AQUILO Um mestre havia que dizia chamar-se “aquilo” tudo...

AQUILO
Um mestre havia que dizia chamar-se “aquilo” tudo quanto existia.
Deus também era aquilo e aquilo tudo também seria Deus.
Aquilo estava em tudo e tudo estava naquilo.
A vida consistia em mudar, transformar ou aceitar aquilo.
Sim, dizia ele: “Aceite aquilo como aquilo é, quando não puder mudar aquilo e transformar naquilo outro.”
Diante do apaixonado, ria ele, a dizer: foi fisgado por aquilo.
Irreverente e bem-humorado, o mestre proferia a sua bendita palavra, no tom mais elevado, e, com grande pureza, às ações mais degradantes.
Questionado como se atrevia a dizer que Deus era aquilo e o diabo também, respondia:
“Tudo cabe em ti, e, embora tu sejas aquilo, acrescento então mais palavras – raro é cada ser humano, porque aquilo os fez todos iguais e todos diferentes. Desigual aparentemente é somente a palavra raro, porque tu és raro e eu aceito aquilo em ti, do jeito que aquilo se manifestar. Se me amas, se me odeias, se me compreendes ou não, não vejo diferença, porque eu sou aquilo em estado liberto. O que posso mudar ou transformar, aceito. O que não posso mudar, aquilo o fará. Tu és aquilo e eu sou aquilo também. Tudo o que tu amas está na aparência daquilo. Já eu, tudo o que amo naquilo é aquilo.”