Bem-te-vi Oh, passarinho verde porque me... Romulo Hendges

Bem-te-vi

Oh, passarinho verde porque me traíste?
Ora eu que sempre te alimentei
Dei-te os melhores grãos de girassóis pra que tu feliz se sentisse.

Dei-te a mais límpida água para que a sede de outros ninhos não te corroeste.
Vejo agora que nada que lhe dei fora suficiente.

Mas caro tratador não te traí.
Logo tu que deslumbrava-se com meu canto, deixou-me de lado e só dava atenção ao bem-te-vi.

Esqueceu-se que passarinho
esquecido, deixado de lado, criado em gaiola, ao ver uma brecha resolve partir.

Mas não quero que culpe-se amigo cuidador.
Não esqueci de tuas cristalinas águas que minha sede abarrotava, nem dos grãos que a minha fome afugentava.
Menos ainda de ver teu sorriso que ao me contemplar brotava em seu rosto e ali ficava.

Quero que saibas velho amigo, sei que não tenho do melhor canto
nem mesmo da mais bela pluma, apenas um sonho: desse pequeno coração volte a bater da forma que um dia a em ti encontrei o ensejo da vida, o brilho da água, a pureza do grão.

Não preocupe-se ficarei longe dos felinos, pois tenho a certeza que nenhuma dor seria maior que ver teu coração ser do bem-te-vi.

Ao tu conheceres de outros ninhos, a mim conheci e também percebi que o mundo é imenso demais para pra ficar somente aqui.

E é num desses rasantes
que a ti eu espero
feliz com o canto,
que não produzi.

Nesses versos, que agora eu bato
o resto de asas que até agora resisti.
Não para outros ninhos mas para onde meu bico achar que eu deva ir...