Coleção pessoal de ranish

101 - 120 do total de 509 pensamentos na coleção de ranish

A dama da noite me deixou impregnado,
com o seu perfume.
Acordei na rede da varanda.
A gata preta dormia ao meu lado.

Plix-fix.
Finalmente: sono!
Agora é cama antes que o dia
levante a saia da noite.

M? Não sei. Você é que mudou um tanto, amigo.
Se distanciou mais e mais do seu passado.
Ela continua lá
junto daquele cara que conheceu
mas que agora já não é mais o mesmo.
E assim é: estradas e encruzilhadas
e novamente estradas.
Pessoas se encontram, partilham coisas,
caminham juntas algum tempo
e, depois,
cada qual segue seu rumo
na ampulheta descendente dos minutos,
dos dias, dos anos...
Destino: sinuoso sendeiro onde deambulamos todos
na direção dos braços da inelutável morte.

Meu sábado clareou na lida.
A devintona surfava:
uma curva de nível, outra,
outra, outra,
escapulindo de tocos e cupins.
Com o sol na cacunda
descia atrambolhada a pastaria
da vargem do Piancó.
Fui lá conferir o gado.
E pariram mais quatro.
A Chorosa, a Neguinha, a Baleia e a Patroa.
Por quatro também multipliquei
o meu sorriso.
Curei umbigos, bicheirinhas.
Apartei, vermifuguei...
Agora estou deitado no ladrilho da varanda.
Respirando os vapores perfumados
vindos da cozinha.
Fundo, o meu estômago tagarela
entoa protestos em esperanto.
Respondo-lhe em pensamento:
Espere que “A fome é o melhor tempero”.

Mal amainada a chuva
fui revisitar
duas amoreiras.
1deleite, 2, 3, 4...
Essa, a derradeira: mentira!
Essa, a derradeira: mentira!
Gotas defluíam do céu,
dos galhos.
Rubras, doces, sanguíneas:
AmorAs.
Puxando e sorvendo.
Puxando e sorvendo.
Lábios dulcificados, abatonados.
Língua preta.
Uma no chão,
duas na mão.
Duas na mão,
duas na mão...
E os meus dedos
de tabelião tardio.

Ando sufocado de mesmices.
E de pequenos espasmos insossos.
Preciso alçar voo,
logo.
Antes que tudo desabe sob meus pés.

Depois de um magnífico capellini
acompanhado de um chileno honesto
instalou-se a lombra.
Deitado na rede da varanda escorro em devaneios.
Meus pensamentos lentos desembarcarão logo, logo
na planície do sono profundo.
É preciso.
Álacre e lestamente virá o show do Ratto.
Enfim a cidade sairá da mesmice sertaneja.
Preservarei meus olhos marrons
para o brilho dourado e alegre do whiskey.
E que venha a noite com suas sombras protetoras,
seu acalanto cheio de segredos vorazes,
sua volúpia de mil dedos.

Escolhas e rolhas.

O peso do que queremos.
O peso do que podemos.

A coragem de abandonar o desimportante,
de abraçar o mais ponderoso.

A comodidade do sonho
ou a incerteza da ação?

Você é o que escolhe ser
e, mais, o que não consegue escolher.

A pressa da realidade, o direito à preguiça.
A não escolha é escolha.
A inércia é ato.

Colocar rédeas na vida ou ser por ela levado?

Nem nunca pensamos nisso.
Nem sempre nos damos conta dos
fios invisíveis manipulando nosso destino,
atados à cruz que não cabe na nossa mão.

Apenas o oráculo vermelho
vaticinará futuros prováveis
somando o nosso desejo
ao intransponível muro da realidade.

Somos o que sonhamos ser e o
cotidiano se encarrega de transmutar
quereres em biografia.

Então é hoje?!
Num piscar de olhos
Esvaíram-se tantos anos.
De planos, de vontades, de sonhos!
Alguns tantos invernos floridos...
Felicidades escorridas no tempo
que nem paramos para nos dar conta.
Caminhos e vírgulas.
E segue essa nossa nau rumo
ao indefinido desejado..
Assim eu te deixo
meu abraço de grumete, padrinho:
apertado,
mensageiro de alegrias e de prazeres.
Desejo mesmo que, como na minha lembrança,
Aquele sorriso mouro da sabedoria inocente
continue no seu rosto
para todo o sempre.
Feliz Aniversário!!!

Eis que o Nosferatu dormirá uma vez mais
em hermético ataúde.
Sua caixa de pandora não se abriu
para a felicidade do povo.
Seu saco de iniquidades fechou-se
em um nó cego.
Agora é seguir com os olhos no futuro.
Não, não falta quase nada para coroar
a nossa alegria.
Esperaremos pela chuva para derramarmos
nossas lágrimas de contentamento.
Entrementes, estamparemos pela cidade
nossos melhores sorrisos comemorando
o desterro da quimera,
a inumação temporária do caos.

Coloque um adoçante na sua noite.
Vista algum perfume místico.
Que hoje é sábado,
que hoje é dia bocas vermelhas
e de olhos que brilham.

Os culpados que pagassem
pelas suas culpas,
os inocentes que continuassem a dormir
seu sono dos justos.
Isso sim deveria ser comum
nos nossos dias ditos democráticos,
não o contrário.

6.a feira!
Cervejas,
6.
Você veja:
sextaneja!
De novo?!
...
Que assim seja!!!

Dó.
Chorava aos berros o bezerrinho preto.
De fome e da ausência da mãe.
Roubaram a Julieta, a vaquinha de meu afilhado,
lá na Cachoeira de cima.
Ela, mesmo parida, estava enxutona, boa de carnes.
É mesmo um despautério. O ladrão de gado amansou.
Já é a quinta cabeça que ele nos rouba em três meses.
E o safado é conhecido na vizinhança.
Está enriquecendo a custa do alheio.
Polícia? ... Na Comarca nem temos mais investigadores
e os militares não dão conta da cidade.
Fica a saudade do tempo da jagunçada.
O cabra ficava mês inteiro de tocaia
a espera do gatuno.
Dois ou três balotes: e o danado ia roubar
lá nas pastagens do inferno.
Aí a ladroagem parava.

A máquina está montada para perpetuar
essa estrutura podre
onde políticos só representam a si mesmos
e a quem os financia.
Seria ingênuo pensar que votar nulo
faria parte do jogo.
Quem o faz, e eu me incluo nesses,
é para manifestar a profunda insatisfação
com toda essa farsa.
E até é alentador imaginar
se a população fizesse isso em peso
como é que se justificaria a existência
desse circo.
Fico curioso, imaginando se o voto
fosse facultativo no nosso país.

Que "buena onda" amigo!
A felicidade só namora quem tem olhos para ela.
E assim é: seu otimismo contagiante
faz a alegria transbordar à sua volta.
Todos nós poderíamos,
assim como você,
viver um pouquinho disso.
É botar um tico de ternura no olhar,
algum sorriso nos lábios,
que corpo e alma se fecharão
pra qualquer tristeza.

Que Zeus, o amontoador de nuvens,
feche logo as cortinas do tempo,
liberte algumas hordas de coriscos rugidores
e faça derramar todas as lágrimas dos céus.
Pra matar a sede da terra,
pra tingir de verde a pastaria gris,
pra gatafunhar sorrisos nos meus lábios,
pra clarear os olhos entristecidos
das minhas mimosas.

Eleição é sempre uma pocilga. Chafurdam,
chafurdam, jogam lama uns nos outros...
E nós,
cegos palhaços,
achamos que é circo.

Ficamos assistindo ao espetáculo inertes,
sem nada fazer,
fingindo que não nos diz respeito.

Espectadores torcendo para a vitória
do porco corrupto mais cheio de dentes,
ou com a pança mais anafada.

Quando haverá alguma de democracia direta
nesse país?!

Nossos olhos brilham.
E não é esperança.
É apenas tristeza.
Tristeza de saber de
tudo e não agir.

Violáceas as piscadelas da lua.
Cheia, clara, insinuante.
Todos os lobos uivam enquanto
as sutilezas do seu olhar
perfuram o meu fígado.
Viscosidades que lambem o desejo.
Sorrateiros entumescem bicos
e vidraças inexpugnáveis.
Tão perto,
tão longe.
Geladas inutilidades.
Te abraçar salvaria algumas
das minhas almas.
Seus beijos me mandariam para
o inferno.
Resta nada,
quase nada.
Um último tubo de ar
na profundidade do oceano
ocre.
Um derradeiro olhar
de soslaio
nas sombras
agigantadas pela lua.
Um último querer
escondido entre meu copo
e o impossível.

Ando ridico de palavras,
escravo de mesmices.
Fico triste de domingos vazios.
De pequenas lamparinas
que iluminam mas não aquecem.
Assim sigo tomando os mesmos venenos,
vomitando as mesmas bobagens.
Enquanto o alfange da morte não
ceifar os meus suspiros.
Enquanto os seus olhos ainda teimarem
em não me ver.