Coleção pessoal de joao_batista_de_mello_neto

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Valles Marineris

Prometi a marte
Diante de Fobos e Deimos
Com a ajuda de Vênus
Antes que fosse tarde

Da Terra, sinto-lhe distante
Me seduzindo de mercúrio
Tão irritante
Mas eu recuo

Do lado me sufoca
Essa anã branca
A nebulosa do seu corpo
Ainda me é estranha

Plutão continua insistindo
No meu comportamento abusivo
Quero parar de senti-lo
Destruir esse sentimento e reprimi-lo

Antes que fosse tarde
Me esconder desse ataque
Diante de Fobos e Deimos
Com a ajuda de Vênus, prometi amar-te

Céu apático sobre mim
Um vislumbre finito no azul marinho
E com excesso de carinho
Estrelas morrem assim

Céu quebrado sobre mim
Contanto que eu viva
Serei parte de ti
Mesmo que eu perca o que eu tinha

Céu retrátil sobre mim
Não me tire esse privilegio
Você mergulhada em jasmim
Não me reduza a tédio

Céu apático sobre mim, eu lhe peço
Não me julgue como réu
Não pense que eu sou o único culpado
Pois dividimos o mesmo céu

Passe Livre

Sabe bem, tira de mim esse abraço
Sabe bem, tira de mim esse retrato
Sabe bem, tira de mim esse estrato
Sabe bem, engula esse rato

De fato, não é fato
Que meu ódio é moldado
De fato, não é fato
Que seu falso retrato agora já é barato

Entre todos os continentes
Uma mulher ainda não é empoderada
Esse desespero audível
Me deixa desesperado e empoeirado

Essa sua falsidade tem fim?
Vamos tomar um sorvete!
Banhado em vinho
Vinho em rim

Mulher deixa de ser trouxa
E torne-se o mais potente rugido
Não sucumba ao arrependimento do molestador
Pois o seu caráter ele rouba

Agora um irmão de verdade
Vitima da agressão
Sucumbiu a pensão
Tenho pena dessa sua bondade

Admiro a sua gentileza
Ou repudio essa sua gentileza
A ilusão de amizade
Fez de você uma prisioneira

Agora de forma rasteira
Seu irmão de verdade
Não se arrepende de seu pecado
Não caia na armadilha novamente mulher

A dor em suas costas

De modo nenhum deve subestima-la
De forma que não veio de lá
Ela é um poço de mistério
De forma estéril

Seu cantar seduz obliquamente os homens
De modo nenhum deve subestima-la
De forma que não veio de lá
Ela é um poço de bondade e aqueles que interferem, somem

Não deseja ser reverenciada
Muito pelo contrário, é mulher digna de ser beijada
Que seu cantar seja o abrir de um novo horizonte
E que sua batalha continue, incomodando os montes

Suas costas doem
Dor de garras
Dor de trabalho
Dor de faxina

Que a deixem cantar
Sem interrompê-la
De modo nenhum deve subestima-la
De forma que não veio de lá

Que a sua canção
Seja o abrir de um novo horizonte
Que seja o abrir
Da alvorada de uma nova era

Fedor

Eu não tenho nenhum cheiro
Meu medo vai muito além do receio
Eu tinha um amigo porém agora ele me odeia
Acabou a hora do recreio

E o futuro me mata
Me consome além da conta
E eu ainda não sei sobre o que se trata
Eu tinha um amigo porém agora ele me odeia

O conflito já não é mais o bastante
Quero saciar minha sede delirante
Quero romper a barreira da moral
Criar minhas próprias regras no meu mundo ideal

E se isso não te agradar
Quero que se foda
Pois no meu mundo
Apenas eu vou repousar

E não importa o quanto eu estudar
Esse vermes continuaram comendo meus tendões
Apesar do pesar
Eu sinto prazer sendo atingido por esses ferrões

Ser um adolescente é ser ingênuo
Se meu caráter não se moldar até os 19
Posso declarar minha vida acabada
Pois se depender de mim, minha índole será resumida a punk rock

Atlântico

Do sul ao leste
Do oeste ao sudeste
O mar repele
Poesia de Nova Iorque até Budapeste

Do oceano eu saio invicto
Escrevendo poesias até entrar no recinto
Está na hora de deixar as coisas confusas
Para escrever linhas que não façam sentido

O sol ilumina
E do seu útero saí o que a lua traz consigo
De Cthtulhu até Azazoth
De Jesus a Sabbaoth

Meu braço se estende
Ao crepúsculo infinito
De uma pintura apressada
Surge o trabalho definitivo

Uma poesia sem sentido
Com sentimento até demais
Daqui saio satisfeito
Por ter feito uma ótima obra de arte

Seu Favorito

Posso ser seu favorito?
Te segurar nos meus braços
Juntos olhar o infinito
Mandar todos se foderem no recinto

Viver contigo uma aventura prazerosa
Levar nossos corpos ao limite numa dança de risco
Entrelaçados em seda, imersos em maciez
Poderia você me tornar favorito?

Poderia você valorizar meu romantismo?
Poderia você valorizar meu romantismo?

Poderia você me dar sua mão?
Poderia você tirar de mim esse martírio?

Tenho medo de expressar como me sinto
Tenho medo de fazer meus medos te afastarem de mim
Você quer um brinco?
Posso te dar meu coração em formato de brinco

Seria a mulher mais elegante do continente
Curvar iam-se a sua vontade, por ser tão obsoleta
Porém todos chorariam ao encarar seus brincos
Após saberem que são feitos de coração de poeta

Gymnopédie

Erik Satie criou em suas músicas a mais pura harmonia
Harmonia de mestre, harmonia de melancolia
Fico triste de saber que Erik Satie não é reconhecido mundialmente
Pois suas músicas merecem permanecer na história por séculos remanescentes

De música anti-romântica e estrutura simples
Aqueceu meu coração gélido e me fez lavar a alma com lágrimas tristes
Deu a mim a oportunidade de entender parte da complexidade do amor
Deu a mim a oportunidade de entender parte da complexidade do pudor

Suas músicas me ensinaram que um dia uma garota havia de aparecer
Uma garota tão bela, que sua beleza não sumiria nem ao anoitecer
Seria uma garota calma e inteligente, capaz de domar meu ser
E sedutora capaz de ascender em mim às chamas do querer

Suas músicas me acomodaram como um abraço melancólico na noite escura e fria
Como um abraço melancólico e frio, que me fazia suar mesmo embaixo de cobertas
Agora este sentimento, embora parecido, mudou radicalmente
Pois agora sinto uma euforia gigantesca ao dormir ansiosamente

Lembro de suas músicas e de seus abraços tristes, que agora são abraços calorosos
Abraços de amor, e não de tristeza, que me acolhem como se ela estivesse comigo
É um sentimento enlouquecedor, uma epifania inacabável, mal chego a sentir o perigo
O perigo da noite desaparece, pois sei que você está lá comigo me vigiando com seus olhos

Graças a Erik Satie, eu entendi a complexidade do amor
Outrora triste
Outrora feliz
Graças a Erik Satie, eu entendi que eu amo por me importar, eu amo simplesmente por amar

Obrigado por me ensinar a amar

Dedico esta poesia a ti Satie.

Uma cor inestimável

É uma cor simples
De tinta barata
De preço baixo
E de coloração triste

É uma cor invisível
Porém maravilhosa quando se sabe ver
É vista nos olhos de quem você ama
E sentida no coração de quem não sabe temer

É uma cor indescritível
É uma cor inestimável
Que percorre a linha tênue da vida
E que estende os conceitos do que realmente é bonito

Que brilhe cada vez mais
Para eu apreciar o brilho
Desta cor que por tanto tempo busquei
Busquei chorando e rindo

Que cresça cada vez mais
Esta cor impalpável e indestrutível
Que deixe estar
Esta cor que eu chamo de amar

Vinho

Tiro da adega um vinho branco
Requintado e empoeirado repleto de encanto
Ametista liquida digna de contradição
Pairando sobre minha mente, efeito da concepção

Quero extrair do meu coração
Esse liquido amniótico
Usurpa a minha mente
Essa pura podridão

De sentimento retorico
E simplicidade duvidosa
O pensamento do poeta
Esse entorpecente inexplicavelmente simplório

Deveria extrair esse ciúmes
E fazer dele uma bebida
Seria o pior wiskey que já existira
Deveria fermenta-lo um pouco mais

E passaria a vender vinho ciumento
Vinho em garrafa
Garrafas cheias de podridão

Eu sou bom o bastante?
Para fazer você sorrir
Para fazer você cantar
Para fazer você dormir
Para fazer você dançar

Eu sou bom o bastante?
Para mover montanhas
Para quebrar trovões ao meio
Para dobrar pestanas
E cortar a moral do errado e do direito

Eu sou bom o bastante?
Para ressuscitar aqueles que se perderam
Para tornar vivo aquele que já morreu
Para te livrar de teus devaneios
E para resgatar-te das dividas em que se meteu

Eu sou bom o bastante?
Para me fazer feliz
Para te fazer chorar
Para me fazer dormir
Para te fazer sonhar

Eu sou bom o bastante?
Para dividir a sociedade em três quartos
Para manter a sanidade dos loucos do internato
Para matar a tua paixão com um palmo
Para estourar seus olhos em uma finitude abaixo do horizonte

Eu sou bom o bastante?

Nada perante o vácuo

Você não é nada
Não representa nada
Não faz diferença alguma
O universo pouco se importa contigo

Do nada você veio
Ao nada retornará
De tudo que você criou
Nada te restará

Tudo que construiu
Tudo que prosperou
Tudo que desenhou
Tudo que destruiu

Não faz diferença na vastidão do universo
Um espaço tão grande
Por que você acha que essa vastidão se importa com você
Seus desejos, sonhos, ambições e pecados

Todos se perderão no vácuo
Então viva sua vida, sem medo e sem restrições
Pois se nada mais importa
Então por que se importar com tudo?

Teologia
De onde viemos?
Para onde vamos?
Porfiemos em seu nome
Mesmo que não o disséssemos

De existência intemporal
De embasamento banal
Esbanja sua onipotência
Que nós faz ir além da própria moral

Desperta no humanoide
Seu mais puro desejo megalomaníaco
Desperta no humano
Seu mais puro desejo demoníaco

Seu nome é manchado com inveja
Seu nome é manchado com cobiça
Um pandemônio se estabelece na igreja
E quem não concordar, por favor, se retira

Ainda há aqueles que duvidam
Ainda há aqueles que criticam
Mesmo de argumentos retóricos
Sua existência desperta no humano, seu lado mais ontológico

Te acho bonita
Olhos castanhos, tão profundos quanto o mais puro oceano
Pele macia, feita e refeita por anjos no fundo paraíso
Cabelo cacheado, com voltas mais complexas que a mais complicada equação
Beijo doce, mais doce do que o mais bonito caramelo

Eu te amo
Personalidade forte, mais forte que o mais bravo cavalheiro
Inteligente, mais astuta do que aqueles que admiram cobras
Rica, rica de compreensão, rica do que ninguém jamais teria coragem de estimar

Eu te amo
Te amo pois me deu coragem
Te amo pois me ensinou
Ensinou a amar a mim mesmo
Ensinou a ter coragem de me expressar
Ensinou a me controlar
Me deu amparo sem nem mesmo amparar
Mas o sentimento me consome
Anseio por mais
Eu preciso de mais
Me de mais

Eu te amo?
Ou amo apenas
A luxuria da sua paixão?

POEMA DOS OLHOS DA AMADA

Ó minha amada
Que olhos os teus
São cais noturnos
Cheios de adeus
São docas mansas
Trilhando luzes
Que brilham longe
Longe nos breus...

Ó minha amada
Que olhos os teus
Quanto mistério
Nos olhos teus
Quantos saveiros
Quantos navios
Quantos naufrágios
Nos olhos teus...

Ó minha amada
Que olhos os teus
Se Deus houvera
Fizera-os Deus
Pois não os fizera
Quem não soubera
Que há muitas eras
Nos olhos teus.

Ah, minha amada
De olhos ateus
Cria a esperança
Nos olhos meus
De verem um dia
O olhar mendigo
Da poesia
Nos olhos teus.

Há mais perigo em teus olhos do que em vinte espadas!

As vezes alguém te machuca tão forte
Que para de doer
Até que você começa a se sentir bem por algo
Daí então
Volta tudo de novo.

Se asmodeus possui-se meu corpo, sentiria falta da avareza

Duvida da luz dos astros,
De que o sol tenha calor,
Duvida até da verdade,
Mas confia em meu amor.

Soneto do Amor Total

Amo-te tanto, meu amor... não cante
O humano coração com mais verdade...
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade.

Amo-te afim, de um calmo amor prestante
E te amo além, presente na saudade.
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.

Amo-te como um bicho, simplesmente
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.

E de te amar assim, muito e amiúde
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude.