Eylan Lins

Encontrados 3 pensamentos de Eylan Lins

⁠RELICÁRIO DE UM ANJO

... Meu querido Anjo-Huguinho
Há sete infinitos dias você partiu.
Ah! Quanta saudade, quanto ardor!
Hoje, Mamãe veio te trazer uma flor,
Uma Flor colhida no Roseiral de Amor
Que em mim você deixou plantado!
Lembras quando aqui chegaste
Naquela tarde linda de Primavera?
Chegaste cheirando a jasmim...
Parecia até que estávamos em um jardim
Onde girassóis sorriam para mim
Com suas grandes flores amarelas.
Agora entendo meu Anjo-Menino
Ali tua história estava sendo descrita,
Tua missão a mim sendo revelada:
Vieste para ser meu Jardineiro; eu, tua Fada,
A tua flor mais querida e mais amada,
A Rosa que te embalaria nos braços...
Hoje quando o silencio gritou tua voz
Ouvi o meu desolado coração dizer:
Huguinho foi mais que um Jardineiro
Foi ele o teu Menino, o Anjo faceiro
Que te ensinou o Amor Verdadeiro
Que ora floresce dentro de ti.
Assim se fez, cumpriste tua missão!
Contigo vivi os momentos mais dourados
Os mais primorosos anos de minha vida
As mais floridas sensações vividas!
Até que de repente veio à dor da despedida
Que a flecha do destino me reservou.
Teu Pai te manda mil beijos de Saudade
Cheios de mimos, carinho e ternura!
E um Tríplice-Fraternal-Abraço caloroso!
Tu que foste um filho querido e amoroso
Deixaste nele o sagrado perfume afetuoso
Das mais belas flores-amarelas de Acácia.
Teus avos, manos, tios e tias, teus padrinhos
Os vizinhos e toda tua primarada
Também estão aqui chorosos de saudade!
Você que nos trouxe tanta felicidade
Que nos uniu em plena cumplicidade
Jamais se apagará de nossas memórias.
... Meu querido Anjo-Huguinho
Muito obrigado por ter me escolhido...
Eu, entre tantas mulheres fui à agraciada
A Mãe mais feliz e a mais acariciada
Por tuas mãos pequeninas enviadas
Por Deus para nos abençoar!
Deixa agora eu te ninar pra dormir
Papai e Mamãe estarão sempre contigo
Aqui, nas estrelas, no além do infinito,
Na luz, no silêncio, na Matéria ou no Espírito,
Estaremos sempre juntos meu pequenito.
Dorme em Paz meu Anjo-Menino
Beijos de Amor Verdadeiro
De tua Mamãe Bennia e teu Pai Andrés
Poema em Homenagem ao pequeno Hugo Caresto Castro Heufemann,
que cedo atravessou o grande Rio da Vida, transpassou o Espelho,
retornou a Casa Celestial do Eterno.
* 19/04/2017 - † 19/05/2020

Inserida por EylanLins

SÃO APENAS VERSOS...

⁠Não escrevo aos que se acham maior!
Sei que meus versos são pequenos.
Mas não me importo se são amenos,
se não brilham, se são bons ou pior,
porque sei que são livres...

Sou poeta menor, bem sei disso...
E minha Poesia estreita, indouta
sem métrica, tosca, vazia, solta,
- maculadora do brio que não cobiço -
são apenas versos. Mas são livres!

Sou um mero pintor de aquarelas...
E, meus poemas desgastados, mudos,
rudes e descoloridos, entremeados
a corações amiúdes de flores amarelas,
são apenas versos. Mas são livres!

Escrevo aos que têm alma liberta!
As Estrelas esquecidas que já partiram.
Ao genial Pintor, cujas cerdas coloriram
as arirambas de minha terra esbelta.
Escrevo, porque sou livre...

Inserida por EylanLins

⁠ANJO-POETA

Raimundo era um homem simples,
– daqueles homens de fazimento –
com nome de santo,
que andarilhava pelo mundo
catando desperdícios em sacos de lixo.
Raimundo – que era filho do mundo –
tinha um trabalho invisivelmente nobre:
pobre, recolhia das lixeiras da sociedade
o entulho que a humanidade desprezava.
Catava entre velhas caixas de papelão
– e sacolas jogadas ao chão –
o lirismo do romantismo de outrora,
os cantos não percebidos dos passarinhos,
a beleza do nascer do dia (a aurora),
a imagem de Cristo no crucifixo,
as virtudes de amizades perdidas
que se amontoavam [no amor ferido do agora]
entre as sarjetas – das tantas ruas imundas –
que percorria durante os afazeres do dia.
E, das valas abertas que encontrava no caminho,
recolhia sempre, com muito carinho,
o silêncio das palavras carinhosas não ditas,
o perfume das flores reboladas ao solo,
o respeito vilipendiado, a coragem menosprezada,
a humildade e a perseverança desdenhadas,
a tolerância e a fé preteridas,
as rosas que cintilavam ao pôr do sol,
as palavras proferidas pelos girassóis amigos:
palavras que nunca foram ditas ou notadas
nos caminhos que se percorre na vida.
Ao final do clarão de um dia de trabalho,
Raimundo levava tudo para um terreno baldio,
e lá depositava em leiras tudo que recolhia.
Anos depois, Raimundo se foi...
Ele que não tinha nem beira, nem eira,
nem estudo, nem família,
morreu sem deixar um legado...
Ledo engano, velho desacerto!
Raimundo deixou um jardim plantado,
– um canteiro florido de amor alentado.
Foi ele um semeador
neste mundo louco em que se joga no lixo
a essência e a beleza da rosa-vida!

* * *

Inserida por EylanLins