La Bruyère

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A modéstia é para o mérito o que as sombras são para um quadro. Dão-lhe forma e relevo.

É a profunda ignorância que inspira o tom dogmático.

Para o homem, apenas há três acontecimentos: nascer, viver e morrer. Ele não sente o nascer, sofre ao morrer e esquece-se de viver.

Não existe vício que não tenha uma falsa semelhança com uma virtude e que disso não tire proveito.

Arrependemo-nos raramente de falar pouco, e muito frequentemente de falar demais: máxima usada e trivial, que todo o mundo sabe e que ninguém pratica.

Cada virtude apenas requer um homem; apenas a amizade requer dois.

Depois do espírito de discernimento, o que há de mais raro no mundo são os diamantes e as pérolas.

Do ódio à amizade a distância é menor que do ódio à antipatia.

O tempo, que fortalece as amizades, enfraquece o amor.

Existem pais estranhos, dos quais a vida inteira não parece ocupada senão em preparar razões para os filhos se consolarem pela morte deles.

Desejamos fazer toda a felicidade, ou, não sendo isso possível, toda a infelicidade daqueles a quem amamos.

É mais vulgar ver um amor absoluto do que uma amizade perfeita.

É preciso rirmos antes de sermos felizes, sob pena de morrermos antes de ter rido.

A maioria das mulheres quase não têm princípios: conduzem-se pelo coração e, quanto aos seus costumes, dependem daqueles a quem amam.

As coisas maiores só devem ser ditas com simplicidade; a ênfase estraga-as. As menores precisam de ser ditas com solenidade; elas só se sustentam pelo modo de expressão, pela atitude e pelo tom.

Os lugares de chefia fazem maiores os grandes homens, e mais pequenos os homens pequenos.

O escravo apenas tem um senhor, o ambicioso tem tantos quantos lhe puderem ser úteis para vencer.

Há uma certa vergonha em sermos felizes perante certas misérias.

O aborrecimento entrou no mundo pela mão da preguiça.

É preciso que um autor receba com igual modéstia os elogios e as críticas que se fazem às suas obras.

Pensar só em si e no presente é uma fonte de erro em política.

A tortura é uma invenção maravilhosa e absolutamente segura para causar a perda de um inocente.

Um homem que acaba de arranjar um emprego já não faz uso do espírito e da razão para regrar a sua conduta e as suas atitudes perante os outros: toma de empréstimo a regra do seu posto e da sua situação; donde o esquecimento, a altivez, a arrogância, a dureza e a ingratidão.

Se a pobreza é a mãe dos crimes, a falta de espírito é o seu pai.

Ser-se livre não é nada fazer, é ser-se o único árbitro daquilo que se faz ou daquilo que se não faz.