Lucian Rodrigues Cardoso

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Respiro-te

Que os teus ventos,
tal como se descreve,
voem livres e sem notar
quem deles se utiliza
como algo essencial, como algo natural
tal como é o respirar.

Pois tudo que é dúvida
liberta-se no ar.

Inserida por lucian1989

Poema alienado

O poeta escreve
um poema introvertido
tímido, que só à ele
veste-se o sentido.

O militante se estressa:
- escreva o preço do trigo!
Bem, amigo, o meu poema
politiza pelo circo.

Inserida por lucian1989

Querer sentir:
algum querer
fora de si.

Entrega

Quem tem medo da entrega,
tem no fundo
medo de viver a separação.

Quem separa sem entrega,
verá que no medo
viveu em si, no fundo não.

Mas, quem viver sem medo,
no fundo há de ver
que todo fim é uma entrega
a uma nova criação.

Inserida por lucian1989

Poema do Imperialismo

Meus companheiros da esquerda
me questionariam se eu
escrevesse que o meu amigo
Ricky vai a América – e não aos EUA.

Com o perdão da palavra, o meu amigo
Ricky vai a América.

Pois me despeço do meu amigo, que vai a América
da mesma forma que despediram-se
as mulheres dos soldados americanos que foram ao Vietnã;
me despeço do meu amigo, que vai a América
da mesma forma que despediram-se
Fidel e Che na Cuba socialista.

Ricky vai a América
e não há ideologia que cure
o imperialismo da dor de sua falta.

Inserida por lucian1989

Voo livre

Se quiseres ser livre
não basta ser pássaro, seja o vento
pois cortam-se as asas, cerram-se as grades
mas jamais aprisionam
[o voar de um sentimento.

Inserida por lucian1989

Voo livre

Se quiseres ser livre
não basta ser pássaro, seja o vento
pois cortam-se as asas, cerram-se as grades
mas jamais aprisionam
[o voar de um sentimento.

Inserida por lucian1989

Fome

O poeta alimenta
o amor dos outros,
mas prova, por vezes,
um amargo gosto:

quando o poeta receita
o poema a uma mulher,
que gostando do prato
o serve a’um qualquer,

o que deve o poeta
com o poema fazer:
alimentar o mundo
ou primeiro comer?

Inserida por lucian1989

⁠androginia

tenho aprendido
com uma mulher
como ser homem.

Inserida por lucian1989

⁠PROCURADO

amor encontrou
se perdeu
quem achou.

Inserida por lucian1989

⁠Crise

Não pensem que os poetas
são esses fantasiosos e lunáticos,
que andam com o corpo amortecido,
distantes da realidade, estáticos;
vivendo de escrever, com o copo sempre cheio,
declamando nas mesas dos bares, exigindo pouco de si
e do mundo pra viver.
(embora necessitem por só assim encontrarem-se)
Os poetas procuram imóveis
vão ao banco, apoiam partidos,
pegam ônibus, xingam no trânsito,
fazem monografia, estudam o trabalhismo;
leem jornais, vão ao supermercado,
querem ir a Porto Seguro, contam as moedas,
trabalham com os pais.
(embora só por necessidade encontrem-se assim)
Porque o poeta
é essa crise permanente
entre ganhar a vida
e perder-se nela.

Inserida por lucian1989

⁠História Política do Amor

Amar você:
delegar poder.
Dividir que amo:
ser republicano.
Não ser amado:
golpe de estado.

Inserida por lucian1989

⁠sou ambidestro:
com a mão esquerda seguro as coisas
com a direita escrevo liberto

Inserida por lucian1989

⁠ir

entre Ego
e Superego,
Id ao éter.

Inserida por lucian1989

⁠inconfesso

calo-me feio
na ponta da língua
encontra-se um seio.

Inserida por lucian1989

⁠Lição adulta

Andava sem inspiração pra escrever.
Meu afilhado Davi
chegou em minha casa:
foi policial;
foi motorista de caminhão;
foi cachorro junto a minha;
foi pássaro de primeira viagem –
e voou incansáveis vezes pros meus braços
que hoje, desacostumados, doem.
É preciso sentir no corpo
pra brincar de ser poeta.

Inserida por lucian1989

⁠Da incapacidade para o desenho

Nunca consegui desenhar natureza,
as borboletas sempre foram mais atrativas
voando livres-disformes em minha cabeça.

Inserida por lucian1989

⁠do contra

inicio retórico
me acabo
(no) meio contraditório.

Inserida por lucian1989

⁠A saudade de Olinda

A saudade de Olinda
tem nome: Camila
dos olhos pequenos
do furo no riso
da fala francesa
na boca macia.
A saudade de Olinda
ladeira, sombrinha
na mão que a galega
viaja com o corpo
vestido vermelho
à Paris colorida.
A saudade de Olinda
capixaba sentia
no avião que partiu
escrevendo poema,
melancolia de cinzas:
folia em poesia.
A saudade de Olinda
oceano e fantasia
entre França, Brasil
Camila e o frevo
carnaval: tous les jours
carnaval: todo dia.

Inserida por lucian1989

⁠(in)confesso

se reparo,
falo melhor
quando te guardo.

Inserida por lucian1989

⁠preço

custa ler
meu poema
que cobra você.

Inserida por lucian1989

⁠Autoafirmação

Costumo escrever meu nome em qualquer papel à mão.
Dizem que é uma forma de autoafirmar-se.
Eu afirmo:
me refaço
em papel, borracha e lápis.

Inserida por lucian1989

⁠passeio

minha gaveta aberta cheia de poemas
passou o vento
voaram à janela
meu poema está na rua
eu não caibo mais no quarto.

Inserida por lucian1989

⁠Exemplo

Um amigo meu
cresceu na vida
desapego e coragem:
não se preocupa mais
se sua roupa for um ultraje.
Sai à rua com a cara
e a tatuagem.

Inserida por lucian1989

⁠As coisas que eu deixo

Toda vez que viajo; fico uns dias foras,
volto e tento refazer as coisas,
as coisas que eu fazia
quando antes de ter viajado.
Mas as coisas que eu fazia
já não são as que tenho encontrado.
Se em tese, sei que não mudaram,
na prática, aquilo que deixei
me soam deveras mudado.
Porque as coisas que a gente deixa
ficam porque são estáticas, matéria imutável;
quem sai é a gente,
muda o espírito, sentido, cidade em cidade.
Pois às coisas, lei do universo,
às coisas só foi permitido mudar de estado.

Inserida por lucian1989