Há certas coisas que reconhecemos... Ana Beatriz Figueiredo Mota

Há certas coisas que reconhecemos necessitar delas para viver. Há outras que apenas existem em nossas vidas por acaso ou para preencher lacunas.
Quando entrei para o meu atual curso de graduação, letras (português), já tinha minhas convicções formadas a respeito do que desejava pra mim e, mais ainda, daquilo que não desejava.
Apesar de ter sido uma boa aluna de português e biologia, tais abordagens nunca me interessaram, a não ser o fato da literatura tornar-se presente nos momentos em que escrevia por catarse ou por nenhum motivo. Escritos estes que poderiam até se tornar relevantes, não fosse meu espírito muito mais inquieto e sagaz que a “plausível” alma dos literatas.
Descobri com o tempo: “Não nasci para escrever para os outros.” E não aceito hipocrisias a respeito do fato de nascermos ou não determinados, até porque não creio em destino; mas acredito que tais fatos e compreensões podem lhe aguçar a alma desde a mais tenra idade, outras não.
Então, para ser clara e coerente, me esbarrei no português como alguém que esbarra num muro de concreto. Escrever, sei. Não sei e nem quero ter na minha vida a incontestável futilidade gramatical, a sintaxe mórbida, a ortografia remediada.
Meu marido, que ao contrário de minhas frustrantes escolhas, mas não de minha alma, é professor de física e matemática, me revela ao decorrer de sua longa jornada de estudos e trabalhos uma ciência maravilhosa e ,essencialmente, muito mais próxima a Deus.
Numa casa ornada de livros, de todos os tipos e gostos, comecei a provar desde menina os sabores de alguns. Posso não entender de física, mas me emociono ao ler trechos de Fritjof Capra, Albert Einstein; biografias de Newton, Currie e suas essenciais e maravilhosas ciências.
Considero abusivo e ignorante a opinião de ditos “letrados” que ironicamente maldizem as ciências exatas com suas estipulações de botequim: “Para que serve isto” ou “ O que vamos fazer com a matemática?”.
A verdade não é o que faremos com a “matemática” e sim o que ela faz por todos nós desde os primórdios. Talvez estes escritores velhacos entendam-na se saírem um pouco de seus primitivos contextos amorosos e ilusórios e olharem para os lados. Vamos começar pelas aparelhagens hospitalares, pela tecnologia que permite a nós conversarmos por celulares, MSN, palm-s; para o vasto mundo que nos circunda com carros, letreiros, músicas em mp3, mp4, cinemas, televisões, maquinários industriais, comerciais, etc. Na verdade a pergunta seria: “O que a matemática não tem feito por você?”. E a resposta é evidente: não há nada em que ela não esteja presente.
Confesso que muitos escritores ainda diriam: “Não utilizo computador para redigir, uso a manual máquina de datilografia”. Pergunte-o: “E que profissional criou a máquina de datilografia?”.
Não há como esconder. Se algumas pessoas, por mais vazias ou não, consideram suas ciências interessantíssimas, que retirem suas viseiras antes de estipularem sobre ciências que não lhe são sequer compreendidas superficialmente.
Por fim, não gostaria de estudar matemática ou física. Considero-me imatura para tal fenomenal lógica mundial. Sou apaixonada pela área de gráficos, desenhos industrias e design. Quem sabe um dia consiga ter coragem suficiente para colocar um ponto final nesses vazios discursos gramaticais e me entregar completamente à ciência tecnológica de criação, que não me levará completamente à física ou à essencial matemática, mas me colocará lado a lado à elas. Pois em todas as outras ciências há enormes vestígios destas e muitas pessoas fingem não ver.
Me orgulho do meu marido que ama o que faz e não haveria como não amar. Me invejo dele pelas horas infindáveis de estudos com alma e coração. Me perguntava o que o levava à isso e termino concluindo e saciando minhas próprias dúvidas com uma frase de Murray Gell- Mann:
“É a aventura mais perseverante e grandiosa da história humana – essa busca de compreender o universo, como ópera e de onde veio. É difícil imaginar que um punhado de habitantes de um pequeno planeta que gira em torno de uma estrela insignificante numa pequena galáxia possa ter por objetivo uma completa compreensão do universo em sua totalidade, um grãozinho de criação acreditando realmente ser capaz de compreender o todo.”
É esta a real diferença entre os lingüistas, poetas, gramáticos e os físicos, metafísicos, matemáticos e cientistas. Enquanto os primeiros almejam e procuram, desesperadamente, entenderem e traçarem a compreensão humana e divina em algumas metafóricas linhas, os segundos já conhecem infindamente, expressam claramente e vivem intensamente desta essência, há muito tempo. E o mais importante: sem se mostrarem arrogantes e soberbos com as outras ciências. Pois têm a perfeita compreensão que no mundo tudo se interliga para o bem comum.
É maravilhoso reconhecer a mais nítida essência divina presente nas coisas criadas e, mais ainda, saber que as ciências exatas nos aproximam de toda essa criação, de Deus e de nós mesmos.