Pablo Neruda

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Otro

De tanto andar una región
que no figuraba en los libros
me acostumbré a las tierras tercas
en que nadie me preguntaba
si me gustaban las lechugas
o si prefería la menta
que devoran los elefantes.
Y de tanto no responder
tengo el corazón amarillo.

XLVIII

Dois amantes ditosos fazem um só pão,
uma só gota de lua na erva,
deixam andando duas sombras que se reúnem,
deixam um só sol vazio numa cama.

De todas as verdades escolheram o dia:
não se ataram com fios senão com um aroma,
e não despedaçaram a paz nem as palavras.
A ventura é uma torre transparente.

O ar, o vinho vão com os dois amantes,
a noite lhes oferta suas ditosas pétalas,
tem direito a todos os cravos.

Dois amantes felizes não tem fim nem morte,
nascem e morrem muitas vezes enquanto vivem,
tem da natureza a eternidade.

Pablo Neruda
Cem Sonetos de Amor

Nós, os que perecemos, tocamos os metais,
o vento, as margens do oceano, as pedras,
sabendo que seguirão, imóveis ou ardentes,
e eu fui descobrindo, dando nome às coisas:
foi meu destino amar e despedir-me.

Pablo Neruda
Presente de um poeta

Saberás que não te amo e que te amo posto que de dois modos é a vida, a palavra é uma asa do silêncio, o fogo tem uma metade de frio. Eu te amo para começar a amar-te, para recomeçar o infinito e para não deixar de amar-te nunca.

Pablo Neruda

Nota: Trecho do Poema XLIV Link

"I want to tell you the ocean knows this:
that life in its jewel boxes is endless as the sand, impossible to count, pure,
and among the blood-colored grapes time has made the petal hard and shiny, made the jellyfish full of light and untied its knot, letting its musical threads fall from a horn of plenty made of infinite mother-of-pearl.

I am nothing but the empty net which has gone on ahead of human eyes,
dead in those darknesses, of fingers accustomed to the triangle,
longitudes on the timid globe of an orange.

I walked around as you do, investigating the endless star,
and in my net, during the night, I woke up naked,
the only thing caught: a fish, trapped inside the wind"

o que crecí dentro de un árbol
tendría mucho que decir,
pero aprendí tanto silencio
Silencio

Yo que tengo mucho que callar
y eso se conoce creciendo
sin otro goce que crecer,
sin más pasión que la substancia,
sin más acción que la inocencia,
y por dentro el tiempo dorado
hasta que la altura lo llama
para convertirlo en naranja.

CINCO COISAS

Quando um dia eu for embora
Quando então me despedir
Pedirei apenas silêncio

E mais cinco coisas
Minhas cinco verdades perfeitas
Cinco coisas e nada mais.

A primeira é o amor sem fim
Amor pelas pessoas
Pelas árvores pelas flores
Amor pelos animais.

A segunda é rever o outono
Com suas folhas sopradas
Sobre a terra à qual voltaremos.

A terceira é o inverno rigoroso
A chuva que amei, o calor do fogo
A aquecer nossas noites eternas.

Em quarto lugar, o verão ardente
Redonda fruta vermelha
Pairando sobre o meu paladar.

A última coisa que eu peço
São teus olhos, meu amor,
Não quero dormir sem os olhos teus
Não posso viver sem o teu olhar
Eu trocaria o sol da primavera
Para que continuasses me olhando.

Isso, enfim, o que mais quero
É quase nada e quase tudo.

Pablo Neruda

Nota: Adaptação de trechos do poema "Peço silêncio" de Pablo Neruda

NÃO FALTA ninguém no jardim. Não há ninguém:
somente o inverno verde e negro, o dia
desvelado como uma aparição,
fantasma branco, de fria vestimenta,
pelas escadas dum castelo. É hora
de não chegar ninguém, apenas caem
as gotas que vão espalhando o rocio
nestes ramos desnudos pelo inverno
e eu e tu nesta zona solitária,
invencíveis, sozinhos, esperando
que ninguém chegue, não, que ninguém venha
com sorriso ou medalha ou predisposto
a propor-nos nada.

Esta é a hora
das folhas caídas, trituradas
sobre a terra, quando
de ser e de não ser voltam ao fundo
despojando-se de ouro e de verdura
até que são raízes outra vez
e outra vez mais, destruindo-se e nascendo,
sobem para saber a primavera.

Ó coração perdido
em mim, em minha própria investidura,
generosa transição te povoa!

Eu não sou o culpado
de ter fugido ou de ter acudido:
não me pôde gastar a desventura!
A própria sorte pode ser amarga
à força de beijá-la cada dia
e não tem caminho para livrar-se
do sol senão a morte.

Que posso fazer se me escolheu a estrela
para ser um relâmpago, e se o espinho
me conduziu à dor de alguns que são muitos?
O que fazer se cada movimento
de minha mão me aproximou da rosa?
Devo pedir perdão por este inverno,
o mais distante, o mais inalcançável
para aquele homem que buscava o frio
sem que ninguém sofresse por sua sorte?

E se entre estes caminhos
– França distante, números de névoa –
volto ao recinto da minha própria vida
– um jardim só, uma comuna pobre –
e de repente um dia igual a todos
descendo as escadas que não existem
vestido de pureza irresistível,
e existe o olor de solidão aguda,
de umidade, de água, de nascer de novo:
que faço se respiro sem ninguém,
por que devo sentir-me malferido?

Nomeei-te rainha.
Há maiores do que tu, maiores.
Há mais puras do que tu, mais puras.
Há mais belas do que tu, há mais belas.

Mas tu és a rainha.

Quando andas pelas ruas
ninguém te reconhece.
Ninguém vê a tua coroa de cristal, ninguém olha
a passadeira de ouro vermelho
que pisas quando passas,
a passadeira que não existe.

E quando surges
todos os rios se ouvem
no meu corpo,
sinos fazem estremecer o céu,
enche-se o mundo com um hino.

Só tu e eu,
só tu e eu, meu amor,
o ouvimos.

Podes cortar todas as flores mas não podes impedir a Primavera de aparecer.

Bondade que não agride nem lambe, mas que desentranha e luta porque é a própria arma da vida.
E, assim, só se chamarão bons os de coração recto, os não flexíveis, os insubmissos, os melhores. Reinvindicarão a bondade apodrecida por tanta baixeza, serão o braço da vida e os ricos de espírito. E deles, só deles, será o reino da terra.

O tempo lava e desenvolve, ordena e continua.
E que fica então das pequenas podridões, das pequenas conspirações do silêncio, dos pequenos frios sujos da hostilidade?

Eu amo-te sem saber como, ou quando, ou a partir de onde. Eu simplesmente amo-te, sem problemas ou orgulho: eu amo-te desta maneira porque não conheço qualquer outra forma de amar sem ser esta, onde não existe eu ou tu, tão intimamente que a tua mão sobre o meu peito é a minha mão, tão intimamente que quando adormeço os teus olhos fecham-se.

Pablo Neruda

Nota: Trecho de "A Dança/ Soneto XVII"

Os meus pensamentos foram-se afastando de mim, mas, chegado a um caminho acolhedor, repilo os tumultuosos pesares e detenho-me, de olhos fechados, enervado num aroma de afastamento que eu próprio fui conservando, na minha pequena luta contra a vida. Só vivi ontem. Ele tem agora essa nudez à espera do que deseja, selo provisório que nos vai envelhecendo sem amor.
Ontem é uma árvore de longas ramagens, e estou estendido à sua sombra, recordando.
De súbito, contemplo, surpreendido, longas caravanas de caminhantes que, chegados como eu a este caminho, com os olhos adormecidos na recordação, entoam canções e recordam. E algo me diz que mudaram para se deter, que falaram para se calar, que abriram os olhos atónitos ante a festa das estrelas para os fechar e recordar...
Estendido neste novo caminho, com os olhos ávidos florescidos de afastamento, procuro em vão interceptar o rio do tempo que tremula sobre as minhas atitudes. Mas a água que consigo recolher fica aprisionada nos tanques ocultos do meu coração em que amanhã terão de se submergir as minhas velhas mãos solitárias...

Para o meu coração basta o teu peito,
para a tua liberdade as minhas asas.
Da minha boca chegará até ao céu
o que dormia sobre a tua alma.

Acolhedora como um velho caminho.
Povoam-te ecos e vozes nostálgicas.
Eu acordei e às vezes emigram e fogem
pássaros que dormiam na tua alma.

Pablo Neruda

Nota: Trechos de "Poema XII"

Amigo, toma para ti o que quiseres,
passeia o teu olhar pelos meus recantos,
e se assim o desejas, dou-te a alma inteira,
com suas brancas avenidas e canções.

Amigo - faz com que na tarde se desvaneça
este desejo de que todas as roseiras
me pertençam.

Amigo,
se tens fome come do meu pão.

Tudo, amigo, o fiz para ti. Tudo isto
que sem olhares verás na minha casa vazia:
tudo isto que sobe pelo muros direitos
- como o meu coração - sempre buscando altura.

Sorris-te - amigo. Que importa! Ninguém sabe
entregar nas mãos o que se esconde dentro,
mas eu dou-te a alma, ânfora de suaves néctares,
e toda eu ta dou... Menos aquela lembrança...

... Que na minha herdade vazia aquele amor perdido
é uma rosa branca que se abre em silêncio...

Que minha dor obscura não morra nas tuas asas,
Nem se me afogue a voz em tua garganta de ouro.

Desfaz, Amor, o ritmo
Destas águas tranquilas:
Sabe ser a dor que estremece e que sofre,
Sabe ser a angústia que se grita e retorce.

Não me dês o olvido.
Não me dês a ilusão.
Porque todas as folhas que na terra caíram
Me deixaram de ouro aceso o coração.

Nada podem teus olhos doces,
como nada puderam as estrelas
que me abrasam os olhos e as faces.

Escureceu-me a vista o mal de amor
e na doce fonte do meu sonho
outra fonte tremida se reflecte.

Depois... Pergunta a Deus porque me deram
o que me deram e porque depois
conheci a solidão do céu e da terra.

Olha, minha juventude foi um puro
botão que ficou por rebentar e perde
a sua doçura de seiva e de sangue.

O sol que cai e cai eternamente
cansou-se de a beijar... E o outono.
Pai, nada podem teus olhos doces.

E na noite imensa
com as feridas de ambos seguirei.

Velho cego, choravas quando a tua vida
era boa, e tinhas em teus olhos o sol:
mas se tens já o silêncio, o que é que tu esperas,
o que é que esperas, cego, que esperas da dor?

No teu canto pareces um menino que nascera
sem pés para a terra e sem olhos para o mar
como os das bestas que por dentro da noite cega
- sem dia ou crepúsculo - se cansam de esperar.

Porque se conheces o caminho que leva
em dois ou três minutos até à vida nova,
velho cego, que esperas, que podes esperar?

Vamos buscando a emoção
que não podemos encontrar
neste tédio sempre igual
que nos envolve o coração.

Enfermos deste eterno mal
que antes que nasça algum amor
alegrará com sua canção
esta amarga solidão,

o matará com sua dor
que soa como perpétuo
e lento toque de maldade
dentro do nosso coração.

Vamos buscando a emoção
que não podemos encontrar
e desejamos com ardor.

Depois dum amargor tu afastaste-te,
e a princípio não percebi. Tu partiras
tal como chegaste uma tarde
para alentar meu coração mergulhado

na profundidade dum desencanto.
Depois perfumaste-te com meu pranto,
fiz-te doçura do meu coração,

agora tens aridez de nó,
um novo desencanto, árvore nua
que amanhã se tornará germinação.

Inserida por gtrevisol

Ir levando no caminho os amores perdidos
e os sonhos idos
e os fatais sinais do olvido.

Ir seguindo na dúvida das horas apagadas,
pensando que todas as coisas se tornaram amargas
para alongarmos mais a via dolorosa.

Tira-me o pão, se quiseres,
tira-me o ar, mas
não me tires o teu riso.

(...) mas quando o teu riso entra
sobe ao céu à minha procura
e abre-me todas
as portas da vida.

quando os meus passos se forem,
quando os meus passos voltarem,
nega-me o pão, o ar,
a luz, a primavera,
mas o teu riso nunca
porque sem ele morreria.

Não Me Sinto Mudar

Não me sinto mudar. Ontem eu era o mesmo.
O tempo passa lento sobre os meus entusiasmos
cada dia mais raros são os meus cepticismos,
nunca fui vítima sequer de um pequeno orgasmo

mental que derrubasse a canção dos meus dias
que rompesse as minhas dúvidas que apagasse o meu nome.
Não mudei. É um pouco mais de melancolia,
um pouco de tédio que me deram os homens.

Não mudei. Não mudo. O meu pai está muito velho.

As roseiras florescem, as mulheres partem
cada dia há mais meninas para cada conselho
para cada cansaço para cada bondade.

Por isso continuo o mesmo. Nas sepulturas antigas
os vermes raivosos desfazem a dor,
todos os homens pedem de mais para amanhã
eu não peço nada nem um pouco de mundo.

Mas num dia amargo, num dia distante
sentirei a raiva de não estender as mãos
de não erguer as asas da renovação.

Será talvez um pouco mais de melancolia
mas na certeza da crise tardia
farei uma primavera para o meu coração.

Não eras para os meus sonhos, não eras para a minha vida,
nem para os meus cansaços perfumados de rosas,
nem para a impotência da minha raiva suicida,
não eras a bela e doce, a bela e dolorosa.

Não eras para os meus sonhos, não eras para a minha vida
nem para os meus quebrantos nem para a minha dor,
não eras para os prantos das minhas duras feridas,
não eras para os meus braços, nem para a minha canção.