Acordei sem vontade de sorrir.... Alice Andrade

Acordei sem vontade de sorrir. Aparentemente seria mais um dia normal. O calor da “entrada em forma” o corpo cansado de mais um dia de aula seguido do engarrafamento no fim da tarde. Nada iria chamar a minha atenção, a não ser os sorrisos e olhares do meu amor. Depois de desejar uma boa tarde e ouvir um “Deus lhe acompanhe” peguei o ônibus, sentei na cadeira que sento-me todos os dias, estava tudo igual. O cheiro do ônibus, o calor da farda, a oração pedindo paciência. Até agora não havia percebido, mas logo notei um casal de senhores na minha frente. Estavam sentados, para qualquer outra pessoa dentro daquele ônibus, poderia parecer uma imagem normal, mas eu sei que tinha algo de diferente. Os senhores se olhavam. Ele parecia ser mais velho, estava muito bem vestido, cabelo alvo, roupa social e um chapéu antigo. Ela um pouco mais moderna, seu cabelo era alvo e curto, estava de vestido e bengala. As dunas chamava a atenção deles, havia sempre um comentário. Para mim as dunas são apenas um monte de areia, mas para eles parecia ser muito mais que isso. Um sorria para o outro mostrando grande afeto e dava pra perceber claramente que eles se amavam. Os olhares brilhavam enquanto se encontravam, estavam parecendo jovens namorados, aquele tipo que encontra magia em tudo. Passou a parecer com meus sonhos, só que agora sonhos realmente vividos, mas não por mim. Ouvi eles falarem da cor diferente de um cavalo que haviam visto pela janela; depois comentavam sobre os homens que vendiam vassouras e achavam interessante os modelos diferenciados que estavam á venda. Entre uma palavra e outra eu percebia que eles gargalhavam, mas não chamavam atenção de nenhum outro passageiro. O que eu estava vendo era realmente lindo e cheguei a uma grande e importante conclusão, que quando existe amor, afeto e carinho, tudo passa a ser eterno e único, mesmo que essa eternidade esteja em dois senhores, que eu nunca vi na vida, mas que em minutos me mostraram que um amor pode passar de eterno para um “sempre”.