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Tudo vai passar. A menina da rua estreita que entregava pedaços de fartura. O choro da criança dos anos trinta e a fome que finta aquelas datas marcadas de desnutrição. Tudo vai passar. A fome cantada na década de quarenta, homens de "enta" que foram na vinda sem antigos abrigos na barriga. Tudo vai passar, aqueles arames farpados, o primo português, o preso sem peso, feiuras do estado novo. Tudo passará, até eu que nem sei escrever um poema que cabe numa grande mulher. Tudo passará. Essas peles da antiga juventude, num tempo que se ilude. Ou morre-se, ou vive-se morrendo. Tu já não morre. Tudo passa, até morte passa de uma só vez. O mundo tem girado no canto da boca, num mundo à parte, ao norte que sopra vitupérios. E tudo passará. Quem saberá escrever um poema para um livro vivo. É necessário antes que tudo passa e a memória perca glória.
Beba
Vai amigo,
Beba, mate sua sede.
Tome, consuma o quanto quiser.
Nossa jornada não acaba aqui, ainda falta muito para chegarmos lá...
Nossos sentidos são pareados, e temos segredos inacessíveis que muitos querem saber para depois nos copiar...
Quando chegarmos em nosso destino, vou me despir de poeta e me vestir de menino.
Quero brincar, quero correr, quero balançar.
Quero alegria, quero paz e deixar as euforias para trás...
Quero navegar sem remos, sem velas e sem ventoinhas.
Quero voar como passarinho e descansar em meu ninho.
Cavalgamos tanto nesse ano amigo.
Quero ter descanso para seu lombo tirano.
Quero mais, e vamos abraçar com unhas e dentes esse ano que está se aproximando...
Beba!
Autor; Ricardo Melo
O Poeta que Voa