Balanceando Contrariando minha própria... Paulette Virgínio

Balanceando

Contrariando minha própria vontade
Percebo que minhas verdades
Hoje não serve
Para o que disse ontem.
Se no passado acreditava em mitos
Seres fantásticos
Hoje a realidade me faz conviver
Com carnes e ossos.
O colorido das roupas e dos espaços
Já não brilham tanto nas minhas pupilas
E me esqueci disso.
Passei a cobrar de mim mesma
Resto de alguém que não mais existia
Houve um tempo em que borboleteava pela vida
E tinha medo de pisar no chão
Fechava os olhos à miséria
E o cor-de-rosa predominava.
Não dá mais pra policiar
O que já não sou
Há muito tempo a gaiola se abriu
E não sei ao certo se escolhi
Ratos ou sapos
No fundo do poço há cobras e lagartos
Esperando os demônios de cada um
Minhas incertezas de hoje
São verdades do futuro
Misteriosamente vou me aprofundando
Cada vez mais dentro de mim
E me espanto ao me ver diferente
Espelhos múltiplos, mil faces.
A noite chegou e continuo
A insistir que é dia
O barco pousou no porto
E dispensei a viagem
Hoje quero viajar e
Me falta port, me falta barco
Queria percorrer estranhos mundos
E em cada um recolher um pouco de mim
Juntar todos os pedaços
E o que sobrar de sólido, serei eu
Novamente pronta pra desintegrar
Em mil pedaços, mil cacos, mil sacos...