Clay Werley
Fogo cruzado
Mentiras são lançadas por todos os lados,
mas nosso sangue continua tendo a mesma cor.
Nos colocam uns diante dos outros a se opor,
sem notarmos o quanto estamos envenenados.
Sob visões opostas todos se sentem embasados.
Uma verdade corrupta... A cada hora, um novo senhor.
E bons valores vão a luta, cada um por sua dor.
Enquanto regojizam-se na platéia os reais interessados.
Como estar certo ou errado em meio essa rede de intrigas?
A utopia do entendimento seria a evolução.
Mas nossos instintos ancestrais inflados pulsam brigas.
Todos se imaginam heróis em meio a uma revolução,
e seguimos nos decepcionando com pessoas amigas.
Ao fim... Em comum, todos terminaremos em um caixão.
Distopia cotidiana
Ninguém é dono de seus próprios passos.
Nossa liberdade não passa de uma mentira,
somos impulsionados por ganancia, inveja e ira,
e nos degladiamos num cotidiano de percalços.
Mundo doente onde prosperam os falsos!
A esperança de outrora a tempos já partira.
e toda moralidade que havia se extinguira.
Terreno fértil a moldar nossos fracassos.
Eis que tudo gera urgencias, tudo é fisiologico.
Com fé, esperamos uma justiça que não temos
e ao fim naufragamos em cansaço psicológico.
Num mundo em que por sobreviver nós esquecemos
a indignação de ver arruinado o padrão logico.
Vencemos o dia... Enquanto em vida esmorecemos.
Há tempo?
O tempo é implacável
começo, meio e fim.
As coisas são assim,
certo e inevitável.
Uma força irrefutável
onipresente para mim,
atinge a todos enfim
de forma inalienável.
Há tempo para tudo
está em Eclesiastes.
Ciente de tal conteúdo
vós me explicastes.
Cético... Ouvi mudo,
idéias em contrastes.
Quando minha alma, este fulgor tépido;
de meu velho corpo irá se separar;
meu caixão, morada do cadáver fétido;
será o casulo que irei abandonar;
e estarei livre, me sentirei lépido;
borboleta pronta para voar.
O sorriso de um chato
Sou um chato amargo,
um tipo melancólico
por vezes estrambólico.
Moldado por embargo.
Estando a meu encargo
esse conceito anafórico
individual e metafórico,
define meu sorriso largo.
Tudo é desimportante.
Somos poeira no universo!
Por isso empáfia é irritante
revela um ego perverso.
Que nem por um instante
terá espaço no meu verso.
Não quero viver sonhando acordado,
mas fico a mercê de meu coração,
a caminho do fogo sabendo que serei queimado
cego, louco, entorpecido de paixão...
Triste sina, amar sem ser amado...
Sofrer, sofrer; sofrer... Em vão.
Pensante
Eu como poeta não sou nada.
Não sou trovador, nem menestrel.
Nem xilografista na literatura de cordel.
Não sou cordelista e nem faço embolada.
Não sou repentista, nem tenho língua afiada;
não sou doutor, nem bacharel;
não sou embaixador, nem coronel;
não sou hipnólogo e nem sei contar piada.
Sou apenas mais um na multidão.
Sou o cidadão comum, irrelevante.
Nem Sócrates nem Platão
nem Marx nem Dante.
Do alto de minha humana condição,
apenas um ser pensante.
Efemero
Um dia tudo será esquecido.
Sejam bons ou ruins os momentos,
não importa quais sentimentos,
tudo flui a ser desvanecido.
Tudo isso já é conhecido.
Mas em meio a nossos tormentos,
nos perdemos em meio a lamentos,
nos martirizando a cada ocorrido.
O tempo é uma sentença implacável
nenhum revés pode se perpetuar.
Perde-se tempo com o execrável
em detrimento do que é salutar.
Rumando à fronteira do inevitável,
onde nada desse mundo iremos levar.
Meia-vida
Sou um composto organico,
em periodo de semidesintegração.
Decaimento natural e sem solução.
Destino normal nesse universo atômico.
Não obstante chega a ser ironico.
Ter a consciência em constante expansão
evoluindo em inversa proporção;
o pensamento em sentido anacronico.
Sentidos opostos no mesmo gráfico,
quebrando qualquer conceito ortodoxo.
Inalienável, pessoal e autobiografico.
Por natureza, e definição... Anfidoxo!
Pondo a verve em abuso lexicográfico.
O ser humano... Um sublime paradoxo!
Possessivo
Todos dormem... E eu aqui estou.
Tentando encontrar uma saida,
rememorando cada despedida,
tentando projetar para onde vou.
Há quem diga que o pior ja passou!
Mas o que passou foi a propria vida.
Numa lógica que parece invertida,
comemorar o fim do que fracassou.
Em mais uma madrugada insone,
revisitando tudo o que aconteceu,
não há quem não se impressione
com o desfecho que o destino me deu,
o vazio da ausência de um pronome. ..
Um amor para chamar de meu.
Não sei para onde vou,
como encontrar saída?
Mal informado estou.
És viagem só de ida?
A chama já se apagou.
Oh vida! Abstrata vida.