Neil Gaiman

1 - 25 do total de 52 pensamentos de Neil Gaiman

As vezes podemos escolher o caminho que seguimos. As vezes nossas escolhas sao feitas por nos. E as vezes nos nao temos escolha nenhuma ...

As pessoas pensam que sonhos não são reais apenas porque não são feitos de matéria, de partículas. Sonhos são reais. Mas eles são feitos de pontos de vista, de imagens, de memórias e trocadilhos, e de esperanças perdidas.

Até onde sei ,o motivo para tornar-se escritor, se deve a não ter que acordar cedinho.

Enquanto escrevo isto, me ocorre que a peculiaridade da maioria das coisas que consideramos frágeis é o modo como elas são, na verdade, fortes. Havia truques que faz íamos com ovos, quando crianças, para demonstrar que eles são, apesar de nã o nos darmos conta disso, pequenos salões de mármore capazes de suportar grandes pressões, e muitos dizem que o bater de asas de uma borboleta no lugar certo pode criar um furacão do outro lado de um oceano. Corações podem ser partidos, mas o coração é o mais forte dos músculos, capaz de pulsar durante toda a vida, setenta vezes por minuto, e não falhar quase nunca. Até os sonhos, que são as coisas mais intangíveis e delicadas, podem se mostrar incrivelmente difíceis de matar. (Coisas Frágeis)

Contos de fadas são mais que verdade; não porque nos dizem que dragões existem, mas porque eles nos dizem que dragões podem ser derrotados.

Às vezes você acorda. Às vezes, a queda mata. E às vezes, quando você cai, você voa.

"Acho que prefiro me lembrar de uma vida desperdiçada
com coisas frágeis, d
o que uma vida gasta evitando a dívida moral.
E me perguntei a que me referia com coisas frágeis.
Parecia um belo título para um livro de contos.
Afinal,existem tantas coisas frágeis.
Pessoas se despedaçam tão facilmente,
sonhos e corações também"

A vida é uma doença: sexualmente transmissível e invariavelmente fatal.

Extrai-se idéias de devaneios. Extrai-se idéias do tédio. Extrai-se idéias o tempo todo. A única diferença entre os escritores e as outras pessoas é que a gente percebe quando está fazendo isso.

- Você realmente não entende, não é? Eu não quero tudo o que eu quiser. Ninguém quer. Não realmente. Que graça teria ter tudo o que se deseja? Em um piscar de olhos e sem o menor sentido. E daí?
(Coraline)

Posso acreditar em coisas verdadeiras e coisas não verdadeiras e posso acreditar em coisas em que ninguém sabe se são verdadeiras ou não.
Posso acreditar em Papai Noel e no Coelhinho da Páscoa e em Marilyn Monroe e nos Beatles e no Elvis e em Mister Ed. Escute – eu acredito que pessoas são aperfeiçoáveis que o conhecimento é infinito, que o mundo é dirigido por cartéis bancários secretos e é visito por aliens periodicamente. Os bonzinhos que parecem lêmures enrugadinhos e os malvados que mutilam o gado e querem nossa água e nossas mulheres.
Eu acredito que o futuro é um saco e acredito que o futuro é demais e acredito que um dia a Grande Mulher Búfalo vai voltar e chutar os traseiros de todo mundo.
Eu acredito que todos os homens são só meninos crescidos com profundos problemas de comunicação e que o declínio do sexo bom coincide com o declínio dos cinemas drive-in de estado a estado.
Eu acredito que todos os políticos são canalhas sem princípios e ainda acredito que são melhores que a alternativa. Eu acredito que a Califórnia vai afundar no mar quando vier a grande onda, enquanto a Flórida vai se dissolver em loucura e jacarés e lixo tóxico. Eu acredito que sabão anti-bactérias está destruindo nossa resistência à sujeira e a doenças de forma que um dia vamos todos ser arrasados pela gripe comum como os marcianos de Guerra dos Mundos.
Eu acredito que os maiores poetas do último século foram Edith Sitwell e Don Marquis, que jade é esperma de dragão ressecado, e que milhares de anos atrás, em outra vida, eu era um xamã siberiano de um braço.
Eu acredito que o destino da humanidade jaz nas estrelas.
Eu acredito que o gosto do doce era de fato melhor quando eu era criança, e que é aerodinamicamente impossível para as abelhas voarem, que a luz é uma onda e uma partícula, e que há um gato em uma caixa em algum lugar que está vivo e morto ao mesmo tempo (embora se nunca abrirem a caixa pra alimentar o gato, eventualmente ele vai ser apenas diferentes definições de morto), e que há estrelas no universo bilhões de anos mais velhos que o próprio universo.
Eu acredito em um Deus pessoal que se importa comigo e se preocupa e supervisiona tudo que faço.
Eu acredito em um Deus impessoal que ligou o universo e saiu pra curtir com suas garotas e nem sequer sabe que estou vivo.
Eu acredito em um universo vazio e sem deus, de caos causal, barulho de fundo, e pura e simples sorte.
Eu acredito que qualquer um que diz que sexo é superestimado ainda não direito. Eu acredito que qualquer um que alegue saber o que está acontecendo também mente sobre as pequenas coisas.
Eu acredito em honestidade absoluta e em mentiras sensíveis a outrem.
Eu acredito no direito de escolha de uma mulher, no direito de viver de uma criança, e que enquanto toda vida humana é sagrada não há nada errado com a pena de morte se você puder confiar implicitamente no sistema legal, e que somente um imbecil confiaria no sistema legal.
Eu acredito que a vida é um jogo, que a vida é uma piada cruel, que a vida é o que acontece quando você está vivo e que você pode simplesmente relaxar e aproveitar.

Alguma vez você já se apaixonou? Horrível, não é? Você fica tão vulnerável. Ele abre seu peito e abre o seu coração e isso significa que alguém pode entrar em você e bagunçar tudo. Você ergue todas essas defesas , você construir um terno inteiro de armadura, de modo que nada pode te machucar, então uma pessoa estúpida, nada diferente de qualquer outra pessoa estúpida, entra em sua vida estúpida ... você dá a eles um pedaço de você. Eles não perguntam por isso. Eles farão alguma coisa idiota um dia, como te beijar ou sorrir para você, e então sua vida não lhe pertence mais. amor faz reféns. ele fica dentro de você. ele come você e te deixa chorando na escuridão , tão simples frase como 'talvez devêssemos ser apenas amigos' se transforma em uma lasca de vidro trabalhando sua maneira em seu coração. dói. Não apenas na imaginação. Não apenas na mente. É uma alma ferida, e fica dentro você e rasga você para além da dor. Eu odeio o amor.

Todo mundo tem um mundo secreto dentro deles. Quero dizer todos. Todas as pessoas em todo o mundo, eu quero dizer todos - não importa o quão maçante e chato eles se sinto no exterior. Dentro, eles todos tem inimagináveis, magníficos maravilhosos e estúpido mundos incríveis ... Não apenas um mundo. Centenas deles. Milhares, talvez.
(The Sandman)

- O tempo é fluido por aqui – disse o demônio.

Ele soube que era um demônio no momento em que o viu. Assim como soube que ali era o inferno. Não havia nada mais que um ou outro pudessem ser.
A sala era comprida, e do outro lado o demônio o esperava ao lado de um braseiro fumegante. Uma grande variedade de objetos pendia das paredes cinzentas, cor de pedra, do tipo que não parecia sensato ou reconfortante inspecionar muito de perto. O pé-direito era baixo, e o chão, estranhamente diáfano.
– Chegue mais perto – ordenou o demônio, e ele se aproximou.
O demônio era magro como uma vara e estava nu. Ele tinha muitas cicatrizes, parecia ter sido esfolado em algum momento num passado distante. Não tinha orelhas nem genitais. Os seus lábios eram finos e ascéticos, e os olhos eram olhos de demônio: tinham visto demais e ido muito longe, e frente ao seu olhar ele se sentiu menor que uma mosca.
– O que acontece agora? – ele perguntou.
– Agora – disse o demônio com uma voz que não demonstrava sofrimento nem deleite, somente uma horripilante e neutra resignação – você será torturado.
– Por quanto tempo?
O demônio balançou a cabeça e não respondeu. Ele percorreu lentamente a parede, examinando um a um os instrumentos ali pendurados. Na outra extremidade, perto da porta fechada, havia um açoite feito de arame farpado. O demônio o apanhou com uma de suas mãos de três dedos e o carregou com reverência até o outro lado da sala. Pôs as pontas de arame sobre o braseiro e observou enquanto se aqueciam.
– Isso é desumano.
– Sim.
As pontas do açoite ganharam um baço brilho alaranjado.
– No futuro, você vai sentir saudade desse momento.
– Você é um mentiroso.
– Não – respondeu o demônio. – A próxima parte é ainda pior – explicou pouco antes de descer o açoite.
As pontas do açoite atingiram nas costas do homem com um estalo e um chiado, rasgando as roupas caras. Elas queimavam, cortavam e estraçalhavam tudo o que tocavam. Não pela última vez naquele lugar, ele gritou.
Havia duzentos e onze instrumentos nas paredes da sala, e com o tempo, ele iria experimentar cada um deles.
Por fim, a Filha do Lazareno, que ele acabou conhecendo intimamente, foi limpa e recolocada na parede na ducentésima décima primeira posição. Nesse momento, por entre os lábios rachados, ele soluçou:
– E agora?
– Agora começa a dor de verdade – informou o demônio.
E começou mesmo.
Cada coisa que ele fizera, que teria sido melhor não ter feito. Cada mentira que ele contara – a si mesmo ou aos outros. Cada pequena mágoa, e todas as grandes mágoas. Cada uma dessas coisas foi arrancada dele, detalhe por detalhe, centímetro por centímetro. O demônio descascava a crosta do esquecimento, tirava tudo até sobrar somente a verdade, e isso doía mais que qualquer outra coisa.
– Conte o que você pensou quando a viu indo embora – exigiu o demônio.
– Pensei que meu coração ia se partir.
– Não, não pensou – contestou o demônio, sem ódio. Dirigiu seu olhar sem expressão para o homem, que se viu forçado a desviar os olhos.
– Pensei: agora ela nunca vai ficar sabendo que eu dormia com a irmã dela.
O demônio desconstruiu a vida do homem, momento por momento, um instante medonho após o outro. Isso levou cem anos ou talvez mil – eles tinham todo o tempo do universo naquela sala cinzenta. Lá pelo final, ele percebeu que o demônio tinha razão. Aquilo era pior que a tortura física.
Mas acabou.
Só que, quando acabou, começou de novo. E com uma consciência de si mesmo que ele não tinha da primeira vez, o que de certa forma tornava tudo ainda pior.
Agora, enquanto falava, se odiava. Não havia mentiras nem evasivas, nem espaço para nada que não fosse dor e ressentimento.
Ele falava. Não chorava mais. E, quando terminou, mil anos depois, rezou para que o demônio fosse até a parede e pegasse a faca de escalpelar, ou o sufocador, ou a morsa.
– De novo – ordenou o demônio.
Ele começou a gritar. Gritou durante muito tempo.
– De novo – ordenou o demônio quando ele se calou, como se nada houvesse sido dito até então.
Era como descascar uma cebola. Dessa vez, ao repassar sua vida, ele aprendeu sobre as consequências. Percebeu os resultados das coisas que fizera; notou que estava cego quando tomou certas atitudes; tomou conhecimento das maneiras como infligira mágoas ao mundo; dos danos que causara a pessoas que mais conhecera, encontrara ou vira. Foi a lição mais difícil até aquele momento.
– De novo – ordenou o demônio, mil anos depois.
Ele agachou no chão, ao lado do braseiro, balançando o corpo de leve, com os olhos fechados, e contou a história de sua vida, revivendo-a enquanto contava, do nascimento até a morte, sem mudar nada, sem omitir nada, enfrentando tudo. Abriu seu coração.
Quando acabou, ficou sentado ali, de olhos fechados, esperando que a voz dissesse: “de novo”. Porém, nada foi dito. Ele abriu os olhos.
Lentamente, ficou de pé. Estava sozinho.
Na outra ponta da sala havia uma porta, que, enquanto ele olhava, se abriu.
Um homem entrou. Havia terror em seu rosto, e também arrogância e orgulho. O homem, que usava roupas caras, deu alguns passos hesitantes pela sala e parou.
Ao ver o homem, ele entendeu.

- O tempo é fluido por aqui – disse ao recém-chegado.

Vou dizer uma coisa importante para você. Os adultos também não se parecem com adultos por dentro. Por fora, são grandes e desatenciosos e sempre sabem o que estão fazendo. Por dentro, eles se parecem com o que sempre foram. Com o que eram quando tinham a sua idade. A verdade é que não existem adultos. Nenhum, no mundo inteirinho.

"Quando eu já era bem mais velho, ele me confessou que jamais gostou de torrada queimada, só comia para não desperdiçar, e, por uma fração de segundo, minha infância inteira pareceu uma grande mentira: foi como se um dos pilares de fé sobre os quais meu mundo fora erigido tivesse se desfeito em pó."

Trecho: O oceano no fim da caminho

Vivia nos livros mais que em qualquer outro lugar.

Neil Gaiman
Gaiman, N. "O Oceano no Fim do Caminho", Intrinseca, 2013

Nos anos oitenta, eu tive um romance com alguém por dois meses.
Geralmente eu entrava em corpos masculinos, ela em corpos femininos. Não quero falar sobre o motivo de terminarmos... Vamos apenas dizer que eu sentia como se mentisse, e ela achasse que eu estava sendo ridículo. Talvez ambos estavam certos e ambos estavam errados.

“Ergamos um brinde aos amigos ausentes, amores perdidos, velhos deuses e à Estação das Brumas, e que cada um de nós sempre conceda ao diabo o que lhe é merecido”.

“O preço que se paga para conseguir o que se quer, é conseguir o que um dia se quis ter.”

Ninguém realmente se parece por fora com o que de fato é por dentro!

Você já amou? É horrível, não? Você fica tão vulnerável. O amor abre o seu peito e abre o seu coração e isso significa que qualquer um pode entrar em você e bagunçar tudo.

Andei fazendo uma lista de tudo que não ensinam na escola. Não ensinam a amar. Não ensinam a ser famoso. Não ensinam a ser rico ou pobre. Não ensinam a se afastar de alguém que você não ama mais. Não ensinam a saber o que se passa na cabeça dos outros. Não ensinam o que dizer a alguém moribundo. Não ensinam nada que valha a pena saber.

Algumas coisas são grandes demais para serem vistas. Algumas emoções enormes demais para serem sentidas.

Então, lutando para continuar dormindo, desejando que o sonho durasse para sempre, certo de que uma vez que acabasse, jamais voltaria... você desperta.