Marcelo Aceti

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⁠Escalando As Montanhas

A inércia dura e fria
da granítica muralha
que se ergue sobre a via
da humana e vã batalha

Guarda, em si, como quem cria
em seu ventre a fantasia
de um sol que não se espalha...

Inserida por mnora

⁠Passo

Sinto aperto no meu peito
Sigo andando meio manco
Sigo, canso e me deito
Sinto, tenho que ser franco

Num poema tão sem jeito
Eu percebo só ter feito
outra página em branco

Inserida por mnora

⁠Fogueira

Se pensar é meu pecado,
a caneta - qual cilício -
me flagela e vou, calado,
escrevendo meu suplício

pelo qual eu sou julgado,
torturado e condenado.
Eis aí meu Santo Ofício!

Inserida por mnora

⁠Livre-arbítrio

Quanto bem fica de lado
nas escolhas que alguém faz?
Lá, perdido no passado,
quanto amor deixam pra trás?

pensa Deus, desconfiado...
Com razão, pobre coitado...
Escolhemos Barrabás!

Inserida por mnora

Pindorama

Solo santo invadido
Transformado em nação
Fruto podre, corrompido
Sem raíz, sem coração

Hoje o chão é devolvido
a um índio bem vestido
em camisas de botão

Inserida por mnora

⁠Uma lava a outra

Falam da reputação
da direita, tão honesta...
Mas, virando situação,
a esquerda faz a festa!

E, assim, de mão em mão,
mostram que a corrupção
no Brasil é ambidestra!

Inserida por mnora

⁠Lex talionis

Se os frutos que eu colho
minha vida é quem rega
de bom grado eu acolho
até mesmo quem me nega

Fico em paz e me recolho,
Pois, de tanto olho por olho,
a justiça ficou cega...

Inserida por mnora

⁠Lucas 6, 41

Não há cruz que me segure,
que me impeça de gritar;
não tem fé que me torture
e que faça eu me calar!

Quem quiser, pois, que procure
um remédio e se cure
de querer vir me curar...

Inserida por mnora

⁠Fome e sede

... e disseram: — foi bem feito!
Quem mandou roubar sua horta?!
Nunca mais esse sujeito
bate aqui na sua porta.

Uma dor me ardeu no peito:
— E do homem, que foi feito?
— Eu não sei, mas... Quem se importa?!

Inserida por mnora

⁠Pena

É prazer? É dor? vontade?
Ou será que você tem
a cruel necessidade
de ferir quem te quer bem?

Quem não vê que, na maldade,
mora um pouco de saudade,
de remorso e amor também...

Inserida por mnora

⁠Vermelho

Ruge a voz dos bons conselhos
Caro horror que fere e fura
No sangrar dos teus joelhos
Redentora dor que cura

Os teus olhos, como espelhos
Refletindo seus vermelhos
Cor que sangra vida pura

Inserida por mnora

⁠Laranja

Cadê Deus, meu pai? me conte!
a menina moça arteira
pede ao pai que lhe aponte
uma prova verdadeira

Cai o sol por trás do monte
colorindo o horizonte
ri o velho na soleira...

Inserida por mnora

⁠Amarelo

Lá do alto, uma luz
passa e ofusca os meus deslizes
feito ouro que reluz
rasga o céu entre os matizes

Radiante, andaluz
num rabisco que traduz
meu anseios mais felizes...

Inserida por mnora

⁠Verde

Dos escombros desse mundo,
uma lágrima escorre
e, das pedras onde afundo,
um estranho me socorre.

Do vazio mais profundo,
Brota! novo e fecundo...
Esperança nunca morre!

Inserida por mnora

⁠Azul

A distância impassível
que separa nosso olhar;
o destino, previsível,
que insiste em separar.

improvável impossível
um encontro indescritível
o azul do céu no mar...

Inserida por mnora

⁠Anil

Escapole a borboleta
Bate as asas sob a luz
Como índigo cometa
Brilha em cores incomuns

Sua quase violeta
Tortuosa silhueta
Na fronteira dos azuis

Inserida por mnora

⁠Violeta

Uma órfã avistou
seu quintal ao fim da guerra
e, chorando, acreditou
que a vida não se encerra,

pois, ali, o sol raiou,
o arco-íris se formou
e uma flor brotou na terra...

Inserida por mnora

⁠branco

Minha força vem de lá
O meu canto vem de Angola
Uma voz a ecoar
Os lamentos da Guiné

Arrastado pelo mar,
veio o sangue quilombola
Carregando a minha fé...

Inserida por mnora

pérola

Quando a onda se aquebranta
em espumas lá na areia,
a jangada se alevanta;
quem é d'água não mareia!

Marinheiro que se encanta
não enjoa nem se espanta
com o canto da Sereia...

Inserida por mnora

⁠tempestade

Uma chuva de verão
no princípio do inverno
E a sã superstição
diz que vaga no Eterno

um espírito pagão
implorando por perdão
na entrada do inferno...

⁠Vinte e três de abril

Guarde a lança, cavaleiro!
No outro lado do alforje
vai a espada do guerreiro.
Eu não sofro mal algum!

Nem sei bem-dizer se Ogum
é devoto de São Jorge
ou Jorge é filho de Ogum...

⁠ode a odé

A imagem no andor
Sete flechas, dor serena
Na cabana, o benzedor
junta folhas de jurema

Na vontade de compor
sete linhas de louvor,
toda arte ainda é pequena...

⁠dois dois

É menino feito santo;
olha a luz dessa criança!
Escondido no seu pranto
um sorriso de esperança

Quando ouve o povo banto
entoar seu doce canto,
faz ciranda, grita e dança...

⁠zi fi

De visita a uma dama
que mexia com o além,
perguntei: como se chama
esse velho sem vintém?

Rindo, disse a tal mucama:
preto-velho não se chama;
se precisa, ele vem...

⁠Conselhos

Se não foi tão bom, reclame!
Chame Deus no céu e clame!
Se você vencer, proclame!
Se for bem legal, me chame!

Pra quê medo de vexame?
Faça versos e declame!
Ou, então, apenas... ame!

Inserida por mnora