Flor

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Canção de Primavera

Eu, dar flor, já não dou. Mas vós, ó flores,
Pois que Maio chegou,
Revesti-o de clâmides de cores!
Que eu, dar, flor, já não dou.

Eu, cantar, já não canto. Mas vós, aves,
Acordai desse azul, calado há tanto,
As infinitas naves!
Que eu, cantar, já não canto.

Eu, Invernos e Outonos recalcados
Regelaram meu ser neste arrepio…
Aquece tu, ó sol, jardins e prados!
Que eu, é de mim o frio.

Eu, Maio, já não tenho. Mas tu, Maio,
Vem com tua paixão,
Prostrar a terra em cálido desmaio!
Que eu, ter Maio, já não.

Que eu, dar flor, já não dou; cantar, não canto;
Ter sol, não tenho; e amar…
Mas, se não amo,
Como é que, Maio em flor, te chamo tanto,
E não por mim assim te chamo?

José Régio
Filho do Homem

Colho-te uma flor
de manhã e extasio-me
com o teu sorriso

A felicidade é uma flor que não se deve colher.

Jasmineiro em flor.
Ciranda o luar na varanda.
Cheiro de calor.

Uma velha sem dentes
que rejuvenece
cerejeira em flor

jardim sem flor
entre as páginas do livro
a rosa e sua cor

O bom gosto é a flor do bom senso.

olhando para trás
meu traseiro cobria-se
de cerejeiras em flor

Flor de cerejeira,
cuco, lua e neve:
já lá se vai um ano!

Sê alegre apenas depois de dares a volta à vida toda. E regressares então a uma flor, ao sol num muro, a um verme no chão. A profunda alegria não é a do começo mas a do fim.

Vergílio Ferreira
FERREIRA, V., Escrever, Bertrand, 2001

O belo é o supérfluo, o que não tem o seu fim em si, a flor da vida.

criança traquina
saltita atrás dos pássaros
natureza em flor.

Nas bodas de prata
retornando à terra natal -
flor de laranjeira!

Última flor do Lácio, inculta e bela,
(...) Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela...

O caráter transitório do belo aumenta ainda mais sua valorização. Uma flor não nos parece menos esplendorosa se suas pétalas só estiverem viçosas durante uma noite.

O beijo é flor no canteiro ou desejo na boca?

É flor! É inacreditavel como a mulher se parece com a flor. Fixemos uma flor. Sabemos o que é, como nasceu, e que morrerá. Mas nossa botânica não explica a frescura desse milagre; nem muito menos porque nos emociona. Podemos passar diante de uma casa de flores, e ver, e achar belas as flores. Mas a flor que de repente nasce no muro familiar, que adianta prová-la? É uma aparição; algo que traz do fundo da terra uma inesperada palavra de candor. Parece dizer: eis-me aqui. E não é apenas a brisa que a estremece: é a vida.

Uma flor acaso tem beleza?

Tem beleza acaso um fruto?

Não: têm cor e forma
E existência apenas.

A beleza é o nome de qualquer coisa que não existe

Que eu dou às coisas em troca do agrado que me dão.

Não significa nada.

Então por que digo eu das coisas: são belas?

(Alberto Caeiro)

Fernando Pessoa
O Guardador de Rebanhos

A felicidade é como uma gota de orvalho numa pétala de flor... brilha tranquila depois de leve oscila e cai como uma lágrima de amor.

O botão desaparece no desabrochar da flor, e pode-se afirmar que é refutado pela flor. Igualmente, a flor se explica por meio do fruto como um falso existir da planta, e o fruto surge em lugar da flor como verdade da planta. Essas formas não apenas se distinguem, mas se repelem como incompatíveis entre si. Mas a sua natureza fluida as torna, ao mesmo tempo, momentos da unidade orgânica na qual não somente não entram em conflito, mas uma existe tão necessariamente quanto a outra, e é essa igual necessidade que unicamente constitui a vida do todo.