Tag amanda

1 - 25 do total de 114 com a tag amanda

A paixão aumenta em função dos obstáculos que se lhe opõem.

William Shakespeare

Nota: Trecho adaptado da peça "Tudo Está Bem Quando Termina Bem", de William Shakespeare: "As all impediments in fancy’s course / Are motives of more fancy".

...Mais

[...]
Um anjo veio e deu vida
Ao peito de amores nu:
Minh'alma agora remida
Adora o anjo - que és tu!

"Sempre fui daquelas que prefere uma metáfora a um clichê, contudo não sei se o melhor seria um olhar angelical teu ou um beijo na chuva. Dizem que se pode escolher entre o que fica e o que desaparece, mal sabes que eu faria de tudo para que tu pudeste permanecer. Mas decidiste ir embora e levar contigo parte de mim. E assim estou, desamparada, sem inspiração, sem muitas expectativas e aguardando as derrotas com pouco anseio. Estou com o coração quebrado e um buraco na cabeça, nele está escuro, o silêncio que preenchia o espaço entre o que eu penso e o que eu digo agora grita, chama teu nome, em vão. É estranho te cumprimentar como um desconhecido, quando o que eu mais queria era pegar na tua mão e não soltar nunca mais. No brilho do teu sorriso fiz um mapa, quem diria que eu me perderia neste caminho de ilusões cintilantes? Tu és o espaço vazio na minha cama, o reflexo do céu,sempre fresco e perigoso, como a madrugada; a estrela cadente, que ao passar discreta, apenas faço um desejo, uma vez que não posso tê-la. O teu coração é o único lugar que eu me atrevo a chamar de lar, e eu estou lá, bem no fundo, trancafiada, esquecida. É um lugar sombrio, teu passado ecoa pelos corredores da tua alma e te faz pensar em não sofrer mais, te faz acreditar que não é digno de amar outra vez. Está errado.Tua alma complexa, é crepúsculo, nunca aurora. É fria. Apagaste as estrelas, a Lua e não deixaste por nada o Sol entrar e irradiar tua essência tão bela, te fez escravo dos próprios pensamentos e estabeleceu princípios irrelevantes a tua própria forma de opressão. Onde está tua verdade? Onde tu a esconde? Medo é um sentimento criado para ser desafiado, portanto, o faça! Entre mil rostos e indecisões, me escolha, quero levar-te do inferno ao céu em apenas um segundo, dizer que, tu me chamas de anjo, mas ainda sim imagino se doeu muito ao pousares aqui. É cobiça. É pecado. É excesso de esperança. É querer o bem, querer o mal, é simplesmente querer. Só estou cansada das falsas promessas e mais ainda de dedicar cada misera frase ao teu descuido para com o meu amor, que obviamente não te importas nem um pouquinho em perder. Bem, chega de metáforas tolas, velhos poemas, e todas essas babaquices hiperbolizando os sentimentos "ruins". Eu já não aguento mais esse incômodo nos olhos, algo querendo escorrer. Como café amanhecido, me disseram que era amor não correspondido, que não se requenta sem se conserta. Eu não nego meus sentimentos, apenas os coloco em um potinho de vidro para que nunca se dispersem, e claro, podes roubá-lo de mim quando quiser. Entretanto, não estás preparado para cuidá-lo, ele é quebradiço, incompreendido e, por mais que eu não queira, todo teu. Sei lá, só acho que tudo se descomplica quando a gente se beija. E proferir que ainda te amo mais que tudo, é a coisa mais clichê e a mais verdadeira que eu poderia guardar a sete chaves no coração. Aí guri, por que não me beija na chuva e liga de madrugada dizendo que sente minha falta? Ai, ai! Pensando bem, adoro um clichê. Adoraria mais ainda se pudesse criá-los e recriá-los contigo. Por agora, utopia."

"Psicose:

De todas as loucuras da minha vida, tu foste a pior de todas. Aquela a qual mergulhei de cabeça sem me preocupar se o abismo era fundo ou raso, enrolei meu caminho no teu e não consigo desatar o nó que nos prende, te moldei em minhas mãos, agora as mesmas não aceitam ajustar-se em outros corpos, te fiz de areia e viraste um deserto no meu coração. Não sei ao certo o que ocorreu, mas ainda consigo sentir teu abraço, teu perfume, teu corpo colado ao meu. Escutar tua voz dissimulada soltando frases ininteligíveis a outros ouvidos, tu brincando com o meu cabelo, brincando com a minha mente, meus sentimentos, minha loucura. Estás no sol num fim de tarde, numa música, numa valsa.. Toma conta dos meus pensamentos, dos mais secretos e pervertidos aos mais doces e sublimes. Estás na poltrona vazia ao meu lado no cinema, no reflexo do céu, num domingo chuvoso, numa festa sem graça, no meu coração.. Enfim, ao fim, decidiste me guardar na tua gaveta, como um artigo de luxo de uma coleção limitada, ao invés de me expor na prateleira da tua alma, transformou fogo em brasa, e fez do sentimento bom um caos. Não quero te entender, muito menos complicar tua vida já tão complicada, mas sinto tua falta. Isso não é motivo suficiente para que o tempo volte, se fosse, eu já teria perdido a conta de quantas vezes as cenas se repetiriam. De novo, de novo e de novo. Desafiando meus princípios, desencorajando minha loucura. Ah essa esquizofrenia de te ver em cada canto, mirar teus olhos denunciando uma intenção que nunca sei ao certo desvendar, levando-me ao precipício da alucinação, onde, de olhos fechados eu caminho pelas beiradas. Até gosto. Gosto dessa sensação de te perder, é a linha tênue entre sempre querer conquistar-te e conseguir, é um troféu que não posso exibir, é o meu melhor devaneio, meu maior segredo, quiçá o remédio contra a sanidade. Sim, sanidade, todavia, por mais que eu queira fazer parte da realidade, teu mundo me puxa, tirando meus pés do chão. Teu sorriso é a única anestesia de que preciso para flutuar. Teu gargalhar, ah, esse o melhor de todos os remédios, faz notar que minha loucura condiz um pouquinho com a tua, fazendo com que eu perceba que é na insanidade que teus beijos são mais doces e teu abraço me pacifica. Melhor que anestesia, é perder os sentidos enquanto tua pele percorre a minha e ainda ter a capacidade de sentir o calor do teu corpo. Narcose? Talvez, mas amor não, amor nunca. É palavra proibida, isso sim é droga, demência e realidade. É traficado sem autorização e paralisa todos os sentidos, fazendo com que não se sinta nada. Prefiro assim, sua loucura com a minha, num mundo paralelo formado por um sentimento sem nome, sem definição, que não conste em dicionário algum. É paranoia, é ansiar por algo que não existe, é ficar sem a cura. É onde posso provar que "pode-se morrer de amor e continuar vivendo" beirando o caminho sensato, a rotina, tão entendiante e sendo lúcida. Não sendo eu. Me sinto deslocada, eu sei que não sou daqui. Sei que não é aqui que eu tenho que estar.."

- Perdida num mundo onde quanto mais são, mais louco se fica, ganhando experiências e perdendo tempo, perdendo tempo longe de ti.

“Olhar nos teus olhos e até pensar que já os vi em outras vidas.”

Ficar sentada ao lado dele, apenas catando intenções no vento, era o tipo de silêncio que mais me confortava. Eu sentia o perfume cativante, mesmo na costumeira ausência. O encontrava em ruas que já havíamos frequentado de mãos dadas, assim como nos lugares aos quais já gargalhamos alto em alguma aresta do tempo.
Não o amava, tampouco o queria pra sempre.
Mas descobri nele um poderoso efeito de conseguir ser o meu “sempre” em todas as vezes que a vida me proporcionava escolhas. Ele não era daqueles cavalheiros que davam carona no guarda-chuva, muito menos do clube dos que ligavam no dia seguinte, mas eu nem me importava. Porque um sinal de vida, por mais tolo que fosse me arrepiava dos pés à cabeça. Entrei em acordo com todas as minhas sinas percebendo então que eu apreciava a companhia dele como quem saboreia uma taça vinho tinto. Sentia o peso do regresso, mas também não me importava. Fatiava o orgulho em vinte e quatro parcelas de culpa e jurava pagá-las em algum momento de sanidade. E nesses intervalos de carinho indiscreto, até parava para analisar aquelas expressões sacanas e me perguntar por onde diabos eu havia largado toda a minha sensatez. Ainda tem um pouco dele em cada verso, assim como em todas as palavras e a cada suspiro. É um imprestável, e eu não o emprestaria para mais ninguém nesse mundo.
Não o amava, tampouco o queria pra sempre.
Mas a vivacidade dele corrompia até fazer esquecer os meus critérios, os meus cuidados e as minhas leis, apenas para amenizar essa saudade que sinto o tempo todo a partir do momento em que não o vejo mais. Me desperta o desleixo de controlar as imprudências do apreço, encarar o corpo como quem se alimenta de uma presença, como quem decorou as trilhas do mau caminho em flashes de devassidão. Decorei. Anotei minuciosamente o quanto as horas voam enquanto ele me acomoda numa risada cheia de ecos. Conduto não se surpreenda, já que eu respiro ortografia, meu bem. Sou um buquê de meia composição e linhas sinuosas. Sabe também que escrevo poemas na minha pele rezando para que teus olhos corram por meu corpo sem que eu precise encarar a tua íris para soltar frases que jamais pensei dizer em voz alta. Você me ignora e continua construindo uma estrela a qual sequer pensa em morar. Eu fracasso e fico rindo feito uma tola sobre o quanto os rabiscos da parede do teu quarto me instigam. E nós nos envolvemos em um abstrato de palavras desconexas e desenhos desalinhados, eu fantasiando e você sentindo o peso do mundo real. É aí que você até esquece que eu sou a tua loira, mesmo que tantas outras tenham atravessado o teu caminho. E você é o meu moreno, e todos os meus carinhos são teus por regalia. Mas isso você já sabe...
Eu sinto que me perco quando não abraço o teu pôr do sol.
Confesso. Você me faz sentido.”

"Queria sentir de novo aquela adrenalina que me inundava ao fugir de madrugada ao teu encontro sem saber exatamente para onde iríamos. Queria sentir de novo aquele beijo doce tão amargo de recordações tristes só para me certificar, pela milésima vez, de que nosso gosto agridoce ainda é o meu favorito. Queria que fosse possível catar todas as ilusões em que me fizeste cair e, com elas, construir uma ponte a qual interligasse meu coração ao teu. Queria te dizer que o teu sorriso me deixa mais feliz que um feriado no meio da semana e que se for pra ganhar na mega sena, quero meu prêmio em forma de beijos teu. Queria que saudade fosse o nome do nosso animalzinho de estimação. Queria te fazer passar vergonha em meio ao público, elaborar uma declaração de amor, gritar para os quatro cantos do planeta que todo o teu encanto me pertence e só eu posso dormir com o teu moletom. Queria te mostrar que o céu é infinito, porém nada tão arrebatador tanto ver-te dormindo ao meu lado num dia qualquer. Queria te dizer que o brilho de uma constelação não equivale ao lampejo dos teus olhos mirando os meus. Queria poder te explicar que se cada pequena estrela fosse uma forma de demonstrar meu afeto por ti, o universo seria insuficiente para defini-lo. Queria salientar ao mundo que tu não me enlouqueces apenas quando puxa-me pela cintura, mas também quanto finge indiferença pelo simples prazer de provocar. Queria ter a coragem de confessar que os arrepios não são causados pelo frio quando nossos corpos interagem e nossas almas se entrelaçam. Queria calar-te com um beijo, alegrar-te com uma valsa, acalentar-te no inverno frio, mimar-te na primavera, abusar-te quando verão. Amar-te em todos os dias até o último do meu calendário. Te chamar de esfinge, desvendando tua mente, descobrindo o teu corpo, solucionando as charadas da tua alma, embalar-te como se fosse uma velha música suave e calma, levar-te comigo para qualquer lugar como se fosse brisa. Queria.. Partindo do pressuposto de que "Querer não é poder" , vivo das lembranças de um passado bom, presa no silêncio que o teu carinho genérico proporciona. Um caminho torturante de promessas ilusórias, palavras antecipadas e intenções subtendidas. Se ambicionar é real, prefiro suplicar o devaneio do meu pensamento infame. Te trazendo pra mais perto, sendo desonesta com os sentimentos novos deixando os antigos fazerem um carnaval em meu coração, redigindo uma orquestra de situações corriqueiras, impossíveis e sinceramente, abismada pelos detalhes irônicos inventados. Entretanto feliz. Minha felicidade paira como uma droga, alucinógeno dotado de nome e um sorriso lindo, onde o torpor é constante, a dormência é inebriante e a injeção é letal.."

"Você batia à porta e eu esquecia totalmente os meus conceitos de auto-erotização. O solo de Knockin’ on Heaven’s Door me preponderavam, mas não tanto quanto teus atos intencionais. Eu persuadia os teus dedos, tu me amordaçava a alma e, em meio aos gritos sem tom e travesseiros mordidos, eu me perguntava se era amor. Não entendia o porquê de me afundar no cheiro do teu perigo, na trama do teu ego. Sinceramente, tuas costas são mais largas do que as oitavas de qualquer outra melodia, e eu me perdia contando os arranhões que a minha sanidade deixava na porta do bom senso. Como Bukowski uma vez citou: "She’s mad but she’s magic. There’s no lie in her fire.". Em tradução livre, digo a mim mesma que o segredo do teu delírio infame está no fogo que eu nunca pensei em conter, no olhar que deixei vacilar ou até mesmo nos abraços de despedida inesperados. Eu te falei do meu vício em cigarros,whisky e dramatização, meu fogo sempre gritou a verdade, estranho, eu jamais omitiria que faço do inferno um paraíso quando te cravo as unhas e tu te encaixas nas minhas pernas. Sabes das minhas loucuras e tornou-se uma delas. Um vício. Dotado de palavras bonitas pouco verídicas, faro de vagabundo e ainda trazia consigo sete notas silenciosas de fetiches ocultos. O que te faz me procurar nas preliminares da noite? O que te atrai? Será meu gosto literário, musical ou esse meu gosto por mentiras bonitas de serem contadas. Sei lá. Eu não precisava do teu carinho, mas queria teu afeto. Em contrapartida, desprezava tuas teorias falhas de ser fiel, contudo mastigava as atitudes tomadas de lealdade. Só não tenho culpa de me encantar pela tua canalhice, pelos contornos na tua pele, o aroma convidativo da tua tendenciosidade. Não tenho. Mas quando quiser, não esquece da minha amnésia de bancar a trouxa que não sabe o que quer, que lê Bukwoski para se convencer de que o amor é uma praga, que fuma para se auto-afirmar, que escuta Bob Dylan apenas para encontrar os teus gemidos de histeria entre os acordes. Não esquece que a porta está aberta, assim como a janela e o coração também. Eu nunca te disse que quando a cama rangia alto, não estava necessariamente pedindo um ajuste e que o meu pescoço pulsava por uma mordida tua. Posso ter omitido algumas coisas, assim como retalhei certos sentimentos. Eu precisava me impor como máquina para que o arrepio da falta que o teu sossego me traz fosse cessado e controlado. Eu jurei que o amor não existia, porém não prometi que a paixão não viria como penitência. Eu lhe apresentei ao fogo e não esperava sentir o efeito contrário das queimaduras tão cedo.”

“Escrever era tão mágico quanto um pianista sentado diante do seu instrumento musical. Assim como ele, eu também escorregava as mãos sobre o teclado. Tentava com persistência e coragem encontrar o ponto de começo ou, ao menos, a ponta do fio que desenrolava todo o resto. A mim me encantava que a primeira nota do soneto fosse a primeira consoante do teu nome, eu queria escutar tua voz em cada estrofe, o ritmo do teu coração a cada palavra. Sem sucesso. Então eu decidi redigir mil sinfonias de poemas que não fizessem do tempo um inimigo que te apagasse dos meus sonhos. E era assim, na agilidade de um pianista, que eu bombardeava o papel com palavras que gritavam as tuas manias, as mesmas palavras, as mesmas metáforas, para fixar um pouco de ti em mim. Eu queria te escutar até nos vácuos sem som, nas frases tortas. Eu queria um concerto de trás pra frente até aquele dia em que te conheci. E nos meus intervalos inertes, descobria um pouco da tua ausência pesando sobre minhas pálpebras e a ardência na garganta pelas palavras nunca proferidas. Você saiu da minha vida e foi como se eu esquecesse o meu próprio nome. Havia memorizado os hábitos repetitivos de um clandestino para assim te encontrar neles. Coloria de vermelho o cenário do desalento. Usava a poesia de caminho mais curto até o afeto das palavras, o problema é que elas queimavam e não me aqueciam. A tristeza passa. Às vezes, a gente até passeia com ela. A tristeza consegue ser boa companhia se juntar boa música, boa memória e um vinho tinto. Eu precisava de todo esse meu drama só para não te esquecer de vez, entende? Suas palavras me atingiram em cheio como se fosse um trem descarrilando e talvez eu peque pela ingenuidade da dúvida ao dizer que você me fez mal sem querer o meu mal. Eu deixei as unhas compridas, apenas para deixar uma lembrança minha no contorno das tuas costas. Você feriu o meu coração, marcou teus passos como se controlasse minha arritmia. Não venha me dizer que não foi intencional, gritava o meu nome no escuro como se quisesse me arrastar junto para aquele abismo de pouca fé. Talvez eu te ame como as milhões de vezes que eu nunca disse por não saber exatamente a hora de me desarmar. Porque, na verdade, eu não sei onde você termina pra eu começar no controle das minhas ações. Então. Permita que o destino me borde nas palmas das tuas mãos. Dispa-me com os olhos, silencia-me com a boca. Lágrimas não cabem nesse nosso dueto de uma nota só. Desabotoa os versos, os equívocos, a camada fina de tecido que separa o toque dos nossos corações. Some comigo ou some de mim.
O tempo sussurrou no teu ouvido: “Menino, você tem a si”, e tu nunca mais voltaste.
E eu parei de escutar, mas ainda sinto a melodia do teu riso.

♦ Escolheríamos as estrelas mais brilhantes do céu e caminharíamos sobre elas.

“Reza a lenda que o teu abraço se encaixa perfeitamente no meu. Que a nossa risada possuí as mesmas notas desafinadas e que tua cama traz exatamente as marcas do contorno da minha cintura no colchão fino. Há quem diga que nosso humor é compatível e pertinente. Especula-se também que felicidade é uma palavra facilmente colocada naqueles fins de tarde de um passado infelizmente não tão distante. Dizem também que teu sorriso é mais largo quando estou por perto, que alguma força paralela nos ilumina quando nossas mãos se entrelaçam e saímos mundo à fora despreocupados. Indagam também que da tua casa até o infinito, construímos uma ponte multicolorida de felicidade e que à cada passo descobríamos uma cor a mais no arco-íris. Há quem diga que teu olho brilha enquanto me sonda e que meu coração salta pela boca quando ouve a tua melodiosa voz. Há quem articule que nossa alma engrandece quando pensamos subjetivamente e que de todos os mistérios das galáxias, o inexplicável ainda era o fato do veneno da tua boca chegar brando em meus lábios. Falaram que eu sou aquele trago de histeria que você procura em tudo que é lugar e que, pra mim, és uma anestesia errante. Apenas falaram, pena que você não escute anjos. Pena que só percebi o quão sutil eram nossas atitudes tarde demais. Pena que nos distanciamos justamente quando parecíamos tão iguais. Tente ouvir os anjos, eles dizem que a sina de todo caminho curvado tende a se cruzar. É celestial, ter medo de um futuro que até então não existirá. Pega esse teu braço e envolve na minha cintura, rapaz. Se só segurando a minha mão já poderíamos encarar o mundo, imagine tu equilibrando meu corpo e confortando minha alma como apenas tu consegues fazer. Ah. Cosmos é um cubículo de dois metros quadrados quando nossos sonhos se permitem conviver entrelaçados. Ouça, ouça os anjos. Eles acham engraçado o modo como meu pensamento alvo e o teu negro criam uma explosão de sensações sem sentido. É irreal. Estou de mãos atadas, com orgulho ferido e de olhos vendados, todavia eu ainda ouço os sussurros. Trate de ouvir os anjos moço, eles não são nada mais nada menos do que teu coração palpitando para onde queres ir. De onde nunca deverias ter saído."

“Olhar a solidão refletida no espelho do quarto notoriamente me entristecia. Chega um dia em que nada mais importa, sabe? O alimento não tem sabor, as melodias perdem os tons, o céu lindo e infinitamente azul não surpreende mais. Num certo ponto, você percebe que o sol é oco e a luz que o segue passa a ser perturbadora. Depois de muitas decepções você entende porque rosas, as mais belas flores, trazem consigo o espinho cálido que lhes foi gerado. Com o tempo, a morte de Hamlet não lhe espanta mais, tampouco o sorriso enigmático de Mona Lisa não lhe instiga mais a perguntar por que diabos de não mostrar os dentes enquanto é admirada com pudor. Em certo período o arco-íris não é mais uma atração errante, todavia uma explosão de frustrações. Um fim de tarde não é tão belo quando visto em preto e branco. E você apenas respira e mostra os dentes, automaticamente. Solidão é espectro de alguém que passou pela vida e não se deu ao luxo de ficar. Solidão é minha amiga agora, eu a convido para beber e ela me conforta com dois tapinhas nas costas, ela dança comigo e parece não pedir nada em troca. Até que nos damos bem, mas ela nunca preencherá o seu lugar. Você era tudo. Agora é visto apenas em linhas sinuosas que dançam com a saudade sobre uma velha máquina de escrever. A gente se sacrifica pela felicidade de alguém que já é feliz sem a gente. E percebe que tortura é palavra bonita quando bem colocada. É não se preocupar com a dormência do corpo ou o incêndio da alma. É sentir o coração apertado por ver um sorriso largo, no entanto perceber que não é você o motivo dele estar ali. É sucumbir para as propostas corriqueiras de um passado, não de alguém, mas de um momento, ao qual felicidade era palavra bonita estampada nos seus olhos, no seu sorriso, na paisagem.. Solidão é sentir o vazio de alguém que chega na sua vida e colore o que nunca pareceu ter cor. É sentir que as dores são compatíveis e o tamanho das feridas antigas também. É querer curar com um pouquinho de afeto, uma risada baixa, servir como curativo para tanta escuridão. Solidão é uma partida inexplicável, sentir o chão sumindo como areia movediça. Nosso tempo bom fora medido milimetricamente em meio à ampulheta da vida, ao qual, no último grão de areia, nem as mais belas poesias te trariam de volta. Eu deveria me acostumar com esses tipos de despedidas que, quando seguem seu caminho, levam parte de mim junto. Já desmoronei e me remontei milhares de vezes e, mesmo assim, é difícil remodelar os pedaços que tu deixas por aí pelo caminho a cada vez que não pensas em olhar para trás. O dia fica cinza sem o teu encanto trazendo vida para situações imperceptíveis. Teu nome é sinônimo de solidão, rapaz. A infelicidade está costurada na tua epiderme, tua face é tomada de medo e desafeto e, apesar de tudo isso, eu enxergo uma esperança resplandecente que não dota de meu nome muito menos da minha alma. Solidão é descobrir que um coração não preenche dois espaços e não une duas almas perdidas por esses ciclos intermináveis. Você quer alguém que quer outro alguém, que quer outro alguém e assim por diante. Solidão é isso. É a inconstância, perceber que está sozinho mesmo que padeça sobre uma multidão de centenas outras almas vazias que procuram aquela que se acomode com a maior facilidade. Solidão é ser obrigado a reinventar-se a cada dia, sair por aí a procura de cores com outros nomes e olhares que tragam novas histórias, novas poesias. O céu azul é bonito todo dia, todavia nunca está do mesmo jeito. Está sempre em constantes mudanças, mas sempre mantém a beleza rara e o ar sublime. Seja um céu azul.”

Quem precisa de passado quando um futuro glorioso e incerto está para ser descoberto?
Ou omitido.

Eu te usei.
Usei mesmo, sem dó ou prestações.
Usei tuas manias desajeitadas nos trejeitos dos nossos pequenos. Eu criei a cor dos olhos teus, transformando-o em remédio para um mundo melhor. Sim. Prenda-me. Eu explorei o teu vazio e inventei edifícios de sentimentos aí por dentro. Desenhei as tuas impressões digitais em algum cantinho do meu corpo e até ousei desabotoar tua cara amarrada com a largura do meu sorriso. Eu te usei das piores formas possíveis, b’shert. E até quem via de longe podia perceber que era eu quem manejava os nossos caminhos para que os mesmos rasurassem as linhas do destino. Porque eu te admirava como quem tira a sorte grande na loteria da vida. Perdoa-me por persuadir as coisas a tua volta e decorar tuas mil e uma manias, por fingir ter medo das trovoadas apenas para conseguir um abraço teu. Eu te usei como válvula de escape por sempre fugir de algo que tenho medo de conhecer, entende? Estar contigo, te reinventando, invertendo os sentidos, criando monomanias é o que ainda me matem viva, controlando o teu pulsar, as minhas costumeiras reações... Tenho medo de nunca mais encontrar o conforto que a tua íris proporciona, medo de vasculhar lembranças e não colidir com um “Pare de ser assim, tão amavelmente bonita”, mesmo que eu tenha inventado isto também. Acho que te peço desculpas, pela falta de jeito, pelo sufoco do inexistente, pelo sopro de insistência e acima de tudo, pelas fichas apostadas. E eu te usei até como moeda de troca com o infortúnio, b’shert, de anjo protetor, de floresta incendiária. Eu te usei. Desculpa revidar a indiferença dos ombros com a chuva dos olhos, o tapa de realidade com um beijo no cenho, desculpa diluir o medo da senescência na paz do teu sossego. Desculpa se transformei o teu perfume num ponto de serenidade. Perdoa ser o antônimo dos teus acasos, enfim, chegou a hora de voar com as próprias asas, não é? E mesmo depois de tudo, eu ainda te desejo o incalculável.

E uma rua iluminada de lembranças nossas.
Se é que tenha algum.

♦Olhava-me com o queixo baixo e dizia: “Você não gostaria de estar na minha pele”.

Ah como eu queria.

Ao clandestino.

Eu só queria te dizer que me arrependo por ser o que você nunca cogitou apreciar. Que eu me engasgo toda vez que te vejo sem rumo por aí. Que quero o mesmo rumo, mesmo não entendendo por quais caminhos tu pretende demarcar os teus passos. Escrevo-te por não saber exatamente o que fazer com esse amontoado de palavras que me despem num olhar feroz. Escrevo por vergonha ilícita de tragar saudade ao invés de amnésia. Beber doses de culpa, como se o gosto forte do álcool contracenasse com a tua saliva em uma luta brutal de engano e dívida e mesmo assim eu perdesse pra lembrança. Eu precisei esconder a tremura nas mãos, a pupila dilatada e qualquer outro sinal de fraqueza na tua última visita. Precisei costurar o meu todo em retalhos para que a minha estrutura não se rompesse. Fiz um trato com o acaso e alterei o tom do meu gargalhar. Abracei o travesseiro demoradamente como se aquele perfume me confortasse. Faz assim ó, fica parado enquanto eu passo as pontas dos dedos pelo contorno do teu nariz. Deixa eu rir daquela cicatriz no queixo, morder a ponta da tua orelha. Só fica. Fica quieto, não diz nada, eu não preciso. Só não negue um abraço a quem sente falta de se acomodar nos teus braços. Não sorria, eu nem prezo por você. Apenas finjo gostar enquanto te desejo. Apenas digo que gosto para não dizer que te amo. E foi assim. Meio sem sentido, meio torto. Eu vi numa aresta daquele sorriso algo que eu sempre quis, mas nunca pensei que pudesse existir. Eu vi num tom de pele mil tirinhas de diamantes e vibrei com a ganância e o brilho ilusório. Foi como olhar um dia nublado pela primeira vez. Conseguia sentir o cheiro de terra molhada como o aroma daqueles dias de chuva. Encontrava-me nas tempestades dos teus beijos e me adaptava nelas como se aqueles moinhos de ventania fossem feitos especialmente para mim. Assim como o perfume doce. Ao clandestino dos meus pecados, dos meus sonhos sem previsões. É como sorrir para o céu por te ver nele todas as manhãs. É negar, negar, negar. É descobrir que até as palavras usam a distração como rota de fuga. É descobrir que além do meu ontem, você também é a minha distração. É reconhecer dentre os esquecimentos que eu quero te colar nos meus amanhãs. Sim, moreno. Nas manhãs preguiçosas, estirados no sofá da sala, num domingo qualquer. Agora nem isso posso ter. Desculpa não conseguir empilhar nossos instantes numa prateleira qualquer. Desculpa esse dégradé de saudade, redemoinhos de ilusões que me alimentam e te distanciam. Eu sentia tua respiração distante, equilibrando-me na corda bamba que nos prendia, mesmo que nada te prendesse a mim agora. Desculpa não ter sido eu a pessoa que desabotoou o teu melhor sorriso.
E eu ainda te dedico os meus versos mais sinceros.

Ao clandestino.

Inserida por AmandaSeguezzi

“Uma vez inventei de limpar as gavetas do meu ego e jogar fora tudo o que não trouxesse paz. Encontrei então um mar de lembranças adormecidas num cantinho empoeirado que há muito não percorria os olhos. Toquei as flores secas tentando sentir o perfume ao qual eu já esquecera a composição. Tentei dançar ao som da música, aquela que tocava quando eu te beijava, contudo não acertei os passos. Esqueci das falas, dos nossos contrastes. Lembranças não gostam de visitas, este é o preço da memória boa. As pessoas melancólicas veem as situações que já ocorreram nos mesmos lugares, agora vazios. Saudade é o preço a se pagar pelos danos. Saudade é tortura boa de sentir enquanto relembra as cenas com um sorriso no rosto. Admirava nossa foto como se pudesse sentir de novo todas as sensações que sondavam o momento. A mão dele na minha cintura chegava a causar um leve choque no mesmo local a cada vez que eu a observava. Sentia o orvalho da noite fria, a dor nos músculos da face pelo sorriso de orelha à orelha. Ria alto com o brilho dos olhos dele e me perguntava o porquê de não ter durado por muito tempo. Eu me perdia nas respostas prováveis e em tudo que um dia ele já me disse. O guardei no baú da saudade como um sonho bom meio que por brincadeira, e quando vi, já o queria sem precauções. Eu percebia, de alguma forma, que não valia à pena desistir de nós, mesmo que os nós no pensamento por muitas vezes me sufocassem. Eu não precisava de amor, mas queria o teu afeto como quem sacia a sede. Via esperança num horizonte preto e branco ao qual apelidei carinhosamente com o teu nome. E nas horas sem ti eu respirava fundo, batia os pés no chão num ritmo desenfreado, estalava os dedos, cantarolava um blues antigo. Eu queria me deparar contigo nas repetições sem sentido, nas minhas guerras, na minha ansiedade, mas apenas podia te encontrar nos erros. E se era nas falhas que ocorriam os nossos confrontos, eu sempre pecaria pra te ter por perto. E, ora veja, ele me tinha até quando eu não sabia o que querer. E quem disse que agora eu sei?
E eu ainda lembro.
O beijo dele me declamava poesias."

Inserida por AmandaSeguezzi

“Olhar nos teus olhos e sentir as constelações dos nossos destinos se encaixando foi umas das coisas mais bonitas que já admirei na vida. Logo eu, que não prezava pelo afeto, muito menos adornava o amor, estava parada na esquina da tua casa tentando barganhar um puxado de carinho. Sem sucesso. Percebo então que você consultou os astros, mudou a rota e passa bem sem mim. Então chego em casa e sinto a nostalgia do desamor. Vasculho gavetas, prateleiras e vasos de porcelana, procurando a tua angústia tão perfeita que quero sentir também. Pra te mostrar que somos iguais, pra segurar teu coração em minhas mãos como quem pudesse quebrá-lo, fazendo de mim a vilã do acaso. Abro a geladeira, os embrulhos de inocência e sigo procurando nos cantos do porta-jóias um motivo que faça desistir de ti. Mas peco pelo excesso, vivo pelo pecado, confesso, de te querer só pra mim. Eu desdobro as roupas, mudo os móveis de lugar e tua essência não sai dali. Jogo fora o meu baú de premissas erradas, viro o lado do disco e o teu falso amor ainda cisma em me assombrar. Fico inquieta, abraço os joelhos, trago um cigarro que traz os teus gritos de histeria. A madrugada vira uma sinfonia de histórias de terror e eu assisto aos filmes me lamentando pelos erros que você cometeu. Rabisco as paredes do quarto, durmo no sofá da sala, tomo banho gelado no frio e evito qualquer lembrança das cores que só você tem. Substituo o café forte pelo chá gelado poupando a minha saliva de sentir o teu gosto. Perco-me nas ruas quando te encontro no céu azul, que adoravelmente aceitaria bordá-lo com o meu sangue para me esquivar de uma dor maior. E na metade da tarde me envolvo no impasse de recitar ao vento mil poesias desejando que, ao menos, uma delas sussurre no seu ouvido a falta que você me faz. Mas como num ciclo, elas voltam chorando pela tua distração com o caminho reto. E ao final do dia, sigo suspirando a cada hora em que os nossos segundos não se esbarram. Descubro no meu lapso o teu próprio tempo e o meu relógio batendo os pés, impacientes, aguardando tua melhor piada. Porque, ao final das contas, qualquer atenção tua regenera a minha alma cansada. À noite, entrava em casa na ponta dos pés desejando que a tristeza não despertasse. Tarde demais. A porta rangia, o assoalho acusava e o escuro me engolia com o cheiro da ausência. Eu cedia para matar a sede da saudade que só cumprimento por fotografia. Engano o jardim florido declamando baixinho que só estou ali passando para dizer à tempestade que as nuvens pretas no céu escondem o meu infinito de tristeza, e a chuva que cai, transborda as minhas lágrimas tão incertas. Esconderia o nome do culpado das noites de vendaval e até pecaria em dizer que o sol aparece quando ele caminha em minha direção com um sorriso no rosto. Benzinho, eu vou jogar você da janela do sexto andar pra te mostrar a dor que é ficar um dia sem notícias tua. A cada três passos que dou, sinto que um teu está entre eles. Só não me olhe sorrindo enquanto diz que nunca mais vai voltar. Você falou das notas dó nas poças d’água das ruas e eu pego carona nos dias de chuva só pra te ouvir de novo.”

Inserida por AmandaSeguezzi

“Tem gente que deixa a nossa vida mais bonita, e chego até a suspeitar que morem em algum beco do arco-íris. Acho que os invejo de certa forma, porque do meu ponto de vista as estrelas estão espalhadas ao chão e eu nunca teria a capacidade que pregá-las junto ao céu de novo. Vejo um mundo antagônico com cores invertidas, ventos contrários e até me acomodo no avesso. Já não me reconheço e isso é uma das piores sensações que se pode existir. Tem gente que é tão linda por dentro que chego até a cogitar que tomem perfume doce. Elas não conhecem conversas, muito menos sentimentos unilaterais, e eu também as invejo, uma vez que sempre acabo confirmando a teoria de que o mundo é uma fábrica de chateações. A partir disto, vou me enchendo de coisas inacabadas, meia garrafa de vinho barato, meio cigarro, meia-vida. Valorizando objetos inanimados e seres humanos do mesmo escalão, evitando a refração dos raios solares e até me aliando aos redemoinhos convidativos que passam por aqui de vez em quando. E não há o que me comova ou fé que aguente, paz em outros tons, esperança de cheiro afetivo. Porque assim que a solidão me surra eu a encaro com pesar, ela até sorri com os olhos e me faz acreditar que meu coração apenas acordou mal humorado. E com a mesma frequência com a qual eu tento me reinventar, percebo que sou parte de um todo indivisível, que apenas mostro aos outros o que os cativa e encanta. Na verdade, sinto a podridão de dentro e o recesso da alma, sinto uma verdade escondida bem no fundo de onde nunca pensei em procurar. E eu sinto muito, mas não por mim. Partindo do pressuposto que de nada me importa e que por muitas vezes até consegui me imaginar sendo feliz com alguém nesse muro de lamentações. Mas não importa. Saúde é o que importa. Saúde absoluta que não se compra em farmácia, amor muito menos. E saúde e amor nem sempre são relativos, o que me intriga, porque eu me sinto saudável quando as pessoas que me rodeiam se encaixam em metáforas que ouso até afirmar como amores reais. E até que gosto. Porque meu coração palpita esperança repentina quando vem o cheiro de calmaria dentro de um livro. Porque o meu coração fareja doses inconstantes de confiança de quem está disposto a ser lido e não ter medo do resultado. Tem gente que traz nos olhos milhares de fogos de artifícios e eu até desconfio que eles cultivem furacões. E se as tempestades da alma forem igual um pré-temporal de fim de tarde, eu até consigo encher o meu vazio de sentimento bom e ser feliz por alguns minutos. Ou horas.”

Inserida por AmandaSeguezzi

“Somos pequenas granadas de hesitação, não somos? Quem sabe até bombas atômicas implosivas. Flertes impulsivos, cartas que não foram enviadas, quiçá escritas. Somos lençóis de aromas distintos, hálitos, diferentes hálitos. Pra você o céu é vermelho, já o meu um cintilante lilás. E continuamos assim, um camuflado de folhas caídas. Calmaria que esvai junto ao vento. Tão leve... Somos as somas dos erros e as sobras das palavras. Somos o diminutivo de carinho: que não existe. Por que não sermos um? Somos aquelas frases clichês ditas no calor da hora, as malditas risadas durante um beijo. Um furacão que não cessa. Paz que não se acomoda, somos um trilho sem fim que não aceita paradas bruscas dentre as estações. E o que eu faço? Se procuro qualquer rastro teu nos variados desatinos dos querubins, em rostos indiferentes, eu procuro. Descubro então que tenho tratado a dor e não a causa dela, que não encontro a melodia que tanto preciso se não for me arrastando por tua rodovia de quase-estrelas. Até o tempo está me perdendo e parece não se importar. Em todos os sentidos, os opostos, os corretos, os incertos. Não acompanha meus rastros, minhas pegadas num sentido torto ou noutro que eu desconheça. Não se convence de que, por sentir demais, minhas direções se tornaram incontáveis. E era assim, apesar do teu todo ser uma tempestade infindável eu sempre me perguntava como conseguira roubar todo o brilho do sol só para si. Aí, entre as queixas, entre a curva do teu queixo, eu compreendo que também somos criminosos, eu com a selvageria imprudente do coração e tu com as gotas de mal-me-quer escorrendo pela boca disfarçadas de veneno doce. Rodopiávamos na mesma sinfonia, contudo não no mesmo ritmo. Os teus olhos expressavam a pressa, os meus procuravam conforto na eternidade de apenas um segundo. Eu até podia supor que éramos os suspeitos habituais de uma pesarosa mágoa que não traz culpa nem vontade, mas sim voracidade e descaso. Entendi que nossos laços, sanguíneos, sarcásticos, abrasadores não se encontravam nas mesmas vielas. Porque nós somos um camuflado de folhas caídas que correm por veias diferentes. Coágulos de finitos desamores.”

♦ No último segundo de vida a gente pensa em quem?

Inserida por AmandaSeguezzi

“Eu acho que a gente se acerta.
Na mesma fagulha, no mesmo teto. Na correnteza contrária, no elo infinito. Num beco da vida, num banco de praça. Ah, a gente se ajeita. Num cômodo pequeno, em foto 3x4. Em ideias fúnebres, em um blues anos 60. A gente se ampara até nos desencontros. Nos contrapontos, rumo contra o tempo. A gente se restringe a uma história por dia e três sorrisos por mês. Matamos quatro lembranças e dois dragões por sonho. A gente se acerta nos erros, na curva do engano, na rota do ego, na estrada dos ensejos. Ah! Sim. E chegamos a fingir que os sentimentos suspiram como balas perdidas inesperadas, e nos enganamos, pela milésima vez, de quê somos de naipes diferentes, peças de quebra-cabeças totalmente distintos que se encaixam de vez em quando. Que não ligamos para a laceração do orgulho ou pro precipício da eternidade. Acho que a gente se acerta. Você aí e eu aqui. Evitando os olhares certos, os lugares errados, a hora hipotética apenas para não se render aos encantos de um perfume doce. E posso até cogitar que a gente se equilibra. Na solidão das queixas, no vazio ao qual o preenchimento ainda é uma incógnita. Na carência flamejante, na cama desarrumada, respiração desregulada. Percebo então a falta do xeque-mate, da surpresa que não surpreende mais, nos carinhos intermitentes. Porque eu aceito as circunstâncias da confusão para que o segredo das mordidas no pescoço continue oculto. Eu suporto o peso regresso, as sensações anacrônicas, mas nunca a risada sarcástica das despedidas que pesam os teus ombros, e nos meus olhos. E assim eu acho que a gente se acerta. Você com os olhos negros distantes e eu poetiza dissimulada. Ambos sonhadores e criminosos.
Ah, a gente se ajeita.
Quando dá, a gente até se fantasia de criadores de caso e adoradores do caos pra nunca se perder de vez.”

- Ao regresso que odeia despedida.

Inserida por AmandaSeguezzi

“Eu queria caber num segundo teu.
Naquele sorriso bem demorado, assim como na palma da tua mão. Queria fazer parte das entrelinhas dos teus versos, entre as linhas tortas do teu caminho. Ah como eu queria! Ah como eu queria entender como consigo acomodar tanto de ti no meu um metro e sessenta e três de altura. O problema dos encontros são os desencontros ao final de tudo. E agora passo pela cena difícil te desenhar em uma máquina de escrever. Se eu te dissesse que a palavra despedida tem exatamente o formato das tuas mãos, você ficaria para mais uma valsa? Que a meia-luz da sala me incomoda. Que o sofá não está aonde eu queria nem com quem eu gostaria. Adiantaria? Prender a brisa do teu perfume em porta-retratos, o sorriso na cabeceira da cama, os teus cotovelos na mesa de jantar. Eu desabafo com a televisão ligada, trocando os canais como se fosse encontrar teu rosto em algum comercial de margarina. Bebo café para sentir teu gosto, tomo banho quente para murmurar junto ao vapor sobre as curvas do teu corpo. Descobrindo que quanto mais o tempo passa mais tudo perde a graça, que até tuas palavras eram macias e confortáveis. E acho que, sinceramente, eu me acomodaria até num “bom dia” seu. O que me consta que tenho acordado tarde para evitar esses tais “bom dia” que há muito não me confortam. Tenho também um bocado de sotaque bonito preservado no canto do ouvido ecoando na primeira hora da manhã na varanda. O chimarrão me arrepiava a nuca e eu percebia, enfim, que estava num inferno e ele era o meu próprio corpo. As lembranças eram bombas relógio, a explosão unilateral de um afeto platônico. Moreno, só queria te dizer que eu apostei todas as fichas em você e perdi. E talvez as casualidades do universo ainda te recoloquem no meu jogo. E você vem. Claro que um dia vem. Primeiro escuto os teus passos, logo após a essência do perfume, o corpo provocativo, contudo nunca a alegria das pulsões. Pergunto-me então se a tristeza lhe acompanha a qualquer segundo. Se for assim, fique por aí. A monomania de sentir a tua tristeza como um ombro amigo que me puxa para dançar em dias difíceis, que rodopia meus sentidos até eu cogitar ser algo bom. Tua tristeza acena pra mim e eu me conforto. Qualquer sensação compartilhada do teu corpo é navalha e, sinceramente, eu me acostumei com o latejar das ideias e dormência da alma. Convencendo-me, pra variar, que não é pecar errar pelo excesso, mas sim pela falta. Encarava-me com meio sorriso, dois tapas nas costas e um "Acalme-se, menina, essas consternações acontecem nas melhores almas.".
Mas e as tremuras do corpo?
Falência múltipla dos sentimentos, um AVC de remorso e o latejar do silêncio.

♦Um dia ele me disse: “Vamos ser mais do que montinhos de areia no tempo?”
E eu não fui.

Inserida por AmandaSeguezzi

O tempo foi passando, voando, virando migalhas. 
Parecia que o meu corpo estava parado no mesmo lugar desde aquela última respiração profunda na praça. Era estático o efeito da paisagem bonita. Era o caos aguardar por uma companhia que virou as costas e foi embora sem contemplar a beleza das flores. E todos os dias eu admirava o verde vivo, a brisa rasteira, ansiosa para encontrar tua nota dó dentre os sussurros da ventania. Ficava sentada ali por horas, rabiscando, estrangulando o tempo. Cruzava as pernas, os braços e as ideias procurando, ao menos, uma posição confortável para as dores da alma, ou um motivo aceitável que me fizesse desviar desse caminho infindável. Percebi então o magnetismo do passado atuando como uma bússola que aponta apenas para o Norte. Descobri por entre cinco ou seis puxadas de ar que nunca fora a intenção ser o teu rumo fixo. E as possibilidades me deixavam inquieta, melodramática, desenhando cenas no vácuo como se pudesse pintar as situações e bordá-las num estado real. Chegava a roer as unhas, cantarolava sinfonias, coçava os olhos, entretanto não sentia vontade em voar pra longe. Acho que eu te procurei em todos os rostos que conheci desde o dia que te vi pela última vez. Nunca tive muita sorte na vida, mas tenho certeza que o teu gargalhar no escuro poderia facilmente ser confundido com um bilhete de loteria e isso me contentava. E ora veja, mesmo nas pausas sem graça eu ainda conseguia rir até a barriga doer pelo destino ter sido tão sacana a ponto de me fazer derreter a cada contração de intenções sutis. Tenho medo do escuro. Mas ainda lembro-me do sorriso sem esperança, sem luz que silenciava o último encontro. De quando colocou uma pulseira colorida estranha no meu pulso e deu dois nós. De quando me pegou pelas mãos, olhou no fundo dos meus olhos e disse que o amor era grande, mas o mundo era maior. Virou-me as costas e foi embora como quem sabia exatamente o que estava fazendo, como se planejasse há muito tempo. Comecei a escrever poesias sobre as cores estranhas, sobre como elas ficaram bonitas depois que ele me presenteou, sobre os dois nós. Sobre o nó no pensamento, que se transformou em nó no coração até se acomodar num clandestino nó na garganta. Ele nunca voltou à praça para pegar o que era dele por direito. Eu ou a pulseira, não sei ao certo. Arranquei-a do pulso com toda a força que tinha, joguei num canto, quis enterrar junto das flores bonitas para que o encanto nunca se perdesse. Tarde demais. Todos os dias as cores me assombram, assim como o aroma das flores, assim como o estranho corpo que imigrou ao longe. Cegueira inexpressiva. O pulso ainda pesa tanto quanto as palavras nunca ditas.
E eu escrevo em preto e branco até hoje.

Inserida por AmandaSeguezzi

“Descobri por entre todos os meus receios que sou o meu pior inimigo, que não sou nada além de antecipações.
Era como se a chuva fosse do chão de encontro ao céu num avesso majestoso. Era ver tudo invertido e se adaptar nesse compasso de tristeza bonita de se sentir. Saudade não é mais um sentimento, é uma veia colocada no lugar errado, dor de cabeça por tentar se transportar para onde o tambor do pulsar grita. Mas nunca dá. Porque você se tatuou em mim e eu me costurei em nós, desate um fio e o meu todo se esvai em desatinos. Já que não almejo encanto, separo então um canto para me reinventar. Mostro-me distraída com as paredes descascadas, perguntando-me se as paredes do ego também dispunham do mesmo formato concreto, impedindo as guerras emocionais de escapulirem pelos poros feito um inundar de amargura. Só queria esculpir o teu nu em estátuas, emoldurar os sorrisos para que nunca se dissipem do brilho dos olhos. Compreender que a nudez mesmo está escondida nos detalhes que só percebo depois dos seis lances de escada e um vinho barato. Confusa, talvez. Sentindo o incenso da tua presença, antes mesmo de sentir o afago do teu corpo. Ainda confusa, desvendando a incógnita de quão o mar sabe ser tão claro quanto teus olhos, que cerram atados diante de um fecho de luz. Tua serenidade não cobiçara os meus raios solares. Mudava de opinião como quem sucumbia às fases da lua, exibia a tristeza como quem rega flores artificiais, era pesaroso gostar do colorido de algo sem vida. Era desafiador despir as palavras para que fossem aceitas sem o desconfiar de um Cavalo de Troia. Eu me entreguei de coração aberto e alma limpa para virar apenas mais uma vítima corriqueira do “não era pra ser”. Esquece o roteiro, amor. Nem o aroma do teu perfume sabe a rota da saudade, mas mesmo assim sempre volta para me assombrar. Mais forte e incomum. Um recital fresco e perigoso como a madrugada, sem ecos e sem carnaval. Paralisa os meus sentidos e me faz perceber que comum mesmo são as outras pessoas que copiam o teu cheiro. Porque eu vejo poesia a cada esquina e a brisa me presenteia com o amargo da lembrança de um afeto bom. Eu sinto o murro na cara e encaro a fragrância insípida com lágrimas nos olhos e braços abertos. Tentando, ao menos, juntar as partes do perfume que há muito não me visita e comprimi-las no coração até transformá-las num cobertor de nostalgia bonita de se apreciar. Eu vou esquecer o teu nome, inventarei um bocado de outros pseudônimos que me façam cair na tapeação de caber em um amor do tamanho de um alfinete. Que não me faça sentir o pesar da despedida ou a melancolia de uma noite mal dormida. Eu vou esquecer a tua voz, e todas as palavras um dia proferidas irão caminhar para longe junto ao vento. Vou quitar qualquer compromisso com as manhãs nubladas e esquecer os teus vestígios escritos entre as nuvens. Eu quero uma passagem só de ida, bilhete de trem sem reembolso. Quero viver da sorte e não das possibilidades que prendem meus pés no chão.”


Mas pra quê a pressa, amor?
A eternidade é na rua de baixo, logo ali virando a esquina.

Inserida por AmandaSeguezzi

pro dia cinza.

E se os trovões bruscos fossem palavras de calmaria
Que aos enamorados a tradução fosse uma canção de ninar
Saberiam os outros decifrar as notas dos relâmpagos por aí?
Se os trovões fossem um abraço esperando por aceitação
Um estrondo procurando seu amor no eco inóspito
Se os trovões pudessem sentir a amargura dos homens
Cairia a tempestade
Assim como lágrimas do céu
Se os flashes fossem meros sorrisos
Esperando outro sorriso
A ventania então seria quem aproxima a solidão do dia
Dia nublado, dia que não cessa
A tempestade uniria nuvens
Apaixonadas, quem sabe?
E os trovões seriam apenas fagulhas
Sinfonia de uma nota só
Até o infinito cinza atravessa o céu
De ponta a ponta feito obra-prima
O relâmpago traz nas costas o peso
O peso de não cair duas vezes no mesmo lugar
Mostrando que até o impossível
O impossível
Não tolera segunda chance
E é tudo um carnaval fúnebre
Dança mal ensaiada
Que borda o céu de tristeza
Tristeza bonita de se apreciar
Quando os trovões não são sentidos
Eles choram
E eu sou assim também
A chuva cai e eu choro junto.

E até a alma explode em tons de cinza

Inserida por AmandaSeguezzi

Mesmo depois de tudo, eu ainda te desejo um arco-íris de todo mal que guardo. E me calo por todas as vezes que te bato com uma flor com medo de sentir o teu sofrimento dentre a maciez das pétalas. E não diga que nunca decorei os teus detalhes, pois os descubro em mim, ocultos pelos meus poros, tatuados em forma de poesia. Tinha o controle dos meus pensamentos quando não te avistava no horizonte das minhas vontades, o que raramente me persuadia.
Você me transformou num refém de mim mesma, sem objeções. Nas noites à toa num banco de praça, descobria você na minha cura para o tédio e até lhe encaixava na minha pasta velha de tristezas bonitas. Lembrava que o infinito era logo ali, quando eu te abraçava e ria do combustível que era o fogo dos teus olhos nos meus. Seus olhos. Eram eles cor de terra e os mais bonitos da cidade. Eram os meus olhos. Os seus olhos eram versos rimados, um poema que me vislumbrava ao ler. Eu estava ali o tempo todo, apenas mais um trançado de estrofes vagas que existia numa linha na palma da tua mão. Não me importava. Porque eu amava o imperfeito e as cores que te traziam pra mais perto, mesmo quando você fazia procurar demais por desculpas que eu nem sabia que existiam.
Ao fim, você foi embora como um cometa, um daqueles feixes luminosos que não ancoram no céu. Encontrava-me então perdida em tudo que você me disse, uma linha reta de palavras desenroladas. Aí talvez, por alguma distração, torço para que eu seja reescrita numa dessas ruas de quase-amores e suspiros inquietos. Aí talvez eu tenha sorte. Ou, quem sabe, eu nunca a embale de novo por constatar, pela milésima vez, que você também era a minha sorte, assim como a minha guerra perdida. Para as texturas que só enxergava em ti, o tempo me presenteou com as lembranças de hábitos tão teus. Este era o problema, o tempo não atrasava a minha melancolia, não retardada as minhas aflições, a escassez da tua acidez. O tempo não chorava, não contava a ti que na terça-feira passada eu não dormi por tua causa.
Foi em você, moço, que encontrei minha primeira tempestade, e ainda sinto o gosto das ondas dançando com as marés que não me tiravam do lugar. E mesmo distante, me sucumbindo, lá no horizonte, me desarmando com a indiferença. Mesmo assim, me pergunto sobre qual é a estrela que preciso pra conquistar você. Falho nas constatações, na união do existente, convencendo-me entre um ou dois soluços de quê não vai adiantar de nada multiplicar as coisas.
Trapaceei no jogo do amor e acabei perdendo os bônus de uma forma não muito bonita. Quis abraçar um mundo denso num mar de nuvens ilusórias, um inferno que não era meu. Bordo este conto em notas desafinadas enquanto o visto de maneira sutil. Pouso os olhos suavemente num ponto fixo enquanto tento encontrar meus erros numa escolha que não decidia apenas o meu rumo. Minhas palavras flutuavam até onde estavas como se soubessem exatamente para quem foram declamadas. E no intervalo de dois cigarros e quatro puxadas de ar, eu lhe tinha nas mãos, controlando as pontas dos meus dedos. Tranquei a respiração até o último ponto só pra não te perder pro suspiro de novo.
Eu vou te eternizar em literatura já que o eterno do nosso amor não durou uma primavera. Vou transformá-lo em estrofes só para não esquecer de ler a poesia e lembrar do encanto do teu riso.


Esse é o mal do poeta – pensei, vê vitrais em espelhos trincados.

Inserida por AmandaSeguezzi

Trago através dos dias os estragos que você me causou.
O cigarro resguarda o teu gosto, escondido timidamente na essência de hortelã. Cada inalar de fumaça surgia no formato das curvas do teu corpo e eu as dispersava com as mãos, evitando qualquer sinal de presença teu. Você tinha carta branca, você tinha todas as cartas, era a dona do jogo. Você foi embora e pela primeira vez eu me senti perdido, um bocado de tralha velha esquecido no canto da casa, toalha molhada jogada em cima da cama.
E foi ali que percebi, quando colocasse o pé direito porta a fora para nunca mais voltar, ali, bem na hora que as mais belas palavras engasgaram na minha garganta, foi ali que apelidei os raios de sol com o teu nome para me sentir aquecido por algum tipo de recordação tua. Depois de abaixar a cabeça, elevar as mãos aos olhos e apertá-los até acordar do pesadelo, constatei que não acordaria, pois nos sonhos ainda estarias comigo.
Foi ali, sentado com a televisão ligada, mesmo sem prestar atenção alguma, balançando os pés num ato involuntário, foi ali que reparei que até os móveis estavam enfeitiçados no teu encanto e sentiam a tua falta também. A casa permanecia assombrada com o teu gargalhar alto e as rosas do jardim murcharam sem os teus cuidados. Eu morria a cada hora sem os teus carinhos e as horas se estendiam e me sorriam, incentivando que eu pegasse o primeiro trem e lhe encontrasse onde quer que fosse. Mas você não queria a minha presença, as minhas reclamações. Você não quis quem lhe queria na eternidade de um momento.
Calava-me o tempo todo para ouvir a marcha da felicidade passando no meio da rua sem intenção alguma de me conduzir. Mordia o canto dos lábios buscando tuas manias, por mais insignificantes que fossem, só para não te perder pra memória ruim. Ainda lhe prendo nos porta-retratos junto das ironias que você jogava no chão junto com as peças de roupa, menina.
Nos intervalos da guerra brutal diária com os infortúnios, adotei um amigo chamado saudade e o tranquei num álbum de fotos preto e branco, num vaso de flores mortas que não consigo me desfazer.
Porém, vou seguindo, esquecendo uma lembrança por dia, desacelerando o coração em uma batida a cada mês. A cada respiração fico mais velho. Mas você nunca vai saber disso, menina, porque eu não existo mais na sua vida. E estás aqui, correndo através dos campos dos meus pensamentos, jovem e radiante. Ainda lembro o sabor da sua pele e o toque do vestido na minha perna enquanto lhe rodopiava naquela valsa. Não recordo o seu nome, porém o seu perfume, ah o mais belo dos perfumes, ainda sufoca os meus dias. Você puxava a minha atenção só pra si e me pegava admirado como quem observa a fotografia de uma paisagem bonita. E ainda coloco dois lugares á mesa, duas xícaras de café em cima da pia, e torço, com esperança adormecida, que venhas de imediato passar a mão em volta da minha cintura, acender um cigarro e dizer que a vida era um eco de felicidades que gritava durante os nossos encontros. Foi assim, desabotoando o meu sorriso, as camadas de tecido das minhas roupas. Foi assim, desmontando-me num olhar afetivo, indo embora com outras agonias sondando os teus olhares, foi assim que eu me apaixonei mais. Calculava o tempo em minutos até o dia que te conheci. Você era o meu tempo, o meu passatempo, rota de fuga de longos contratempos, hoje é só mais um tempo perdido dentre tudo que eu nunca disse, mas sempre pensei que você soubesse.

Para a clandestina do meu mais bonito engano.
E mais triste também.

Inserida por AmandaSeguezzi

A verdade que eu sempre evitei.

Dizem que para tudo que olhamos ao nosso redor associamos a algo que a gente ame muito. Eu vejo palavras, um colorido de metáforas tão rápidas quanto um sonho bom. Admiro um mundo encantado no mesmo ritmo em que o bordo com as mais belas estrofes de tristeza bonita. Percebi então que até o céu ficava triste, e quando ele chorava, eu chorava junto, Quando as nuvens se esbarravam num trovão eu os descrevia na tenacidade de uma lágrima também. Chovia em minhas folhas rabiscadas de incertezas um bocado de palavras sem sentido, tempestade tenaz, sublime. Sentia amor nisso também. Então talvez, só talvez, o amor seja cego, inescrupuloso, cruel, ou quem sabe, amor seja algo grandioso, sem significado algum mesmo, algo que não podemos tocar e que nos encanta justamente pelo impossível. Talvez, por uma fração de segundos, esse impossível fosse logo ali, na segunda rua à direita. E aproveitando o embalo das impossibilidades, dos males que habitam o intocável, aproveitando a deixa dos gritos que transpiram em mim feito poema, ouso até a dizer que amor é quando eu escrevo uma poesia no céu e ela dispersa nas nuvens. Sorrio para o impossível, e também para o horizonte acompanhado dos mais belos versos que alegram os meus dias. Isso é amor, amor de poeta, doença curada com doses e mais doses de contos de fadas. Quem sabe o amor esteja nos olhos de quem vê. Quem sabe o amor que eu sinto por tudo que me remete à escrita tenha lhe moldado perfeitamente para mim assim como um perfeito dueto. E eu via amor, nas palavras, nos prédios, nas ruas. Nos muros pichados, nas árvores secas. Eu via amor em tudo o que eu podia eternizar em poesia, em tudo o que eu não podia conter. Acho que você sempre se encaixou nessa categoria, b’shert. E foi ali, no meio do fogo cruzado sem guerra que eu preparava o meu antídoto com o teu veneno. Numa puxada de ar consegui sugar todas as palavras que sempre quis te dizer, mas nunca tive coragem. Enquanto as desembaralhava e as encaixava tentando, ao menos, montar um quebra-cabeça sem sentido, questionava há quanto tempo minhas vontades estavam escritas na palma da tua mão. E eu, que sempre fui ímpar, vê via perdida nos cálculos que fariam o teu caminho cruzar com o meu. Seria tão mais fácil encontrar alguém com o teu nome, com o teu cheiro, tuas verdades. Ilusório vício de querer ser o teu vício. Seria tão mais fácil eu te encontrar, sussurrar o teu nome, apreciar o teu cheiro e ser a tua verdade. Não conta pra ninguém, mas você ainda é a minha. Tinha medo de quê outra pessoa decorasse as tuas monomanias assim como eu fiz. Tinha medo de quê você gostasse tanto desta pessoa que esquecesse as minhas também. Teu orgulho é tenaz, granada de indiferença prestes a explodir.
E eu nem ligo.
Suas asas prateadas lhe impulsionaram ao longe de onde não estou, se é que o céu é o seu lugar.
E eu nem ligo também.
Por que sei que nós vamos repetir os mesmos erros tendo em vista que os novos erros ainda estão lá prontos para serem cometidos. Vamos sumir de vista, mas nunca do coração de quem amamos. Vamos pegar o ônibus errado, rir na hora errada, acordar na cama errada, mas teremos a audácia de tentar consertar as coisas e atribuir um colorido nesta rotina tão cinza. Vamos tentar amar o que nos convém e não apenas usar o que pensamos ser o amor. E descobri-lo, sabe, re-descobri-lo e descobrir de novo. Mudar o rumo num segundo, aproveitar as horas, aproveitar as oportunidades. Vamos assumir os nossos enganos, aceitar o peso da bagagem que por obrigação ou descontentamento carregamos nas costas. Vamos sorrir com a boca mesmo quando o sentimento não dominar o espelho da alma também. Porque, uma vez eu ouvi dizer que somos reféns das nossas próprias vontades, somos linhas desconexas de impulsividade o tempo todo. Decepções são inevitáveis, mas a tristeza é opcional.

Devagar com a solidão, menino, ninguém é feliz sozinho.

Inserida por AmandaSeguezzi

Eu me perdi em algum “E viveram felizes para sempre.” que estava escrito num daqueles folhetins de rua que a gente nunca lê. Talvez eu tenha me enrolado um pouco nas definições de amor colorindo o céu de vermelho apenas para me apaixonar pelo teu todo, sei lá.
Dizem que o amor de um escritor nunca morre, e mesmo morto dentro de tudo que eu sempre achei bonito, estais por aqui, estranho. Entre tantos que me arrancaram risos estrondosos, gargalhadas vergonhosas, apenas você rouba as minhas palavras e sucumbe tudo que há de bom em mim. Sinto-me mal por não ser o teu bem, me sinto mal por você ser o meu mal, mesmo que você nem saiba disso.
Sabe menino, eu escrevo sobre tudo o que já morreu aqui dentro.
Escrevo sobre as metáforas que crio para justificar minhas fugas rumo ao infinito. Inicio da maiúscula até o ponto final milhares de tracejados que combatam a memória ruim. Bordo em palavras sobre o dia que passou, sobre as chances que perdi. Você é a minha chance perdida, você ainda está vivo em algum canto aqui celebrando carnavais. Está aqui, talvez, navegando em uma das veias, controlando um bocado de nervos. Está aqui. Por isso ainda não merece um texto meu, pois eu ainda não te esqueci.
Entrelaçávamos os dedos, porém não os planos, e eu até esquecia os infortúnios no exato momento em que as costas da tua mão direita deslizavam pelo meu rosto. Disse que me amava, e eu não entendia como os teus olhos não eram tão mentirosos quanto a tua boca. Era uma exceção entre todas as exceções, a melhor consequência, a melhor coisa que nunca tive.
Você me amou apenas uma vez. Eu te amei apenas uma vez entre todas as vezes que nunca demonstrei, mas estavam ali, gritando por uma resposta urgente, aturdidas por ouvirem os teus ecos de reciprocidade num único momento de vontades vorazes.
Vou esquecer o outono enquanto te embalo nos meus pensamentos, não existe tempo seco quando o úmido da tua saliva desconecta os meus sentidos. Barganhava o meu zelo, movia-me de acordo com os seus acordos. Ele me desarmava com dois sorrisos e duas mordidas no pescoço.
Porque até o coração vende uma imagem errada de si, não é?
Continuo sentada no muro da existência verbalizando os meus anseios, como se traduzi-los em poemas fossem me fazer voltar num tempo que nem sei ao certo se quero voltar. Quem sabe isso tudo me convença de quê eu choro poesia só para não te perder pro esquecimento, ou apenas para não me perder nos meus próprios devaneios. Embriago-me de possibilidades, rodopio em um olhar que sempre achei que fosse meu. E morro a cada vez que concordo com a cabeça baixa, a cada vez que aperto a mão do destino, engolindo a seco as coisas que poderíamos ter sido – e não fomos.
Enlouqueço aos pouquinhos quando até o moinho de vento canta o teu nome.
Andando por essas ruas não tão familiares sem a tua presença, percebo que nem eu me familiarizo mais comigo. Acho que vai ser assim que vou marcar os teus hábitos na lua e te encontrar a cada eclipse. Eu poderia ter sido o teu sol se você não preferisse as noites estreladas.

Pelo menos alguma coisa sobrou da gente.
O nosso eclipse.

E eu nunca mais te encontrei.

Inserida por AmandaSeguezzi