Coleção pessoal de grrm

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É fácil amar o outro na mesa de bar, quando o papo é leve, o riso é farto, e o chope é gelado.
É fácil amar o outro nas férias de verão, no churrasco de domingo, nas festas agendadas no calendário do de vez em quando.
Difícil é amar quando o outro desaba. Quando não acredita em mais nada. E entende tudo errado. E paralisa. E se vitimiza. E perde o charme. O prazo. A identidade. A coerência. O rebolado.
Difícil amar quando o outro fica cada vez mais diferente do que habitualmente ele se mostra ou mais parecido com alguém que não aceitamos que ele esteja.
Difícil é permanecer ao seu lado quando parece que todos já foram embora. Quando as cortinas se abrem e ele não vê mais ninguém na plateia. Quando o seu pedido de ajuda, verbalizado ou não, exige que a gente saia do nosso egoísmo, do nosso sossego, da nossa rigidez, do nosso faz-de-conta, para caminhar humanamente ao seu encontro.
Difícil é amar quem não está se amando.
Mas esse talvez seja, sim, o tempo em que o outro mais precisa se sentir amado. Eu não acredito na existência de botões, alavancas, recursos afins, que façam as dores mais abissais desaparecerem, nos tempos mais devastadores, por pura mágica. Mas eu acredito na fé, na vontade essencial de transformação, no gesto aliado à vontade, e, especialmente, no amor que recebemos, nas temporadas difíceis, de quem não desiste da gente.

Mas não tenho mais tanta pressa. Comecei a aprender a ser mais gentil com o meu passo. Afinal, não há lugar algum para chegar além de mim. Eu sou a viajante e a viagem.

Plenitude é quando a vida cabe no instante presente, sem aperto, e a gente desfruta o conforto de não sentir falta de nada.

Parece milagre, mas as sementes de cura começam a florescer nos mesmos jardins onde parecia que nenhuma outra flor brotaria. A alma é sábia: enquanto achamos que só existe dor, ela trabalha, em silêncio, para tecer o momento novo. E ele chega.

Algumas pessoas se destacam para nós (...) Não importa quando as encontramos no nosso caminho. Parece que estão na nossa vida desde sempre e que mesmo depois dela permanecerão conosco. É tão rico compartilhar a jornada com elas que nos surpreende lembrar de que houve um tempo em que ainda não sabíamos que existiam. É até possível que tenhamos sentido saudade mesmo antes de conhecê-las. O que sentimos vibra além dos papéis, das afinidades, da roupa de gente que usam. Transcende a forma. Remete à essência. Toca o que a gente não vê. O que não passa. O que é (...) Com elas, o coração da gente descansa. Nós nos sentimos em casa, descalços, vestidos de nós mesmos. O afeto flui com facilidade rara. Somos aceitos, amados, bem-vindos, quando o tempo é de sol e quando o tempo é de chuva. Na expressão das nossas virtudes e na revelação das nossas limitações. Com elas, experimentamos mais nitidamente a dádiva da troca nesse longo caminho de aprendizado do amor.

Mas o melhor do abraço não é a ideia dos braços facilitarem o encontro dos corpos. O melhor do abraço é a sutileza dele. A mística dele. A poesia. O segredo de literalmente aproximar um coração do outro para conversarem no silêncio que dá descanso à palavra. O silêncio onde tudo é dito sem que nenhuma letra precise se juntar à outra. O melhor do abraço é o charme de fazer com que a eternidade caiba em segundos. A mágica de possibilitar que duas pessoas visitem o céu no mesmo instante.

Não é preciso agendar, entrar em fila, contar com a sorte, acordar cedo para pegar senha: a possibilidade de recomeço está disponível o tempo todo, na maior parte dos casos. Não tem mistério, ela vem embrulhada com o papel bonito de cada instante novo, essa página em branco que olha pra gente sem ter a mínima ideia do que escolheremos escrever nas suas linhas.
O que é preciso mesmo é coragem para abrir o presente.

Mente é casa que não tem paredes, mas nos acostumamos a viver como se tivesse. E, não é raro, passamos temporadas no cômodo mais apertado.

Bonito mesmo é saber a dimensão da sua verdade
e não ter medo nem vergonha de ser sincero.

Não escolho pessoas. Só acredito que mereço o melhor e que não posso acordar todos os dias com um pé atrás.

Morrer de amor..

Ela ainda vive com as asas que lhe foram dadas, o coração na boca liberto e cansado de tantas outras quedas, um pé no chão como atalho pra qualquer fuga.
Não recebe nada em troca, ainda tem o seu amor como garantia e esse, talvez só dure em liberdade.

Pincela em rostos estranhos o que tanto sonhara ou ao menos, imagina em outros quadros os olhos que deseja admirar sem desvios. Os muros do seu coração caem por terra a cada amanhecer em que seus desejos não são dissipados.

Mesmo à beira da loucura e inconstante, ela segue. Que ninguém tente lhe arrancar desse devaneio, a vida pra ela é só mais um, talvez o mais doce e perturbador.

Entorpecida, pressiona a razão pra que ela escorra entre os dedos. Não sabe amar pela metade. Vive pra morrer de amor.

Não vou falar dessa tristeza, não vou desacatar a esperança de um momento maior de luz. Só estou desassossegada e me sinto só em meio às mudanças bruscas que a vida impôs. Tudo foi se afunilando, mas eu já havia pressentido e nada fiz. Não posso reclamar do que me assusta, só posso agradecer porque o dia é feito de 24h e de hoje em hoje tanta coisa pode acontecer. Não vou enaltecer essa coisa doendo na garganta, é apenas um instante estranho, uma tristeza de domingo chuvoso. Nem posso reclamar do que vou perder, eu que ganhei tanta coisa quando nem precisava. talvez seja tão melhor o que vem pela frente. Talvez eu esteja recusando aceitar uma alegria imensa. Por isso, não vou falar dessa tristeza que só por hoje me arranhou o sorriso, embargou minha voz, abaixou minha cabeça, inchou meus olhos de água salgada. A tristeza não é nada para quem tem a favor de si, tanto amor, algum afago, um esboço de poesia… Essa é só uma fase rasurada, uma dor que não acabou de doer. E mais nada.

Que Deus ouça as preces que lhe dirijo quando amanheço revigorada e anoiteço tranquila. Quando consigo manter uma relação mais gentil com as lembranças difíceis que, às vezes, ainda me assombram. Quando posso desfrutar do contentamento mesmo sabendo que existem problemas que aguardam eu me entender com eles. Quando não peço nada além de força para prosseguir, por acreditar que, fortalecida, eu posso o que quiser, em Deus.

Duas estradas se bifurcaram no meio da minha vida,
Ouvi um sábio dizer.
Peguei a estrada menos usada.
E isso fez toda a diferença cada noite e cada dia.

Porque eu tenho medo de ser verdade o que os seus olhos me contam: de que eu estou destinado a lhe amar perdidamente. Eu tenho medo de um dia me enroscar nos seus braços e não conseguir achar o caminho de volta, de nem sequer querer encontrá-lo. Eu tenho medo de que essa represa que eu sustento com dificuldade um dia se rompa e inunde o seu mundo, e você nem fuja e, em vez disso, fique para limpar a bagunça, fique para entender as minhas agonias, fique para sempre, para mim.

E você surdo, mudo, cego e burro, desperdiçando o que eu tenho de mais sagrado, de mais inteiro e mais honesto.

Meu egoísmo é revelar só um pedaço do que sou, só a parte boa, a mocinha da história. Tenho, dentro de mim, um elenco de coadjuvantes que não deixo que brilhem, que não dão autógrafos nem saem nas capas de revista. Egoísta. Poupando o mundo do meu lado sórdido, que costuma ser o mais interessante.

A gente pode morar numa casa mais ou menos, numa rua mais ou menos, numa cidade mais ou menos, e até ter um governo mais ou menos.
A gente pode dormir numa cama mais ou menos, comer um feijão mais ou menos, ter um transporte mais ou menos, e até ser obrigado a acreditar mais ou menos no futuro.
A gente pode olhar em volta e sentir que tudo está mais ou menos...

Tudo bem!

O que a gente não pode mesmo, nunca, de jeito nenhum
é amar mais ou menos, sonhar mais ou menos, ser amigo mais ou menos, namorar mais ou menos, ter fé mais ou menos, e acreditar mais ou menos.
Senão a gente corre o risco de se tornar uma pessoa mais ou menos.

Não chego a temer loucura, no fundo a gente sabe que ninguém é muito certo. Eu tenho medo é da lucidez. Tenho medo dessa busca desenfreada pela verdade, pelas respostas. (…) Quando eu estou me acostumando com uma versão de mim mesma, surge outra, cheia de enigmas, e vou atrás dela. Tem gente que elege uma única versão de si próprio e não olha mais para dentro. (…) Eu, ao contrário, quase não olho para fora.

Essas aparentes bobagens cotidianas às vezes são capazes de nos oferecer valiosas percepções, quando suas sutilezas não passam despercebidas pelas nossas sensações e sentimentos. A prática da espiritualidade e do autoconhecimento acontece a todo instante e nos convida a atualizar olhares a cada circunstância, bobo que a princípio nos pareça o recurso didático. Essa situação, por exemplo, me fez pensar coisas a respeito de mim mesma. De como tenho me tratado. Do quanto ainda estico a corda até quase arrebentá-la, até quase arrebentar-me, sem necessidade, quando as soluções são possíveis e exigem poucos movimentos. Do quanto ainda me acostumo com o que é desconfortável sem fazer nada para trocar logo de canal. Do quanto, em várias ocasiões, ainda desperdiço energia preciosa que posso utilizar em ações mais úteis e felizes. Do quanto ainda me submeto a limitações nutridas por condicionamentos tão frágeis; não raro, obsoletos. Do quanto ainda adio bem-estar, quando o bem-estar em alguns contextos é pra lá de disponível.