Poesias de Millôr Fernandes

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Meu destino não passa pelo poder, pela religião, por qualquer uma dessas entidades idiotas. Meu script é original, fui eu quem fiz. Por isso, não morro no fim!

Sabemos que VOCÊ, aí de cima, não tem mais como evitar o nascimento e a morte. Mas não pode, pelo menos, melhorar um pouco o intervalo?

E convém não esquecer que bitributação é quando arrancam seis vezes o dinheiro do cidadão. Pois o normal já é tributação.

Pois se penso demais. Acabo despensando tudo que pensava antes. E se não penso. Fico pensando nisso o tempo todo

Diplomas, títulos, PhDs! A natureza, ao fazer um ser humano competente, por acaso consulta faculdades?

Quando os eruditos descobriram a língua, ela já estava completamente pronta pelo povo. Os eruditos tiveram apenas que proibir o povo de falar errado

Poeminha de Louvor ao "Strip-tease" Secular

Eu sou do tempo em que a mulher
Mostrar o tornozelo
Era um apelo!
Depois, já rapazinho, vi as primeiras pernas
De mulher
Sem saia;

Mas foi na praia!

A moda avança
A saia sobe mais
Mostra os joelhos
Infernais!

As fazendas
Com os anos
Se fazem mais leves
E surgem figurinhas
Em roupas transparentes
Pelas ruas:

Quase nuas.

E a mania do esporte
Trouxe o short.
O short amigo
Que trouxe consigo
O maiô de duas peças.
E logo, de audácia em audácia,
A natureza ganhando terreno

Sugeriu o biquíni,
O maiô de pequeno ficando mais pequeno
Não se sabendo mais
Até onde um corpo branco
Pode ficar moreno.

Deus,
A graça é imerecida,
Mas dai-me ainda
Uns aninhos de vida!

Música, divina música!

Tanto duvidaram dele, da teoria daquele jovem gênio musical, que ele resolveu provar pra si mesmo, empiricamente, a teoria de que não existem animais selvagens. Que os animais são tão ou mais sensíveis do que os seres humanos. E que são sensíveis sobretudo ao envolvimento da música, quando esta é competentemente interpretada.

Por isso, uma noite, esgueirou-se sozinho pra dentro do Jardim Zoológico da cidade e, silenciosamente, se aproximou da jaula dos orangotangos. Começou a tocar baixinho, bem suave, a sua magnífica flauta doce, ao mesmo tempo em que abria a porta da jaula. Os macacões quase que não pestanejaram. Se moveram devagarinho, fascinados, apenas pra se aproximar mais do músico e do som.

O músico continuou as volutas de sua fantasia musical enquanto abria a jaula dos leões. Os leões, também hipnotizados, foram saindo, pé ante pé, com o respeito que só têm os grandes aficionados da música. E assim a flauta continuou soando no meio da noite, mágica e sedutora, enquanto o gênio ia abrindo jaula após jaula e os animais o acompanhavam, definitivamente seduzidos, como ele previra.

Uma lua enorme, de prata e ouro, iluminava os jacarés, elefantes, cobras, onças, tudo quanto é animal de Deus ali reunido, envolvidos na sinfonia improvisada no meio das árvores. Até que o músico, sempre tocando, abriu a última jaula do último animal - um tigre.

Que, mal viu a porta aberta, saltou sobre ele, engolindo músico e música - e flauta doce de quebra. Os bichos todos deram um oh! de consternação. A onça, chocada, exprimiu o espanto e a revolta de todos:

- Mas, tigre, era um músico estupendo, uma música sublime! Por que você fez isso? E o tigre, colocando as patas em concha nas orelhas, perguntou:
- Ahn? O quê, o quê? Fala mais alto, pô!

MORAL: OS ANIMAIS TAMBÉM TÊM DEFICIÊNCIAS HUMANAS.

Dizem que quando o Criador criou o homem, os animais todos em volta não caíram na gargalhada apenas por uma questão de respeito.

O ser humano ainda não tinha aprendido a amar o próximo e já inha inventado a televisão que ensina a desprezar o distante.

"O comunismo é uma espécie de alfaiate que quando a roupa não fica boa faz alterações no cliente."

A imprensa brasileira sempre foi canalha. Eu acredito que se a imprensa brasileira fosse um pouco melhor poderia ter uma influência realmente maravilhosa sobre o País. Acho que uma das grandes culpadas das condições do País, mais do que as forças que o dominam politicamente, é nossa imprensa. Repito, apesar de toda a evolução, nossa imprensa é lamentavelmente ruim. E não quero falar da televisão, que já nasceu pusilânime

Assim, desajeitados,
Carinho ocasional
Sem projeto final
Nem sonhos à distância
Sem sombra ao sol,
Também sem ânsia,
Soneto (a meu modo e maneira)

Apenas companheiros de estrada
Ruas, valas, alguns quintais,
Dias, noites, noites e dias,
Sol e chuva ocasionais
Vamos.
Onde as paralelas se encontram,
Lá,
Nos separamos.

P. O curso do rio, dá diploma?
R. Só se o sujeito for muito pro fundo.

P. Camisa de onze varas, vem com punho duplo?
R. Pelo contrário, vem com manga de colete.

P. Corrente marinha, serve pra amarrar cachorros?
R. Não, mas serve pra arrastar imbecis.

P. Dor de dente, dói?
R. Não, o que dói é a anestesia.

P. Na Bienal, tem fratura exposta?
R. Quando os críticos entram em desacordo.

P. Um perneta, pode passar a perna em alguém?
R. Se pode! Com um pé nas costas.

Saudação aos que vão Ficar

Como será o Brasil
no ano dois mil?
As crianças de hoje,
já velhinhas então,
lembrarão com saudade
deste antigo país,
desta velha cidade?
Que emoção, que saudade,
terá a juventude,
acabada a gravidade?
Respeitarão os papais
cheios de mocidade?
Que diferença haverá
entre o avô e o neto?
Que novas relações e enganos
inventarão entre si
os seres desumanos?
Que lei impedirá,
libertada a molécula
que o homem,
cheio de ardor,
atravesse paredes,
buscando o seu amor?
Que lei de tráfego impedirá um inquilino
- ante o lugar que vence -
de voar para lugar distante
na casa que não lhe pertence?
Haverá mais lágrimas ou mais sorrisos?
Mais loucura ou mais juízo?
E o que será loucura?
E o que será juízo?
A propriedade, será um roubo?
O roubo, o que será?
Poderemos crescer todos bonitos?
E o belo não passará a ser feiura?
Haverá entre os povos uma proibição
de criar pessoas com mais de um metro e oitenta?
Mas a Rússia (vá lá, os Estados Unidos)
não farão às ocultas, homens especiais
que, de repente,
possam duplicar o próprio tamanho?
Quem morará no Brasil,
no ano dois mil?
Que pensará o imbecil
no ano dois mil?
Haverá imbecis?
Militares ou civis?
Que restará a sonhar para o ano três mil
no ano dois mil?

in "Pif-Paf"

Millôr Fernandes
Papáverum Millôr

POEMINHA SEM OBJETIVO

Me elogia, vai!
Escreve um troço, aí!
Não dói não; faz de conta
Que eu morri.

A televisão é uma maravilha tequinológica (sic) que levou ao extremo o barateamento da popularidade.

Inserida por cauech

Essa pressa leviana
Demonstra o incompetente:
Por que fazer o Mundo em sete dias
Se tinha a Eternidade pela frente?

Nova Geração.
Tenha o ter sem que o ter ti tenha.
O que era já não é mais,
e o que é já está evoluindo.
Mas nos ainda somos os mesmos
levados pela emoção, dotados de razão, seguindo nosso próprio coração.

Você esta presente para quem esta ausente e esta ausente para quem esta presente.

Cuidado para não ser tarde de mais.

Morrer rico é extrema incompetência. Significa que você não usufruiu, ou pelo menos não usufruiu todo o seu dinheiro. Além disso, um rico que gasta tudo o que tem antes de morrer, livra os seus herdeiros do odioso imposto de transmissão.