Era madrugada. A melhor hora para ele,... Aleff Ribeiro

Era madrugada. A melhor hora para ele, onde podia fazer apenas uma coisa: pensar. Pensar profundamente, mergulhar-se em si mesmo. Deixar-se ser invadido pelos pensamentos, envolvido por eles.
E mesmo sendo assolado por alguns pensamentos, algumas memórias, algumas nostalgias, gostava. Queria sentir-se assim naquela hora, queria ficar pesado, queria chorar, queria gritar; pois essas eram coisas que estavam a seu alcance, coisas que podia querer e conseguir.
Tinha muito receio da dor que a utopia causava, não queria querer estar do lado dela, pois não podia. Não queria pensar naqueles lábios, naquela voz, naquele olhar, pois não os teria perto. Não teria aqueles lábios colados aos seus, aquela voz soando aos seus ouvidos, aquele olhar fixo nele. Não teria.
E ficar "utopizando", conjecturando não a traria de volta. Ele sabia disso, e essa era a maior dor que podia sentir. Bastava pensar nisso que as lágrimas inundavam seus olhos, insistindo em transbordar. Sentia-se mal por não querer sentir, não querer pensar, mas também sentia que tudo isso era muito para ele. Enchia-se de indagações com ele mesmo, não entendia por que foi acontecer isso com ele. Justo com ele! Ah, acaso! Ah, Destino!
A distância era pior do que imaginava. Do que sempre imaginou, assistindo filmes e lendo livros que a retratavam como algo lindo, poético, apaixonante. Bem, poético era, pois, para ele, o escape era as palavras, e abusava delas, na tentativa de aliviar-se. Tentativa.
Irritava-se, não queria pensar nela, e em nada que o fizesse lembra-la. Estava cansando-se.
E com esse cansaço, passou a se acostumar com a situação, com a realidade. também não queria se acostumar. Um lado queria sofrer, queria chorar para sempre, revivendo cada lembrança.
acostumar-se à nova rotina. Passar fins de semana sozinho, passar pelos lugares que antes passava com ela, Assistir filmes sozinho, sentir-se sozinho.
Tinha que aceitar, era a realidade, afinal.
Maldita realidade! Quem dera poder fazer real o mundo surreal de sua mente! Livrar das nostalgias e ficar com o presente. Um presente que nunca se tornará passado. Um presente constante e permanente.
Um presente ímpar, contendo apenas um par.