REMISSÕES II O palhaço riu da própria... Eddi Tavares

REMISSÕES II


O palhaço riu da própria tristeza; a beleza ocultou-se no seio da princesa. Cadê o sentido da sabedoria?
Talvez esteja no sorriso da criança, talvez esteja na dança do frade maluco.
Eu ví uma mãe que chorava na auróra e a sua visão era de esplendor. Mas do céu não vinha luzes, nem harpas, nem arcanjos.
Ví o roceiro semear sementes de dor, e esperança do alívio da dor; e ele colheu a fome. E ele colheu a vergonha da fome que deu aos seus filhos.
Eu ouví os sinos da redenção por um povo mortificado e boquiaberto; e os sinos eram cruéis, funestos.
Havia um caminho que bifurcava depois do Monte das Oliveiras. Mas o Homem não estava mais lá. Havia sómente a tristeza e o sentimento de perda. O sol brilhou vermelho e gotejou sangue.
Por quê aquele indigente tinha tanta culpa? Ora, ele era a minha única esperança. Mas ele já se foi, num caminho tão alto que me cansa a visão e a fé.
Todo o prazer nasce da dor. Eu vou ficar aqui nos meus pecados, nas minhas atrofias de emoções.
De uma coisa eu tenho certeza; a remissão que eu tanto busco se esconde dentro de mim mesmo.