Poesias de Carlos Drummond de Andrade

Cerca de 282 poesias de Carlos Drummond de Andrade

"Você não pode desistir até que tente
Você não pode viver até que morra
Você não pode aprender a contar a verdade
Até que aprenda a mentir"

Inserida por Kiesza

A administração, organismo autoritário,
é feita de papel, isto é, de figuração de coisas.
(In: O Avesso das Coisas - 6º Edição, 2007.)

Inserida por portalraizes

Construção
Um grito pula no ar como foguete.
Vem da paisagem de barro úmido, caliça e andaimes hirtos.
O sol cai sobre as coisas em placa fervendo.
O sorveteiro corta a rua.
E o vento brinca nos bigodes do construtor.

Inserida por pensador

"Se era tão sedosa e perfumada
que tudo quanto houvera embriagasse,
É certo que era coisas de mulheres
e homens que a elas se entregassem".

Inserida por Claudia31

Não recomponhas
tua sepultada e merencória infância.
Não osciles entre o espelho e a
memória em dissipação.
Que se dissipou, não era poesia.
Que se partiu, cristal não era.

Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.

Convive com teus poemas, antes de escrevê-los.
Tem paciência, se obscuros. Calma, se te provocam.
Espera que cada um se realize e consume
com seu poder de palavra
e seu poder de silêncio.
Não forces o poema a desprender-se do limbo.
Não colhas no chão o poema que se perdeu.
Não adules o poema. Aceita-o
como ele aceitará sua forma definitiva e concentrada
no espaço.

Inserida por rodkalenninfe

"A religião ocupa espaço infinito dentro do homem,
sem que este perca as limitações humanas."

Inserida por evelynda96

Prece de um Mineiro no Rio

Espírito de Minas, me visita,
e sobre a confusão desta cidade
onde voz e buzina se confundem,
lança teu claro raio ordenador.
Conserva em mim ao menos a metade
do que fui na nascença e a vida esgarça:
não quero ser um móvel num imóvel,
quero firme e discreto o meu amor,
meu gesto seja sempre natural,
mesmo brusco ou pesado, e só me punja
a saudade da pátria imaginária.
Essa mesma, não muito. Balançando
entre o real e o irreal, quero viver
como é de tua essência e nos segredas,
capaz de dedicar-me em corpo e alma,
sem apego servil ainda o mais brando.
Por vezes, emudeces. Não te sinto
a soprar da azulada serrania
onde galopam sombras e memórias
de gente que, de humilde, era orgulhosa
e fazia da crosta mineral
um solo humano em seu despojamento.
Outras vezes te invocam, mas negando-te,
como se colhe e se espezinha a rosa.
Os que zombam de ti não te conhecem
na força com que, esquivo, te retrais
e mais límpido quedas, como ausente,
quanto mais te penetra a realidade.
Desprendido de imagens que se rompem
a um capricho dos deuses, tu regressas
ao que, fora do tempo, é tempo infindo,
no secreto semblante da verdade.
Espírito mineiro, circunspecto
talvez, mas encerrando uma partícula
de fogo embriagador, que lavra súbito,
e, se cabe, a ser doido nos inclinas:
não me fujas no Rio de Janeiro,
como a nuvem se afasta e a ave se alonga,
mas abre um portulano ante meus olhos
que a teu profundo mar conduza, Minas,
Minas além do som, Minas Gerais.

***

Amém.

Inserida por ebc123456

INOCENTES DO LEBLON

Os inocentes do Leblon não viram o navio entrar.
Trouxe bailarinas?
trouxe emigrantes?
trouxe um grama de rádio?
Os inocentes, definitivamente inocentes, tudo ignoram,
mas a areia é quente, e há um óleo suave
que eles passam nas costas, e esquecem.

Inserida por tomazdeaquino

Pouco importa o objeto da ambição; ela vale por si, independente do alvo.
Sempre necessitamos ambicionar alguma coisa que, alcançada, não nos faz desambiciosos.
Todas as ambições se parecem, mesmo que se contradigam; só a desambição não tem similar.

Carlos Drummond de Andrade
O avesso das coisas: aforismos. Rio de Janeiro: Record, 1990.
Inserida por AdagioseAforismos

O animal não aprende nossas virtudes, se as tivermos, porém adquire nossos vícios.

O animal costuma compreender mais e melhor a nossa linguagem do que nós a deles.

Não se sabe por que os irracionais falam tão pouco, e os racionais tanto.

Carlos Drummond de Andrade
O avesso das coisas: aforismos. Rio de Janeiro: Record, 1990.
Inserida por Filigranas

A folha

A natureza são duas.
Uma,
tal qual se sabe a si mesma.
Outra, a que vemos. Mas vemos?
Ou  a ilusão das coisas?

Quem sou eu para sentir
o leque de uma palmeira?
Quem sou, para ser senhor
de uma fechada, sagrada
arca de vidas autônomas?

A pretensão de ser homem
e não coisa ou caracol
esfacela-me em frente  folha
que cai, depois de viver
intensa, caladamente,
e por ordem do Prefeito
vai sumir na varredura
mas continua em outra folha
alheia a meu privilégio
de ser mais forte que as folhas.

Inserida por Mary-25Silver

Não morres satisfeito.
A vida te viveu
Sem que vivesses nela.
E não te convenceu
Nem deu qualquer motivo
Para haver o ser vivo.

A vida te venceu
Em luta desigual.
Era todo o passado
Presente presidente
Na polpa do futuro
Acuando-te no beco.
Se morres derrotado,
Não morres conformado.

Nem morres informado
Dos termos da sentença
Da tua morte, lida
Antes de redigida.
Deram-te um defensor
Cego surdo estrangeiro
Que ora metia medo
Ora extorquia amor.

Nem sabes se és culpado
De não ter culpa. Sabes
Que morre todo o tempo
No ensaiar errado
Que vai a cada instante
Desensinado a morte
Quanto mais a soletras,
Sem que, nascido, mores
Onde, vivendo, morres.

Inserida por Binha2309

Evocação

À sombra da usina, teu jardim
Era mínimo, sem flores.
Plantas nasciam, renasciam
para não serem olhadas.

Meros projetos de existência,
desligavam-se de sol e água,
mesmo daquela secreção
que em teus olhos se represava.

Ninguém te viu quando, curvada,
removias o caracol
da via estreita das formigas,
nem sequer se ouviu teu chamado.

Pois chamaste (já era tarde)
e a voz da usina amorteceu
tua fuga para o sem-país
e o sem tempo. Mas te recordo

e te alcanço viva, menina,
a planejar tão cedo o jardim
onde estás, eu sei, clausurada,
sem que ninguém, ninguém te adivinhe.

Inserida por Binha2309

Precisamos descobrir o Brasill!
Escondidos atrás das florestas,
com água dos rios no meio,
o Brasil está dormindo, coitado.

Inserida por francisca_santos_1

Mas foi pintando sujeira
O patamo estava sempre na jogada
Porque o cheiro era bom
E ali sempre estava uma rapaziada

Inserida por backlup

Ambição
A ambição torna os homens audazes;
a audácia sem ambição é privilégio de poucos.
- Carlos Drummond de Andrade, In: O Avesso das Coisas - 6º Edição, 2007.

Inserida por portalraizes

Quando nasci, um anjo torto

desses que vivem na sombra

disse: Vai, Carlos! Ser ‘gauche’ na vida.

(Do poema "Sete Faces"/in: Alguma Poesia, 1930.)

Inserida por portalraizes

"A fé e a incredulidade trocam de lugar a todo momento no homem curioso”.

(em "O avesso das Coisas". São Paulo: Editora Record, 2007.)

Inserida por portalraizes

“A beleza ainda me emociona muito. Não só a beleza física, mas a beleza natural. Hoje, com quase oitenta e cinco anos, tenho uma visão da natureza muito mais rica do que eu tinha quando era jovem”.

( trecho da última entrevista. in: "O suplemento Idéias", do Jornal do Brasil, de 22 de agosto de 1987.)

Inserida por portalraizes

Zen
Prática budista que faz falta a governantes e políticos:
exige meditação profunda.

(In: O Avesso das Coisas - 6º Edição, 2007.)

Inserida por portalraizes