Olavo de Carvalho

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[No Brasil,] O ambiente visual urbano é caótico e disforme, a divulgação cultural parece calculada para tornar o essencial indiscernível do irrelevante, o que surgiu ontem para desaparecer amanhã assume o peso das realidades milenares, os programas educacionais oferecem como verdade definitiva opiniões que vieram com a moda e desaparecerão com ela. Tudo é uma agitação superficial infinitamente confusa onde o efêmero parece eterno e o irrelevante ocupa o centro do mundo. Nenhum ser humano, mesmo genial, pode atravessar essa selva selvaggia e sair intelectualmente ileso do outro lado. Largado no meio de um caos de valores e contravalores indiscerníveis, ele se perde numa densa malha de dúvidas ociosas e equívocos elementares, forçado a reinventar a roda e a redescobrir a pólvora mil vezes antes de poder passar ao item seguinte, que não chega nunca.

Ser inteligente é, nesse sentido, como já lembrava Lionel Trilling, a primeira das obrigações morais. Sem inteligência, até as virtudes mais excelsas se tornam apenas caricaturas de si mesmas.

Vamos falar o português claro: várias das igrejas "evangélicas" foram criadas por organizações maçônicas, que têm até mais experiência de infiltração e parasitagem do que os comunistas. O biblismo radical só existe para criar confusão.

Distinção: O ateu não tem motivos para acreditar em Deus. O ateísta acredita que ninguém os tem.

O mundo seria melhor se não houvesse tanta gente prometendo melhorá-lo.

Ser reacionário é reagir da maneira mais intransigente e hostil à ambição diabólica de mandar no mundo.

Um búfalo é muito mais forte e temível do que um leão. A diferença é que o leão quer comer um bife de búfalo e o búfalo não quer comer um bife de leão. Resultado: o leão acaba vencendo.

Um mundo que confia seu futuro ao discernimento dos jovens é um mundo velho e cansado, que já não tem futuro algum.

Numa discussão, o incapaz é invencível. Nenhum argumento infundirá jamais na cabeça de ninguém a capacidade de compreendê-lo.

A Filosofia é uma atividade permanente de esclarecimento. Não se pode reduzi-la a um esclarecimento da linguagem, como pretendeu a escola analítica. Porque, por trás da linguagem, existem questões reais substantivas, pessoas de carne e osso, e assim por diante. Tratar tudo isto apenas como análise da linguagem é o mesmo que confundir a comida de um restaurante com o cardápio. Quando o dono do restaurante fala para o seu cozinheiro "Nós temos que modificar o nosso cardápio", o cozinheiro faz novas comidas reais. Não simplesmente pega o cardápio e decide escrever tudo diferente.
Quando o dono fala em modificar o cardápio, está raciocinando metonimicamente. Não é modificar o cardápio em si, mas as comidas que estão referidas no cardápio. O que os filósofos fazem é isto. Não estão reformulando somente o cardápio, mas estão colocando dentro da lista novos elementos que não existiam ou não tinham sido percebidos antes.
Esta é a finalidade da Filosofia, o esclarecimento permanente das questões tal como se apresentam concretamente na cultura e na vida humana, e não somente na linguagem. Obviamente, a análise da linguagem faz parte disto, mas como um instrumento auxiliar cuja importância não deve ser muito enfatizada ou exagerada. Porque a maior parte dos elementos que você lida são elementos que ainda não têm uma formulação linguística, são elementos de experiência interior e exterior que às vezes escapam da expressão linguística. Por exemplo, quando apareceram os fenômenos das duas guerras mundiais e das tiranias totalitárias, impondo aos seres humanos uma quantidade de sofrimento e de situações absurdas que elas não conseguiam expressar verbalmente. Se você ler hoje a obra de Alexander Zinoviev, professor de Lógica Matemática, perceberá que ele usa o seu instrumental lógico para criar uma nova linguagem capaz de descrever o que a situação real vivida pelos cidadãos do Império Soviético. Experiência que, portanto, transcendia os meios linguísticos de expressão dos próprios personagens que estavam vivendo. Como poderia ser isto uma mera análise da linguagem se a linguagem para expressar aquilo não existia no momento? Tratava-se, sobretudo de sentimentos e vivências mudas do coração humano que Zinoviev puxará de dentro da alma humana para uma expressão linguística finalmente. E é evidente que a análise da linguagem de Zinoviev não é a mesma que o próprio Zinoviev está fazendo dos acontecimentos e das experiências reais.
A filosofia analítica é uma filosofia de brinquedo, que transforma as questões mais temíveis da existência humana em meros jogos de linguagem. Isto é bom para quem quer ficar se divertindo em casa, mas não para quem quer meter a mão na massa. É um divertimento acadêmico apenas. Às vezes, produz algo de real utilidade, não se pode negar. Quando eu digo que a função da filosofia é lançar luz sobre estas questões reais, então não estou me referindo a meras questões de linguagem ou de lógica. A própria lógica como disciplina científica é um dos dados da situação social e existencial que estamos vivendo. Ela tem uma função dentro, entre outros, do universo da ciência e da tecnologia, e é, por assim dizer, uma força social. Então tem que ser analisada também como força social e não somente dentro dos detalhes formais da própria lógica.

O discernimento estético é parte integrante da cultura espiritual. A música, as artes plásticas, o cinema e o teatro são armas letais usadas na desumanização das massas, e isto menos pelo conteúdo propagandístico explícito (uma exceção) do que pelo simples fato de dissolverem o senso estético das multidões pela exposição repetida ao feio e disforme apresentado como normal.

A verdadeira coragem é sempre moral. Coragem é não fugir da morte, da derrota, da humilhação.

Intelectualmente e para efeitos da sua convivência consigo mesmo, e da sua orientação na vida, a modéstia é uma péssima conselheira.

Se, à primeira mágoa ou frustração, você se fecha e sai de campo, sua luta não vai durar nem uma semana. Se quer mudar o curso das coisas, prepare-se para engolir não um sapo ou dois, mas infinitos sapos. Leia a vida de Napoleão. Veja como esse homem, um dos maiores comandantes militares de todos os tempos, sabia aceitar humilhações, transigir, negociar. Será você mais importante do que Napoleão?

Tudo em volta induz à loucura, ao infantilismo, à exasperação imaginativa. Contra isso o estudo não basta. Tomem consciência da infecção moral e lutem, lutem, lutem pelo seu equilíbrio, pela sua maturidade, pela sua lucidez. Tenham a normalidade, a sanidade, a centralidade da psique como um ideal. Prometam a vocês mesmos ser personalidades fortes, bem estruturadas, serenas no meio da tempestade, prontas a vencer todos os obstáculos com a ajuda de Deus e de mais ninguém. Prometam SER e não apenas pedir, obter, sentir, desfrutar.

O amor não é um sentimento, é um modo de ser. É um juramento interior de defender o ser amado até à morte, mesmo quando ele peca gravemente contra você. O amor é mesmo, como dizia Jesus, morrer pelo ser amado. Quando a gente espera que o amor torne a nossa vida mais agradável, em vez de sacrificar a vida por ele, a gente fica sem o amor e sem a vida. O amor é o mais temivel dos desafios, porém, quando você o conhece, não quer outra coisa nunca mais.

Querer estar limpo diante de Deus é inútil, porque só Ele pode nos limpar. Diante da opinião pública, é impossível, porque ela só pensa em nos sujar.

Não sei se alguém lhes avisou, mas o fato é este: Haja o que houver, esta vida sempre termina mal.
A próxima é que é o negócio.
Tudo o que fazemos neste mundo não deve ser movido pela esperança de dias melhores, mas exclusivamente pelo amor a Deus e ao próximo.
Isso é toda a Lei e os profetas.