OS PEIXES DE UM SHOPPING Estava eu... Mariane Machado

OS PEIXES DE UM SHOPPING


Estava eu tomando solitariamente um café em um shopping quando observei uma mesa em frente a uma lagoa artificial, lagoa esta, construída na área de lazer do empreendimento. Não pensei duas vezes e para lá eu fui. Assentei meu corpo relaxado na cadeira e coloquei o copo de café sobre a mesa limpa. Após essa grande atividade física comecei a observar mais atentamente aquela lagoa artificial e pude ver que dentro dela havia alguns peixes de coloração alaranjado. Estudei cada trajeto que aqueles pequenos seres de cores vibrantes faziam e percebi que eles não se cansavam de realizar o mesmo caminho várias vezes por minuto. Ali naquela pequena lagoa eles estavam totalmente seguros. Não havia predadores. Eles tinham alimentação controlada, água limpa e admiradores o dia todo. Admiradores observadores, distraídos e até mesmo aqueles que pensariam profundamente sobre a maçante e segura rotina daqueles pequenos peixes. Comecei a pensar que eles fariam o mesmo trajeto utilizando suas nadadeiras freneticamente dia após dia até chegar o fim de suas simplistas vidas. Esse pensamento me causou aflição e me fez refletir sobre várias coisas que estão ao meu redor. Aqueles peixes só conheciam aquela lagoa. Aquele pequeno território geográfico. E se eles tivessem a oportunidade de conhecer um rio e sua feroz correnteza, uma lagoa de verdade e um mar de infinitas possibilidades. Seriam eles mais felizes? Mesmo estando a poucos centímetros de terríveis predadores? Possivelmente durariam menos, mas poderiam trocar a ração oferecida pelos funcionários do shopping por qualquer banquete desejado, nadar em correntes quentes e em correntes frias, não teriam admiradores convencionais, mas os mais excêntricos possíveis. Seriam eles peixes sortudos ou peixes condenados a uma crueldade sem tamanho? Mas como os peixes podem se sentir condenados se eles só conhecem aquela pequena lagoa? Para aqueles peixes aquela lagoa é o mundo. Os peixes só irão condenar aquela lagoa quando conhecerem o que transcende a barreira de concreto pintado de azul. Quantas vezes em algumas situações e momentos em nossas vidas pensamos conhecer o mundo, suas leis e suas verdades, mas nos esquecemos de que em nossa volta, assim como aqueles peixes tinham aquela barreira de concreto, nós temos várias barreiras impostas por mim, por você e pela sociedade. Barreiras que nos limitam. Barreiras que nos aprisionam. Barreiras que nos tiram do verdadeiro caminho de nossas vidas. Ousando quebrar essas barreiras você poderá encontrar assustadores predadores. Poderá durar até menos, em contrapartida poderá levar a vida que quiser, a vida que de verdade sentir. A nossa ignorância nos transformou em pequenos peixes de uma lagoa artificial de um shopping. Estaríamos nós nos condenando a crueldade?