Lispector

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Vocação é diferente de talento. Pode-se ter vocação e não ter talento, isto é, pode-se ser chamado e não saber como ir.

Clarice Lispector
LISPECTOR, C. A descoberta do mundo: crónicas. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1992.

Nota: Trecho da crônica "Escrever"

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O pecado me atrai, o que é proibido me fascina.

Clarice Lispector
A Hora da Estrela, 1977.

Teu segredo

Flores envenenadas na jarra. Roxas azuis, encarnadas, atapetam o ar. Que riqueza de hospital. Nunca vi mais belas e mais perigosas. É assim então o teu segredo. Teu segredo é tão parecido contigo que nada me revela além do que já sei. E sei tão pouco como se o teu enigma fosse eu. Assim como tu és o meu.

Clarice Lispector
A descoberta do mundo. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.

Nota: Crônica Teu segredo.

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Aquilo que eu não sei é a minha melhor parte!

Clarice Lispector

Nota: Autoria não confirmada.

Não entendo, apenas sinto. Tenho medo de um dia entender e deixar de sentir.

Clarice Lispector

Nota: A citação é atribuída a Clarice Lispector, mas não há fontes que confirmem essa autoria.

O presente

Amor será dar de presente ao outro a própria solidão? Pois é a coisa mais última que se pode dar de si.

Clarice Lispector
Crônicas para jovens: de amor e amizade. Rio de Janeiro: Rocco, 2010.

Suponho que me entender não é uma questão de inteligência, e sim de sentir...

Clarice Lispector

Nota: Trecho de entrevista dada por Clarice Lispector a Júlio Lerner em 1977. Link

Se em um instante se nasce, e se morre em um instante, um instante é bastante para a vida inteira.

Clarice Lispector
A maçã no escuro. Rio de Janeiro: Rocco, 2015.

Sempre conservei uma aspa à esquerda e outra à direita de mim.

Clarice Lispector
A paixão segundo G.H. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

Eu, que vivo de lado, sou à esquerda de quem entra. E estremece em mim o mundo. (...) Sou caleidoscópica: fascinam-me as minhas mutações faiscantes que aqui caleidoscopicamente registro. (...) Sou um coração batendo no mundo.

Clarice Lispector
Água viva. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

Perdi alguma coisa que me era essencial, e que já não me é mais. Não me é necessária, assim como se eu tivesse perdido uma terceira perna que até então me impossibilitava de andar mas que fazia de mim um tripé estável. Essa terceira perna eu perdi. E voltei a ser uma pessoa que nunca fui. Voltei a ter o que nunca tive: apenas as duas pernas. Sei que somente com duas pernas é que posso caminhar. Mas a ausência inútil da terceira me faz falta e me assusta, era ela que fazia de mim uma coisa encontrável por mim mesma, e sem sequer precisar me procurar.

Clarice Lispector
A paixão segundo G. H. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

Tenho meus limites. O primeiro deles é meu amor-próprio.

Clarice Lispector

Nota: Autoria não confirmada.

Às vezes sentava-me na rede, balançando-me com o livro aberto no colo, sem tocá-lo, em êxtase puríssimo.
Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com o seu amante.

Clarice Lispector
Felicidade clandestina. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

Queria saber: depois que se é feliz o que acontece? O que vem depois?

Clarice Lispector
Perto do coração selvagem. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

Quem eu sou, você só vai perceber quando olhar nos meus olhos, ou melhor, além deles.

Clarice Lispector

Nota: Autoria não confirmada.

Há impossibilidade de ser além do que se é – no entanto eu me ultrapasso mesmo sem o delírio, sou mais do que eu quase normalmente –; tenho um corpo e tudo o que eu fizer é continuação de meu começo. (...)

A única verdade é que vivo. Sinceramente, eu vivo. Quem sou? Bem, isso já é demais...

Clarice Lispector
Perto do coração selvagem. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

Vivo no quase, no nunca e no sempre. Quase, quase – e por um triz escapo.

Clarice Lispector
Visões do esplendor (impressões leves). Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1975.

Nota: Trecho da crônica Quase.

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Quem muito agrada, desagrada.

Clarice Lispector

Nota: Autoria não confirmada.

Fico às vezes reduzida ao essencial, quer dizer, só meu coração bate.

Clarice Lispector
Correspondências. Rio de Janeiro: Rocco, 2002.

Nota: Trecho de carta escrita a Fernando Sabino, em 19 de junho de 1946.

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Alivia a minha alma, faze com que eu sinta que Tua mão está dada à minha, faze com que eu sinta que a morte não existe porque na verdade já estamos na eternidade, faze com que eu sinta que amar é não morrer, que a entrega de si mesmo não significa a morte, faze com que eu sinta uma alegria modesta e diária, faze com que eu não Te indague demais, porque a resposta seria tão misteriosa quanto a pergunta, faze com que me lembre de que também não há explicação porque um filho quer o beijo de sua mãe e no entanto ele quer e no entanto o beijo é perfeito, faze com que eu receba o mundo sem receio, pois para esse mundo incompreensível eu fui criada e eu mesma também incompreensível, então é que há uma conexão entre esse mistério do mundo e o nosso, mas essa conexão não é clara para nós enquanto quisermos entendê-la, abençoa-me para eu viva com alegria o pão que eu como, o sono que durmo, faze com que eu tenha caridade por mim mesma, pois senão não poderei sentir que Deus me amou, faze com que eu perca o pudor de desejar que na hora de minha morte haja uma mão humana amada para apertar a minha, amém.

Clarice Lispector
Uma aprendizagem ou o Livro dos prazeres. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

Aceitar-me plenamente? É uma violentação de minha vida. Cada mudança, cada projeto novo causa espanto: meu coração está espantado. É por isso que toda minha palavra tem um coração onde circula sangue.

Clarice Lispector
Um Sopro de Vida (Pulsações). Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1978.

Passei a minha vida tentando corrigir os erros que cometi na minha ânsia de acertar. Ao tentar corrigir um erro, eu cometia outro. Sou uma culpada inocente.

Clarice Lispector
Clarice Lispector: Esboço para um possível retrato

Amor é quando é concedido participar um pouco mais.
Amor é a grande desilusão de tudo mais.
Amor é finalmente a pobreza.
Amor é não ter.
Inclusive amor é a desilusão do que se pensava que era amor.
E não é prêmio, por isso não envaidece.

Clarice Lispector

Nota: Adaptação de trecho da crônica Atualidade do ovo e da galinha (II).

Faça com que eu tenha a coragem de me enfrentar. Faça com que eu saiba ficar com o nada e mesmo assim me sentir como se estivesse plena de tudo. Receba em teus braços o meu pecado de pensar.

Clarice Lispector
Um sopro de vida. Rio de Janeiro: Rocco, 2015.

Com duas pessoas eu já entrei em comunicação tão forte que deixei de existir, sendo. Como explicar? Olhávamo-nos nos olhos e não dizíamos nada, e eu era a outra pessoa e a outra pessoa era eu. É tão difícil falar, é tão difícil dizer coisas que não podem ser ditas, é tão silencioso. Como traduzir o profundo silêncio do encontro entre duas almas? É dificílimo contar: nós estávamos nos olhando fixamente, e assim ficamos por uns instantes. Éramos um só ser. Esses momentos são o meu segredo. Houve o que se chama de comunhão perfeita. Eu chamo isso de: estado agudo de felicidade.

Clarice Lispector
A descoberta do mundo. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.

Nota: Trecho da crônica Ao correr da máquina.

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