Sopros Alberto Duarte Bezerra Palavras,... Alberto Duarte Bezerra

Sopros

Alberto Duarte Bezerra

Palavras,
Ah, palavras!
Que brotam da minh'alma,
Em frases que parecem já feitas,
Encomendadas, não sei,
Chegam-me ao ouvido, enviadas,
Desbravando seu caminho,
Vindas lá de dentro,
Num turbilhão, sem parar.
E sem escolher dia ou hora,
De vir, se abeirar,
Se avizinham a mim,
Reivindicando o meu soprar.
E a inquietação me aborda,
Sem ao menos licença pedir,
Tomam conta dos meus pensamentos,
Me invadem, sem cessar.
Vão chegando sem disfarces,
Irrompendo meu silêncio,
Já anunciando um chegar.
E de uma forma desmedida,
Numa ânsia de falar,
Abro pois, caminho a elas,
Pra dar o recado encomendado,
Dizer, o que vieram contar.
E eu contente as obedeço,
Assistindo o seu desfilar,
Que vai fazendo de mim um personagem,
Obediente, sem disfarces,
Controverso e destemido,
Que não teme interpretar.
E desse jeito sinto, de forma plena,
Como se fossem minhas,
As dores que não quero sentir,
Alegrias que quisera viver,
Saudades de tempos alheios,
As quimeras, as fantasias,
Também as angustias,
Que não gostaria de ter.
Sinto as paixões dos amantes,
A solidão dos apartados,
A sabedoria dos prudentes,
A ingenuidade de uma criança,
Os encargos e prêmios do viver.
Lembranças de momentos idos,
Desalento por amores perdidos,
As belezas do viver,
As inquietações do ser.
E desta forma, vivo estes momentos,
E os divido, com palavras minhas,
Contando pra vocês,
Da forma, como mandado,
Estes sentimentos tão humanos,
Dormentes, escondidos,
Às vezes, aprisionados.
Da forma que consigo traduzir.
Como os sinto.
Como consigo dizer.