Biografia de Thiago de Mello

Thiago de Mello

Thiago de Mello é o nome literário de Amadeu Thiago de Mello, reconhecido como um ícone da literatura regional. Nascido na cidade de Porantim do Bom Socorro, município de Barreirinha, Amazonas, no dia 30 de março de 1926, depois de terminar seus estudos secundários em Manaus, mudou-se para o Rio de Janeiro e ingressou na Faculdade Nacional de Medicina, mas não concluir o curso se dedicou à carreira literária.

Foi colaborador do jornal “O Comício”, veículo de oposição ao governo de Getúlio Vargas. Em 1950 publicou na primeira página do suplemento literário do Jornal Correio da Manhã, seu poema “Tenso por Meus Olhos”. Em 1951 publicou seu primeiro livro de poesias “Silêncio e Palavra”, que foi bem acolhido pela crítica.

Thiago de Mello foi diretor do Departamento Cultural da Prefeitura da cidade do Rio de Janeiro. Foi adido cultural do Brasil na Bolívia e em 1963 é transferido para o Chile na mesma função, onde conhece o poeta Pablo Neruda, de quem faz a tradução de uma antologia poética. Em 1965 volta para o Rio de Janeiro, e nesse mesmo ano publica “Faz Escuro Mas Eu Canto”. Em 1968 é perseguido pelo regime militar e volta para o Chile, onde permanece exilado por 10 anos. Nessa época publica “Poesia Comprometida com a Minha e a Tua” (1975) e “Estatutos do Homem” (1977).

Em 1978, de volta a sua cidade natal, se dedica à poesia e às questões ligadas a preservação ecológica da Região Amazônica. Publicou: “Horóscopo Para os Que Estão Vivos” (1982), “Arte e Ciência de Ensinar Papagaio” (1984), “No Campo de Margaridas” (1986), “De Uma Vez Por Todas” (1996), “Silêncio e Palavra” (2001) e “Ajuste de Contas” (2014).

Acervo: 46 frases e pensamentos de Thiago de Mello.

Frases e Pensamentos de Thiago de Mello

Não tenho um caminho novo. O que eu tenho de novo é um jeito de caminhar.

Os Estatutos do Homem (Ato Institucional Permanente)
A Carlos Heitor Cony

Artigo I
Fica decretado que agora vale a verdade.
agora vale a vida,
e de mãos dadas,
marcharemos todos pela vida verdadeira.

Artigo II
Fica decretado que todos os dias da semana,
inclusive as terças-feiras mais cinzentas,
têm direito a converter-se em manhãs de domingo.

Artigo III
Fica decretado que, a partir deste instante,
haverá girassóis em todas as janelas,
que os girassóis terão direito
a abrir-se dentro da sombra;
e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro,
abertas para o verde onde cresce a esperança.

Artigo IV
Fica decretado que o homem
não precisará nunca mais
duvidar do homem.
Que o homem confiará no homem
como a palmeira confia no vento,
como o vento confia no ar,
como o ar confia no campo azul do céu.

Parágrafo único:
O homem, confiará no homem
como um menino confia em outro menino.

Artigo V
Fica decretado que os homens
estão livres do jugo da mentira.
Nunca mais será preciso usar
a couraça do silêncio
nem a armadura de palavras.
O homem se sentará à mesa
com seu olhar limpo
porque a verdade passará a ser servida
antes da sobremesa.

Artigo VI
Fica estabelecida, durante dez séculos,
a prática sonhada pelo profeta Isaías,
e o lobo e o cordeiro pastarão juntos
e a comida de ambos terá o mesmo gosto de aurora.

Artigo VII
Por decreto irrevogável fica estabelecido
o reinado permanente da justiça e da claridade,
e a alegria será uma bandeira generosa
para sempre desfraldada na alma do povo.

Artigo VIII
Fica decretado que a maior dor
sempre foi e será sempre
não poder dar-se amor a quem se ama
e saber que é a água
que dá à planta o milagre da flor.

Artigo IX
Fica permitido que o pão de cada dia
tenha no homem o sinal de seu suor.
Mas que sobretudo tenha
sempre o quente sabor da ternura.

Artigo X
Fica permitido a qualquer pessoa,
qualquer hora da vida,
uso do traje branco.

Artigo XI
Fica decretado, por definição,
que o homem é um animal que ama
e que por isso é belo,
muito mais belo que a estrela da manhã.

Artigo XII
Decreta-se que nada será obrigado
nem proibido,
tudo será permitido,
inclusive brincar com os rinocerontes
e caminhar pelas tardes
com uma imensa begônia na lapela.

Parágrafo único:
Só uma coisa fica proibida:
amar sem amor.

Artigo XIII
Fica decretado que o dinheiro
não poderá nunca mais comprar
o sol das manhãs vindouras.
Expulso do grande baú do medo,
o dinheiro se transformará em uma espada fraternal
para defender o direito de cantar
e a festa do dia que chegou.

Artigo Final.
Fica proibido o uso da palavra liberdade,
a qual será suprimida dos dicionários
e do pântano enganoso das bocas.
A partir deste instante
a liberdade será algo vivo e transparente
como um fogo ou um rio,
e a sua morada será sempre
o coração do homem.

O seu trabalho não é a pena que paga por ser homem, mas um modo de amar e de ajudar o mundo a ser melhor.

O silêncio é um campo
plantado de verdades
que aos poucos se fazem palavras.

Fica decretado que, a partir deste instante,
haverá girassóis em todas as janelas,
que os girassóis terão direito
a abrir-se dentro da sombra;
e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro,
abertas para o verde onde cresce a esperança.