Poemas de Jaak Bosmans

Cerca de 143 poemas de Jaak Bosmans

Perpétuo

Caminho por lugares vastos
Onde ouço apenas o arfar dos rochedos
Ali, onde a liberdade se fixa
Porque qualquer movimento é prisão.

As cadeias fortes das cordilheiras.
Algemam no seu ventre qualquer neblina.
Apenas a presença forte de qualquer sol,
Derrete e a liberta antes da condenação.

E do sêmen deste calor e liberdade
Rompe-se em nova aurora
Do fecundo e perpétuo grito
Um movimento, ainda que foragido.

Quietude da escravidão dos ventos.
Retorna aos mares a porção líquida e menor
Que se fez liberto de toda essa corrente:
A criatura, o criador e muita dor!

Jaak Bosmans 31-12-08

Inserida por JaakBosmans

Desaparecer do dia

Foi no primeiro desaparecer do dia
Que com ternura e sonhos de aventura
Te abracei nas matizes que se fizeram em cores.

Olhei sereno o tempo e o espaço que se fundiram,
Num silêncio perfeito para a criação de um Éden.
Te criei em tanta beleza, que somente ali me permiti sorrir.

Correste ao encontro do mais perfeito jardim.
Colorindo as flores, fazendo cantar os pássaros, atrasando o tempo.
E no suave tocar de tuas mãos me fizeste sentir os teus desejos.

A todos satisfiz, porque a todos te pertenci.
E, em retorno pelo tempo e no espaço,
Ficaste ainda, no último desaparecer do dia.

Jaak Bosmans 1-1-09

Inserida por JaakBosmans

Cupido errante

Vou por melodias e ritmos me perder
Em teus encantos, que não percebem
Cada compasso, circundando toda a sinfonia.
São flautas, violinos, harpas e percussão,
Que se encontram na ponta de uma batuta.

Seu olhar disfarça a dissonância
Que existe entre o meu acorde e sua voz
Ali no lugar do nosso encontro
A cortina sempre se fecha mais cedo.
Pelas mãos inocentes do cupido errante.

E o último acorde fica sempre no ar,
Onde lembra a despedida nos ecos do coração
E em moto contínuo, te espero no próximo compasso.
O compasso da espera, sem notas, só pausa.
Silêncio perdido entre as notas que se foram!


Jaak Bosmans 2-1-09

Inserida por JaakBosmans

Por onde me procuras?

Por onde me procuras?
Entre as flores e as nuvens?
Não! Muito longe delas estou
Em paisagens campestres e silêncios?
Porque me procuras?
Acaso me queres?
Guardar-me?
Aprisionar-me em tão pequeno espaço?
Só posso existir na liberdade de ser.
Por onde me procuras?

Jaak bosmans 21-12-08

Inserida por JaakBosmans

Pedido
(poemeu a Millôr)


Não me abandones no início dos teus versos.
Termina o poema... Vai!

Jaak Bosmans 3-1-09

Inserida por JaakBosmans

Desagravo de mim

Hoje mergulhei no mar dos meus sonhos inacabados
Subi as montanhas dos meus sucessos inacessíveis
Corri ao tempo passado que levou as mais puras esperanças
Lutei sem armas contra as barreiras de toda as intolerâncias.

Hoje me matei com saudades
Contorcendo sem do e sem dor,
De toda amargura, de todo abandono.
Derramei em gritos todas as agonias, tristezas e mágoas.

Teci novos horizontes com fios novos e fortes
Apertei os lábios num último desagravo ao que vivi
E no pequeno jardim da minha antiga prisão
Cantei a primeira canção, desacorrentado e livre!

Jaak Bosmans 11-1-09

Inserida por JaakBosmans

Iguais.

Que bom ser assim
Exatamente como todas as pessoas não são
Ser igual a todos com todas as diferenças
Ter tudo, que os outros têm e saber
Que nada tenho!
Eu divirto em sorrisos e gargalhadas,
Enquanto choram pelo sorvete derretido.
Roubo goiabas, cigarros e amores,
Durante o tempo em que eles se roubam.
Toco ainda as mesmas músicas e canto desafinado,
Para o aplauso ébrio das mesmas pessoas.
Tenho tanto pra fazer que, prefiro descansar primeiro,
Vendo saltos altos, gravatas e paletós,
Prontos para um encontro tosco.
Luz de velas, champanhe ou vinho,
A grande farsa que ainda é galanteio.
Na mesa ao lado, converso em versos,
Batatas fritas e como foi seu dia.
E aí sim, vem o melhor: saímos a passear!
Que bom ser tão igual.

Jaak Bosmans 12-01-2008

Inserida por JaakBosmans

Vapor do adeus

Te via partindo
Da vidraça em gotas de chuva
Enquanto ainda escutava
“Ne me quitte pas”

Rua deserta sombria e calma
Nada mudava na sua passagem
Gotas solenes marcavam mais dor
Lavava o passado, levava você.

Perdia um sonho que apenas sonhei
Presença cruel da maior ausência
A música parou, e tudo acabou.
Só na vidraça ficou meu vapor!

Jaak Bosmans 7-1-09

Inserida por JaakBosmans

SONHOS

Sonhos não se diluem em ácidos beijos
Não se desintegram em falsos abraços
Sonhos são resistentes.
Mesmo não sonhados.

Sonhos são fortalezas da utopia.
São guardiões da próxima realidade.
Sonhos pertencem apenas à liberdade.
Mesmo aprisionados em tantos corações.

Aos sonhos não pertence o medo.
Apenas aos sonhos é dada a licença de
“querer é poder”.
Sem torturas, violências, ou limites.

E no grito de apenas uma dor
Me liberto do sofrimento de ser real.

Jaak Bosmans 12 -12 -2008

Inserida por JaakBosmans

Alma cruel

para M. A.

Olho bem nos teus olhos
Apesar das mãos já trêmulas
Com pequeno esforço, ainda me sento na velha cadeira de rodas
Sem jamais deixar de olhar bem nos teus olhos
Assim posso te ver a alma.
E não consigo imaginar de onde viestes,
Alma cruel e má!

Jaak Bosmans 2008

Inserida por JaakBosmans

Todo pudor será castigado

Descalça-me os pés lentamente
Pendura o vestido em cuidados
A blusa jogue-a pela janela!
Do resto me castigo eu.

Jaak Bosmans 9 -01-09

Inserida por JaakBosmans

Álbum do engano

Tenho em lembrança a mais densa noite de meus prazeres.
Ao teu lado te abraçando em suavidades e desejos.
Numa noite em que tudo se revelou em amores
Com perfumes sonoros, lençóis ao chão, nem eu nem você.
Apenas um engano de tudo que passou.

Não se contam noites como se contam dias.
Mais curtos os dias, mais longas as noites quando da solidão!
Naquela noite percebi apenas um beijo do nunca mais!
Nada a perdoar por tudo ter sido apenas enganos.
Apenas enganos de tudo que passou.

Partida sem adeus, naquele sombrio dia ensolarado.
A casa abandonada, retratos em cinzas na lareira.
Do dia sacramentado com o contrato do engano.
Jurado pra sempre na saúde e na doença, era só um ritual.
Apenas o engano ali já começava...

Jaak Bosmans 17-01-09

Inserida por JaakBosmans

Delicata

De nada me serviria te olhar
Se em mim não existissem reflexos
De tudo que em mim te habitas

Na grande aventura do querer
Me basta poder te entender

Não me fales de amores impossíveis
Que deles sei bem conhecer
Em perdas que me valeram
O ganho maior da vida

De tão longe fizeste perto
O que ainda posso sentir
Como fogo de ardente desejo

Saber que posso deitar
Receber teus lábios nos meus
E de olhos ainda fechados
Saber que você chegou!

Jaak Bosmans
6-1-2008

Inserida por JaakBosmans

Içar velas!

E passa a tempestade, vem a calmaria, descanso e descaso.
Novos ventos!
Novas paisagens!
Içar velas! Singrar outros mares e amores!
Partir!
Nem cedo nem tarde!
Ter estrelas como guia!
Aventura como vida!
Deixo meu sorriso;
Preciso chegar do outro lado,
Onde danço na areia.
Com o vigor que deixei morrer.
Na espera de tantos desalinhos.

Jaak Bosmans 16-01-2008

Inserida por JaakBosmans

Véu

Nenhum véu é capaz de cobrir sua pureza.
Apenas tira a nitidez de seus traços,
Seu sorriso, seu olhar.
Nenhum véu é capaz!
Nem nos seus mais íntimos prazeres
Cobrir a doçura de sua entrega.
Não!
Sua pureza é mágica e escondida.
Guardada em lugar seguro,
Que só se abre com segredos do coração.

Jaak Bosmans 30-01-09

Inserida por JaakBosmans

Código do desencontro

O sabor que te fez em mim se desfez por entre as nuvens
Perdendo o encanto de tantas entregas agora perdidas
Tirei da gaveta a roupa mais nova, só pra despedir, ainda solene.
Como foi o encontro, em um dia qualquer, agora distante.

De encontros sonhados, prazeres em esperas, de nunca mais!
Desfez-se o encanto, de tanto desejo se transformando em visões.
Querer- te em meus braços, no aroma de incensos agora apagados.
Descer das nuvens em forma de chuvas de gotas amargas.

Surpresa? Quem me dera ainda fosse!
Previsto no código do desencontro e desconfiança.
Que se reparte entre os nefastos e doídos da vida.
Para a preservação de uma espécie em extinção.

Jaak bosmans 7 -2- 09

Inserida por JaakBosmans

Vista a fantasia

Passou o ano e é hora de brincar
Carnaval na porta, na janela e no ar.
Palhaços se vestem como se nunca tivessem sido,
Mulheres que dançaram o ano todo,
Sem perceber, se fantasiam em bailarinas.

É hora de brincar apenas com ritmos e cantos repetidos,
Serpentinas rasgam os céus e enforcam tristezas, mágoas e saudades.
Confetes colorem os copos já cheios, logo tragados sem recatos.
Olhares se confundem, beijos são trocados, outros só tocados.
Agora bem juntos já não sabem nem brincar.

Corpos vestidos de pele humana é fantasia barata.
E na sua simplicidade faz mais sucesso que penas de pavão,
Em desfiles, nos concursos, clubes e nas camas.
Entre na brincadeira porque depois tudo vira cinza mesmo.
Retira essa tua máscara de ano inteiro e desfile a fantasia que você é.

Jaak Bosmans 21 -02-09

Inserida por JaakBosmans

Futuro conjugado

De virtudes e cumplicidades se refez passados
Nunca como o presente vivido em tantas agonias
Passado de glória do sangue inocente
Se é que possa existir algum sangue culpado.
Desfez-se a humanidade em pretéritos inacabados
Em mais do que perfeitos sinais de decadência
De tudo que construímos no presente imperativo
Sem nenhuma importância do afirmativo ou do negativo,
Desde que o imperfeito conceda lugar à desesperança.
Mas jamais se esquece dos inesperados intransitivos.
Que tardam aconteceres e precipitam o final das histórias.
Apenas para se fazer Verbo e voltar a existir entre nós.
E assim já sinto saudades.
Saudades do futuro.

Jaak Bosmans 14-02-09

Inserida por JaakBosmans

Entre o fim e o início.

Percorri todos os meus lugares de estar,
Para me perder em tuas promessas, afagos, e fuga.

Não que te quisesse até algum final, enganoso e infiel.
Muito mais por acreditar na magia dos finais infelizes,
Nos inícios remarcados por incertezas, aventuras e eu.

Respostas cruéis de quase nada do que pergunto,
Guardo sempre como não experiência para tudo renovar.

Jaak Bosmans 11-03-09

Inserida por JaakBosmans

Sonhar um beijo

Quando me perco nas alamedas escuras da cidade
Guardo o tempo em calçadas de pedras onde me deito.
Olho apenas estrelas esperando por algum beijo perdido
Disparado em direção a algum amante bêbado e tolo.

Janelas se fecham, e luzes se apagam em ritmo de noite.
Os pertos mais lentos, e os longes bem rápidos.
Sincronizam sempre com os choros e gritos.
Dos amores e das dores, que a noite sempre agasalha.

Adormeço nas pedras coberto de estrelas, quando me chamam.
Ainda sonhando ouço tua voz bem perto sussurrar meu nome.
E em deboches, risadas e com certeira facada, gritas em ecos:
És um bêbado! És um tolo!

Jaak Bosmans 12 -03-09

Inserida por JaakBosmans