Eu diria que tudo estava bem, mas sem... Isabella Varalda

Eu diria que tudo estava bem, mas sem esquecer que ficaria mais fácil se parassem de me perguntar sobre você, ou mais ainda, se começassem a controlar os olhares de pena quando veem que eu mesma não sei responder direito o que aconteceu. Não sei, mesmo, e às vezes acredito que nem você sabe. De um dia pro outro, o seu sorriso se desfez, o seu toque pareceu menos disposto e a sua risada, mais comedida. Suas respostas vinham espaçadas, como se realmente fosse preciso muito tempo para responder perguntas tão simples quanto as que eu fazia. Entendi, eventualmente, que você evitava falar sobre a parte complicada de nós, aquela que nenhum dos dois sabia como por em palavras, ou talvez algum de nós só não tivesse interesse em ter o trabalho de explicitar. Evitava assumir como não era confiável, ou relembrar de como desistiu de mim em tempo recorde. Evitava, e só. Foi de repente. Cortou todos os laços antes que eu me desse conta, virou as costas e correu. Voou como um tiro. Partiu tão rápido que não tive tempo de colocar nossas fotos na sua mala. Porque se é para ir embora, no mínimo tivesse a decência de levar tudo, me deixar zerada, pronta pra outra. Foi triste ver como eu fiquei de olhos fechados por tanto tempo, tão iludida naquela tranquilidade querida, mas instável. E você sabia disso, mas preferiu o silêncio, o que era melhor para você. Entendo, ninguém gosta de assumir os próprios defeitos. Mas gosto das fotos porque tenho certeza que elas não vão mudar, mesmo quando as pessoas nela, vão. Pode deixar que as fotos eu guardo.