O VASO PARTIDO O vaso azul destas... Sully Prudhomme

O VASO PARTIDO O vaso azul destas verbenas, Partiu-o um leque que o tocou: Golpe sutil, roçou-o apenas Pois nem um ruído revelou. Mas a fenda persistente, Morde... Frase de Sully Prudhomme.

O VASO PARTIDO

O vaso azul destas verbenas,
Partiu-o um leque que o tocou:
Golpe sutil, roçou-o apenas
Pois nem um ruído revelou.

Mas a fenda persistente,
Mordendo-o sempre sem sinal,
Fez, firme e imperceptivelmente,
A volta toda do cristal.

A água fugiu calada e fria,
A seiva toda se esgotou;
Ninguém de nada desconfia,
Não toquem, não, que se quebrou.

Assim, a mão de alguém, roçando
Num coração, enche-o de dor,
E ele se vai, calmo, quebrando,
E morre a flor do seu amor;

Embora intacto ao olhar do mundo,
Sente, na sua solidão,
Crescer seu mal, fino e profundo,
Já se quebrou: não toquem, não.

Sully Prudhomme
Trad. Guilherme de Almeida
(*) Prêmio Nobel de Literatura 1901