EU NÃO SEI FALAR DAS ROSAS Eu não sei... Anderson Cruz

EU NÃO SEI FALAR DAS ROSAS

Eu não sei falar das rosas,
do que se passa no meu coração,
do sentimento forte que inebria minha alma,
dessa fluidez de emoção.
Tantas vezes o meu corpo chora,
como ontem, meu corpo fala,
e te beijo.

É incrível, mas não sei definir que vento é esse;
que me carrega;
que me lança no ar;
que chacoalha minha vida; e
me faz voar alto,
perdidamente...

Percebo, tarde demais, que não tenho mais saída,
que não tenho como alcançar essa medida louca,
profana,
insensata do meu ser,
entre amar e ser,
um heterossexual.

Eu não sei falar das rosas,
nem tampouco solidão,
e me perco, sem rumo,
metamorfoseando ilusão.
Menino sonhador,
sou eu assim, sem pudor,
vivendo o que não quero,
o que não me dá gosto,
nem sorte,
nem prazer,
alimentando aparência.
Alimentando...

Pretendo escrever carta, contar minha história,
mas tem uma coisa que de pronto me apavora:
a essência do meu eu.
É tão pérfido, é tão sujo,
que não penso em tal absurdo,
que é poder desabafar.
E grito.
Grito que não sei mais falar da dor,
dessa angústia incessante,
de admitir o que eu sou.
Sou nada...

Eu não sei falar das rosas,
eu não sei falar da dor,
não sei falar demais,
não sei falar de amor.
Não sei falar se sou,
o que nasceu e me tornou,
parte do lado negro,
arco íris sem tempero,
sem vida, sem coragem,
refém dessa sociedade,
que não aceita baitolagem,
nem tampouco...

Talvez eu diga adeus,
e me frustro.
Eu acho que sei o que é amor,
dos dias que se passam,
das horas,
mas não sei falar das rosas.