Ignácio de Loyola Brandão

Encontrados 23 pensamentos de Ignácio de Loyola Brandão

Os livros mudam o destino das pessoas. Substâncias perigosas, servem para acalmar e atiçar; abrir novas possibilidades e nos fechar em universos circunscritos; estimular a ação ou estimular a prudência. O fato é que ninguém passa incólume a uma boa leitura. Entra-se de um jeito e a saída é de outro, mesmo sem que se saiba de antemão como sairemos.

Escrevo para não enlouquecer. Para me divertir também, e para ter prazer. Tenho um prazer imenso em escrever. Escrevo para me salvar. Mas me salvar do quê? Será que alguém sabe por que escreve, por que faz música? Porque alguma coisa empurra a gente.

Viver de esperança torna as pessoas passivas. Para transformar a esperança em realidade é preciso usar forças, mobilizar-se.

Escreve-se para não ser solitário e por amor aos outros; se você não tiver essa solidariedade, é bobagem escrever.

O homem não é suicida. Se ele realmente perceber que está sendo ameaçado de morte, vai mudar. Por enquanto, a questão do meio ambiente parece coisa de ecologista que abraça árvore. Acredito na possibilidade de mudança, mas o mundo já será outro, com a natureza bastante danificada.

Inserida por pensador

Um ator tem três vidas. A real, a dos personagens, e a vivida, para representar diante do público e da imprensa o papel de celebridade.

Inserida por pensador

O meu “problema” talvez seja a compulsão. Escrevo, tenho de escrever, é o que me dá vida. Talvez eu não seja um grande escritor. Mas sou um escritor.

Nunca sei se a situação será conto ou romance. Sei quando é crônica.

Inserida por pensador

Sempre me pergunto: será que é preciso inovar sempre, sempre? Não se pode escrever um livro, pintar um quadro, fazer um filme? Simplesmente. Muitas vezes estamos inovando sem saber, fazendo uma coisa que é necessária e vem do fundo. E há tanta inovação falsa, para chocar, chamar a atenção.

Os livros seriam uma (tênue) possibilidade de não morrermos. Mas podemos desaparecer e voltar, sofrermos um revival. (...) Este ofício é complicado, mas temos de exercê-lo com sinceridade, fogo e lança na mão.

Os gestos decisivos faltaram em bons momentos de nossa história.

Inserida por pensador

Nestes últimos anos, saltamos rapidamente de um ciclo para outro. Mal nos acostumamos a um, precisamos mudar. Incessantemente.

Inserida por pensador

Um professor em quem alunos confiam é muito mais que um pai.

Inserida por pensador

Nada pior que a memória do gesto não realizado.

Fomos nos habituando, de tal modo que passamos a pactuar com a tragédia, aceitando-a como cotidiano. Me espanta essa capacidade de acomodação da mentalidade, sua adaptação ao horror. Acredito que a gente possua um componente de perversidade que nos leva a encarar como normal esse pavor, a desejá-lo, às vezes, desde que não nos toque.

Poder largar tudo a qualquer hora e fugir. Desde moço tenho esta necessidade. Estar pronto para partir. Não querer nunca o mesmo lugar, renovar-se incessantemente. Escapar de tudo, desprender-se, me atirar. Para longe, encontrar um lugar onde ninguém me encontrasse.

Inserida por pensador

Sempre gritei: abra vida, abra e me deixe entrar.

Inserida por pensador

O assunto do escritor é o homem, a sua condição, a sua loucura e irracionalidade.

Inserida por pensador

Certas situações confortáveis são desconfortáveis, e sendo o mundo literário de momentos de inclusão e exclusão, o jeito é ficar alerta. E isso significa o quê? Trabalhar.

A idade traz uma certeza: nosso tempo vai diminuindo. Então, temos de correr? Eu, ao contrário, hoje não corro mais, descobri a calma. Sei que não tenho muito tempo pela frente (sou realista), mas ainda tenho projetos, sonhos, ideias, planos.

Escrevo, relato minha indignação, meu medo, meu protesto, porque essa é a minha luta.

Não quero ser encontrado, encontro quem eu quero.

⁠Minhas narrativas são desestabilizantes? Ora, a vida é desestabilizante, não vê e não reflete quem não quer. Os momentos históricos brasileiros têm sido continuamente desestabilizantes. O que é o período em que estamos vivendo agora? Eu apenas copio e transfiguro a vida real. Nada mais. É tão simples. Diga, é estável um país que tem um ministério com oito titulares envolvidos em processos de roubo, suborno e propina?

Ignácio de Loyola Brandão
Rebinski, Luiz. A escrita e a vida. Rascunho, jul. 2016.
Inserida por regina_maria_braga