Céu de primavera
no jardim dorme a menina.
Qual a flor do sonho?
Ah, a sensualidade...
palmeiras se abraçando
cúmplices do vento.
Broca no bambu
deixa furos de flauta.
O vento faz música.
Sol no girassol.
Sombra desenha outra flor
no corpo dourado.
Varrendo folhas secas
lembrei-me do mar distante:
chuá de ondas chegando.
Janela fechada:
borboleta na vidraça
dá cor ao meu dia.
Solidão de outubro:
folhas varridas no vento
levam meu recado.
Ao sol do verão
o sorvete se derrete.
Namoro desfeito.
Girassol na tarde
se curva em reverência:
o sol se vai.
Folha no rio
vai para o mar sem volta -
chorão se renova.
Cercada de verde
ilha na hera do muro:
uma orquídea branca.
Bem que me agasalho.
Galhos sem folhas lá fora
parecem ter frio.
Nos gestos da mão
baila a brasa do cigarro:
pisca o pirilampo.
Fugiu-me da mão
no vento com folhas secas
a carta esperada.
No céu enfeitado,
papagaio de papel:
também vou no vôo.
Na hora do rush
o cheiro do incenso acalma:
hare-krishnas dançam.
Uma vida é só uma vida
só uma vida é vivida
melhor se for dividida
e tudo mais é só
e tudo mais é
e tudo mais
e tudo
e
vermelho relâmpago
irrompe do capim seco:
a cobra coral.
Grito de agonia:
periquito na jaqueira
preso na resina.
Quase desperdício.
Moscas sobre caquis podres
Só o sapo come.