidade".
Os universos simbólicos, a religião, a história são expressões do esforço
humano no sentido de tornar a natureza, o tempo e o espaço em função de si
mesmo. Esforço titânico para antropologizar o universo todo, transformando-o
numa extensão do corpo.
O mundo humano, que é feito com trabalho e amor, é uma página em branco na
sabedoria que nossos corpos herdaram de nossos antepassados.
Nossa tradição filosófica fez seus sérios esforços no sentido de demonstrar que o homem é um ser racional, ser de pensamento. Mas as produções culturais que saem de suas mãos sugerem, ao contrário, que o homem é um ser de desejo. Desejo é sintoma de privação de ausência.
Há propriedades que, para se fazerem sentir e valer dependem exclusivamente
de si mesmas, por exemplo, antes que os homens existissem já brilhavam as
estrelas, o sol aquecia, a chuva caia e as plantas e bichos enchiam o mundo.
A existência da água e do ar, a alternância entre o dia e a noite, a composição do ácido sulfúrico e o ponto de congelamento da água em nada dependem da vontade do homem. Ainda que ele nunca tivesse existido, a natureza estaria aí, passando muito bem, talvez melhor...
Aqueles que duvidam ou propõem novos
sistemas de ideias, ou são loucos ou são ignorantes, ou são iconoclastas irreverentes
Há certas situações em que as palavras deixam de significar, abandonam o mundo
da verdade e da falsidade, e passam a existir ao lado das coisas.
Nascemos fracos e indefesos; incapazes de sobreviver como indivíduos isolados; recebemos da sociedade um nome e
uma identidade; ( ... ) É compreensível que ela seja o Deus que todas as religiões adoram...
Este mundo ignora os elementos espirituais. Salários e preços não são estabelecidos nem pela religião e nem pela ética.
A riqueza se constrói por meio de uma lógica duramente material: a lógica do lucro, que não conhece a compaixão.
"A exigência de que se abandonem as ilusões sobre uma determinada situação, é
a exigência de que se abandone uma situação que necessita de ilusões."
A religião é nada mais que o sol ilusório que gira em torno do homem, na medida em que ele não gira em torno de si mesmo.
Deus é este coração fictício que o desejo inventou, para
tornar o universo humano e amigo. E então a própria morte perdeu o seu caráter
ameaçador. As religiões são, assim, ilusões que tornam a vida mais suave. Narcóticos.
Como diria Marx: o ópio do povo.