Coleção pessoal de andre_villasboas

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Deus usa o silêncio para ensinar sobre a responsabilidade das palavras, e alguns cenários para ensinar sobre a gratidão do despertar.

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Antes romances e dramas baseados em realidade, que ficções recheadas de conversa. Nossa história não precisa de personagens fictícios, mas de protagonistas reais.

Autenticidade de dentro para fora, genuidade de fora para dentro e legitimidade de cara lavada. Sem scripts, medos ou âncoras.

Nada que nos acorrente a uma única cultura ou nos algeme em um único lugar. Tudo que possibilite imprimir nossas digitais nos lugares e pessoas que tendem a figurar nos capítulos que ainda escreveremos juntos.

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Quem me dera decifrar
A intimidade codificada
Poderia potencializar
A sensibilidade inesgotável

Quem me dera entender
O coração intervalado
Poderia externalizar
A febre interna que não cede

Oxalá, eu tivesse
Esta habilidade sensorial
Revigorizaria minha mente
Transcenderia a obviedade

Oxalá, eu tivesse
O dom da racionalização
Endureceria minhas emoções
Amoleceria duras razões

Eu escreveria o belo inimaginável
Dissertaria o airoso extraordinário
E atropelaria a pobreza midiática

Enquanto isso
Minha mente prosa
Meu coração poesia

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Eu e o horizonte
Um fio invisível
Dois gêmeos siameses
Simbiose perfeita
Escambo incondicional

Descanso as retinas
Clamo por inspiração
E tudo ao redor goteja
Pinga, destila

Escancaro meu cerne
E as palavras me molham
Encharco de criatividade
E simplesmente escrevo

Sempre foi assim
Registro autoral
O entorno, interpretativo
O adorno, contemplativo
Só me expresso

Banho diurno, alma lavada

Alforria das folhas de gaveta
Metamorfose, aviões de papel
Serei descortinado?

O ceticismo celebra
O ostracismo agradece
O anticeptismo expõe
O talento resplandece

E somente o tempo
Juiz da sentença
Senhor do deferimento
Saberá o futuro

E eu, poeta presente
Em vida, na morte, talvez

Que venha o que vier
Que seja o que for
Advogarei pelo anticeptico
E conduzirei meu lado cético
Ao banco dos réus

Que assim seja

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Meus olhos choveram
Quando perdi você
Os lábios tremeram
Pois não pude te ver

Parte do que sou, extirpado
Silêncio ecoou, gritado
O vento levou, cremado
Sua alma elevou, curado

Minhas mãos escreveram
Quando lembrei de ti
Os dentes cerraram
Quando tentei sorrir

Agonizei quando percebi
Morri depois que partiu
Renasci assim que entendi
Aceitei o que Deus decidiu

É vida que segue
Mesmo longe de ti
E onde estiver
Sei que zela por mim

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Abundância por todos os lados
Vangloriamos nossa cegueira
Plenitude escoando nos ralos
Reduzimos nossas fronteiras

Morremos de sede em certo mar
Águas de indiferença
Perdemos as asas em pleno ar
Céu de pura descrença

Nós, era eu contra você
Tudo sem "quê" nem "porquê"
Pedras formando um buquê
Obrigado, não há de quê

E nesta prosa, perdem todos
Ao escravizarem suas carcaças
E nesta lábia, fracassam os tolos
Ao admitirem suas desgraças

Troquemos nossa cegueira
Pela clarividência
Nossa limitação
Pela nossa abrangência
Nossa denotação
Pela nossa anuência
Saímos da contramão
Pela convergência

Não somos escravos
Desgraçados
Somos filhos de Deus
Não somos bastardos

Toda correção é viável
Enfim, finalmente, afinal
Retificação é fiável
Inoportuno é o ponto final

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Há dezesseis anos eu me descobri pai de menino. Sempre tive muita intuição, principalmente durante minhas horas de quietude. Portanto, não só intuí o gênero como também já sabia que ele seria enviado e curado por Deus. Assim como da primeira vez, também foi algo muito natural, orgânico e incondicional. Minha disponibilidade para amar meu filho e o seu universo foi e sempre será infinita, e nossa história já começou prematuramente. Foram apenas sete meses de gestação e quase um mês na UTI Neonatal para ganho de peso.

Quase que por um lapso, abandonei as trevas do egoísmo e caminhei na direção da luz do altruísmo. Me despedi dos meus recifes egocêntricos novamente, e saí gritando para o mundo que Deus agora tinha confiado um de seus anjinhos aos meus ensinamentos. Já era mais maduro na ocasião, mesmo assim evitei lançar os dados e deixei Ele me mostrar o caminho, assim como fiz no nascimento da minha primogênita.

Quando algo mágico acontece pela segunda vez e alguém – também mais importante que você próprio - cai nos seus braços, você se reinventa de novo, se recomeça mais uma vez. Foi aí que me vi com a responsabilidade dobrada – e mais calejado – me preparei para o que estava por vir.

Depois de algum tempo você entende a diferença entre andar de mãos dadas e andar de mãos algemadas. Entende que amar não significa cobrar, prender ou até mesmo se apoiar em um estereótipo falido. Entende que presença nem sempre significa liberdade. E entende também que amor não é algo angariado contratualmente. Ninguém é livre parcialmente. A parcialidade aqui pode colocar o “ter” na frente do “ser”, e assim como anseio para sua irmã (e já escrevi isto para ela), desejo profundamente que o meu menino seja tudo que ele sempre sonhou. Pois é, resolvi colocar a liberdade na frente do amor, e por mais que este espaço me consuma, meu consolo é muito maior ao ver o quanto você está crescendo lindo, inteligente e responsável.

Hoje no dia do seu aniversário, afirmo que minha saudade virou orgulho e que meu coração (assim como a porta da minha casa), também estão escancarados para a essência e o amor do meu eterno Raphael.

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Forjei a coragem do meu semblante com a tristeza da minha alma e quebrei a promessa de nunca mais anoitecer. Um borrão cinza no gigantesco azul.

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A bossa virou funk
Rock, sertanejo
O idiotismo está punk
Rima pobre com cortejo

Tiririca no plenário
Milton sem bandeira
Kevinho visionário
Raul na geladeira

Cultura genocida
O Brasil da fanfarrice
Da milícia latrocida
Que saudade da Clarice

A burrice embriaga
Chico entorpecido
A asneira arrebata
Caetano absorvido

O reggae sem skunk
Inteligência sem ensejo
Cretinice, cyberpunk
Insipiência sem despejo

Presidente que conspira
Pátria amada que repele
Aliciamento que inspira
Um descaso, Mariele

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A rotina encaixa, percebemos alguns passos fora do compasso e nos apoiamos nas referências para seguir em frente - mesmo que o mundo esteja diferente.

Nossa mente se adapta, sonhamos acordados e nos distraímos com coisas completamente desconexas - algumas pessoas estão reticentes.

Estamos longe do que era normal e mais perto de tudo que achamos certo. Ao passo que nossa mente se distancia do coletivo, nos aproximamos individualmente daquele que nos criou - algumas pessoas estão descrentes.

A lucidez e a realidade ao nosso redor cobram respostas intuitivas. O instinto vital nos impulsiona para o nosso propósito, o ontem desmorona e o hoje exige criatividade - algumas pessoas estão carentes.

Embora a diferença, a reticência, a descrença e a carência nos tornem desiguais, precisamos emoldurar o nosso amanhã - mesmo que o mundo esteja doente.

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Fulgurei no picadeiro ao transformar dor em metáfora. Maquiei a minha retórica e retoquei a sua anáfora.

Recitei tais repetições ao esgotar minhas alegorias. Evitei as contradições e mergulhei na poesia.

Cunhei minha resiliência ao acordar da letargia. Carreguei as raízes nas asas e abdiquei da nostalgia.

Amputei um passado longínquo ao bancar tal decisão. Alinhei o que era oblíquo e persisti na fulguração.

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É difícil aplaudir, reconhecer, elogiar, concordar, torcer de coração e desejar um parabéns com sinceridade. É difícil interagir com a inteligência, quando a genialidade é proferida por outras mentes. É quase impossível vibrar com a vitória alheia. A egolatria não permite, e a inveja existe por mais que seja negada a todo momento.

Por outro lado, é fácil entender que o progresso de alguém só pode incomodar o acomodado. É fácil perceber que a felicidade ao redor só vai fazer mal, se você estiver de braços dados com a infelicidade. É totalmente possível alterar o mindset egocêntrico por aquele sentimento legítimo de admiração. A egomania pode ser rechaçada, e a avidez vai inexistir se for negada a todo momento.

Vá ser feliz e vibre quando perceber a felicidade estampada no rosto de alguém. Sorrisos precisam percorrer o mundo sob a forma de contágio.

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⁠Sentei à margem do rio
Do cais espreitei o cais
Da nascente para Foz
Corrente inquieta
Barcos inertes

Observei minha tela
Emoção fluiu na inquietude
Razão ancorou na estaticidade
Distanciei os pólos do vislumbre

Legitimei a inconstância
Autentiquei a impermanência

Fechei as janelas da alma
Clamei por equilíbrio
E meu córtex reverenciou o rio

Chorei, lembrei de você
Olhei para o horizonte
E minha razão já estava longe

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Hoje estamos bem distantes do local que plantamos nossa primeira semente, mas quem disse que a colheita é realizada no mesmo solo que plantamos?

Levamos nossas raízes nas asas. Um pouco de você, um pouco de mim e muito de nós.

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Depois que confiei
Nunca mais temi
Depois que alcei
Nunca mais caí
Depois que iluminei
Nunca mais anoiteci

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Do samba ao fado
Subitamente
O impossível golfado

A tarde decora
Meu cárcere privado
O silêncio isola
Meu grito abafado

O tempo passou
A barba cresceu
O diabo amassou
Pão desvaneceu

A noite aflora
Meu décimo verso
Meu medo evapora
Joguei pro Universo

Pensamento fluiu
Dormi, repensei
A vida extorquiu
Meu triunfo, cobrei

O dia acalora
Meu sol, astro-rei
Caipira, caipora
Eu desenterrei

Meu tesouro perdido
Meu sonho real
Tudo faz sentido
Brasil, Portugal

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Existem situações que nos levam a uma saudade imensurável, e aí vemos o Universo parar no tempo. Se melancolia remete a coisas não experimentadas, nostalgia é a lembrança vivida na prática.

Ontem senti uma agrura psicológica e quis ser 36 anos mais novo. Balbuciei uma juventude de barba e cabelos brancos.

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Devotei boa parte da vida ao acaso, mas foi o descaso alheio que implodiu nas minhas entranhas. Frustro, afoguei minhas expectativas em lágrimas de descrença e vi minha magia exclusa da vulgaridade que se agarra aos abecedários triviais.

Segui sem estupidificar minha mensagem, e vi os frutos da minha imaginação morrerem em terrenos inóspitos. Direcionei minha alma para os que enxergam além dos estribilhos que viram bordões na boca dos insipientes, e reagià força centrípeta que comprime toda a manada no senso comum.

Sustentei meu cerne, mas perdi para os estereótipos e protótipos que pregam o populismo. Vi o frenesi da criação transbordar de erudição pelas minhas próprias mãos, e naufraguei em um mar inepto e desprovido de sentido.

Quase meio século e sinto que estou ermo, mas prostituir meu talento seria divagar em tempestades de sucesso, enlouquecer diante de algo que não se presume e me resume sem autenticidade.

Entre aniquilar minha essência e pluralizar, fico singular.

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Meu coração
Sangue calejado
Minha missão
Destino arrojado
A verdade liberta
Presente, passado
Minha porta aberta
Laroiê, tá trancado
Destranca e liberta
Meu fardo pesado
Esperança aquieta
Sonho alvejado
Coragem desperta
Olhar marejado
Poeta disserta
Aplauso versado

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Quando me predisponho a sentar, escrever e decifrar a vida com doses de eloquência e pragmatismo, faço associações e remissões para um raciocínio coerente e fechado. Invariavelmente, meus pensamentos estão associados ao propósito e remetidos aos vínculos estabelecidos entre o nascer e morrer.

Propósito para termos um futuro que impulsione nosso presente, e vínculos porque não construímos destinos com carreira solo. Temos os que torcem incondicionalmente, os que aplaudem, os que invejam, os que são indiferentes, e aqueles que fazem acontecer junto. Todas essas interações na busca por um sentido, tornam-se vínculos.

É muito surreal achar que um propósito almejado e plantado ao longo de uma jornada linda e exaustiva, bem como os vínculos impagáveis que construímos ao longo deste percurso, aconteçam sem explicações ou justificativas. É muito raso acreditar que tudo faz parte de uma cadeia fria e evolutiva, com legados inteiros virando pó sem uma perpetuidade espiritual. Não se trata de apego, mas de sanidade.

Prefiro acreditar em um fio invisível que estabeleça conexões após nossa desmaterialização, que nos conecte aos nossos antepassados e tudo aquilo que absorvemos de aprendizado para uma encarnação mundana. Prefiro desacreditar que depois de tanta luta e troca, tenhamos que nos preparar para uma finitude, um desfecho vazio para os que partem e cruel para os que ficam.

A vida nos ensina o poder dos significados, e por isso buscamos um sentido para tudo. Eu imagino uma morte travestida de renascimento, um legado ativo das pessoas que tive a sorte de conviver, e uma consciência imortalizada para uma evolução espiritual. Se meus pensamentos são fruto de um delírio pessoal, porque existimos e aprendemos a amar tanto a vida quanto o próximo?