G. K. Chesterton

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A aventura mais real de todas, e acessível a todo bolso, é ficar em casa. Que admirável é contemplar um herói tão esplendoroso, tão clássico e tão genial como Ulisses, que não desejava outra coisa que voltar à sua mulher e ao seu lar. Não conheço melhor odisseia.

Chesterton dizia: não há problema em não acreditar em Deus; o problema é que quem deixa de acreditar em Deus começa a acreditar em qualquer outra bobagem, seja na história, na ciência ou sem si mesmo, que é a coisa mais brega de todas. Só alguém muito alienado pode acreditar em si mesmo.

"Por que todos os tolos do mundo pensam que a alma só é livre quando desobedece uma ordem?"

Ter o direito de fazer uma coisa não é, em absoluto, estar certo em fazê-la.

"Se você discutir com um doido, muito provavelmente levará a pior, pois a mente do alienado, em muitos sentidos, move-se muito mais rapidamente porque não se detém em coisas que preocupam apenas quem tem bom raciocínio. O louco não se preocupa com o que diz respeito ao temperamento, à caridade ou à certeza cega da experiência. A perda de certas afecções sãs tornou-o mais lógico. A maneira como se encara, vulgarmente, a loucura é errônea: o louco não é o homem que perdeu a razão, mas o homem que perdeu tudo, menos a razão."

Há dois modos reconhecidos de se argumentar com um Comunista; e estão ambos errados. Há também um terceiro modo, correto porém não reconhecido. Ora, entretenho uma noção que, dentro em pouco, por uma ou outra razão, tomar-nos-ão boa parte de nosso tempo argumentações com Comunistas. E eu gostaria de esboçar, muito por cima, esta minha noção sobre o modo correto de fazê-lo. [...]

Ora, o argumento verdadeiro, cabal e final contra o Comunismo é que a propriedade privada é muito mais importante do que a iniciativa privada. Um batedor de carteiras representa a iniciativa privada, mas dificilmente diríamos que ele é um defensor da propriedade privada. A propriedade privada não é um suborno que existe apenas em função da iniciativa privada. Muito pelo contrário, a iniciativa privada é tão-só uma ferramenta ou arma que pode, por vezes, mostrar-se útil para se preservar a propriedade privada. E é necessário preservar a propriedade privada; pura e simplesmente por seu outro nome ser liberdade. Por um lado, longe de ser uma mera respeitabilidade convencional, é apenas o homem possuidor de alguma propriedade e privacidade que pode viver sua própria vida livremente. Por outro lado, longe de ser uma mera licença para troca ou, pior ainda, para a trapaça, todo o ponto da propriedade é que nela apenas pode crescer, naturalmente, o sentimento de honra. Precisaríamos de algum espaço para expô-lo aqui e pode ser que precisaríamos de algum tempo para expô-lo ao Comunista. Mas o Comunista ao menos haveria de dar-lhe ouvidos por mais tempo do que a um homem a meramente vangloriar-se de sua própria retidão ou avareza.

G.K.'s Weekly, 16 de maio de 1935 (Tradução Livre)

Só um corpo morto segue a correnteza, é necessário estar vivo para contrariá-la.

O LOUCO

Se discutires com um louco, é extremamente provável que leves a pior; pois sob muitos aspectos a mente dele se move muito mais rápido por não se atrapalhar com coisas que costumam acompanhar o bom juízo. Ele não é embaraçado pelo senso de humor ou pela caridade, ou pelas tolas certezas da experiência. Ele é muito mais lógico por perder certos afectos da sanidade. De facto, a explicação comum para a insanidade nesse respeito é enganadora. O louco não é um homem que perdeu a razão. O louco é um homem que perdeu tudo excepto a razão.
A explicação oferecida por um louco é sempre exaustiva e muitas vezes, num sentido puramente racional, é satisfatória. Ou, para falar com mais rigor, a explicação insana, se não for conclusiva, é pelo menos incontestável. E o que se pode observar especialmente nos dois ou três tipos mais comuns de loucura. Se um homem disser, por exemplo, que os homens estão a conspirar contra ele, não podes discutir esse ponto, a não ser dizendo que todos os homens negam que são conspiradores; o que é exactamente o que os conspiradores fariam.
A explicação dele dá conta dos factos tanto quanto a tua. Ou se um homem disser que ele é, de direito, o rei da Inglaterra, não é uma resposta completa dizer que as autoridades existentes o chamam de louco; pois, se ele fosse o rei da Inglaterra, essa poderia ser a maneira mais sábia de agir para as autoridades existentes. Ou, se um homem disser que ele é Jesus Cristo, não é uma resposta dizer-lhe que o mundo nega a sua divindade; pois o mundo negou a de Cristo.
Apesar de tudo, ele está errado. Mas se tentarmos descrever o seu erro em termos exactos, não acharemos a tarefa tão fácil como havíamos imaginado. Talvez a maneira de nos aproximarmos ao máximo dessa descrição é dizer o seguinte: que a mente dele se move num círculo perfeito, porém reduzido. Um círculo pequeno é exactamente tão infinito quanto um círculo grande; mas, embora seja exatamente tão infinito, não é tão grande. Da mesma forma a explicação insana é exactamente tão completa como a do sensato, mas não tão abrangente. Uma bala é exactamente tão redonda como o mundo, mas não é o mundo.

"A propriedade é tão somente a arte da democracia. Significa que todo homem deveria ter algo para moldar à sua própria imagem, assim como ele foi moldado à imagem do Céu. Contudo, como ele não é Deus, mas apenas uma imagem esculpida Dele, sua expressão pessoal deve dar-se dentro de certos limites. A rigor, dentro de limites severos e até mesmo estreitos."

O sistema socialista, e isto num sentido especialíssimo, está fundado não no otimismo, mas no pecado original. Propõe ele que o Estado, como a consciência da comunidade, possua todas as formas primárias de propriedade; baseando-se, obviamente, em não se poder confiar ao homem o ter ou o trocar ou o combinar ou o competir sem que ele faça mal a si próprio. Assim como um Estado poderia ter todas as armas, para que as pessoas não se baleassem umas às outras, esse Estado teria todo o ouro e as terras, para que elas não passassem a perna ou se explorassem umas às outras. A coisa parece extraordinariamente simples, e até óbvia; e de fato o é. É óbvia demais para ser verdade. Se, porém, é óbvia, a mim me parece quase inacreditável que alguém já a tenha julgado otimista.

("Eugenia e outras Desgraças")

"Dizer que o controle de natalidade é um progresso social, é como dizer que a decapitação é um avanço na odontologia para curar a dor de dente."

A dona de casa não é, como dizem, um pássaro preso numa gaiola, mas um pássaro no ninho.

O cristão coloca a contradição em sua filosofia. O determinista a coloca em seus hábitos diários. O cristão afirma, como um mistério declarado, o que o determinista chama nonsense. O determinista tem o mesmo nonsense em seu café da manhã, em seu almoço, em seu chá e em seu jantar, todos os dias de sua vida.

Todos os caminhos retilíneos da lógica levam ao caos, à anarquia ou à obediência passiva, por tratar o universo como uma pura engrenagem material ou então como uma ilusão da mente. É somente o místico, o homem que aceita as contradições, que pode sorrir e caminhar livremente pelo mundo.

O cristianismo, que é uma religião muito mística, tem sido, contudo, a religião das porções mais práticas da humanidade. Ele tem mais paradoxos que as filosofias orientais, mas ele também constrói as melhores rodovias.

Você não pode viver sem dogmas sobre as coisas. Você não pode agir vinte e quatro horas por dia sem decidir se as pessoas são responsáveis ou não. A Teologia é um produto muito mais prático que a Química.

Sem a doutrina da Queda, toda a idéia do progresso é sem sentido. [...] A menos que haja um padrão, você não pode se dizer em ascensão ou em queda. Mas o ponto principal é que a Queda, tal como todos os outros largos caminhos do cristianismo, está embebida, invisivelmente, na linguagem comum.

Ele [o catoliscismo] não acredita, convencionalmente, no que a Bíblia diz, pela simples razão de que a Bíblia não diz nada. Você não pode colocar um livro no banco das testemunhas e perguntar o que ele quer dizer. A própria controvérsia fundamentalista se destrói a si mesma. A Bíblia por si mesma não pode ser a base do acordo quando ela é a causa do desacordo; não pode ser a base comum dos cristãos quando alguns a tomam alegoricamente e outros literalmente. O católico se refere a algo que pode dizer alguma coisa, para a mente viva, consistente e contínua da qual tenho falado; a mais alta consciência do homem guiado por Deus.

Inserida por LEandRO_ALissON

Devemos ter todos os truísmos, em todos os lugares, reconhecidos como verdadeiros. Devemos evitar a mera reação e a temerosa repetição de velhos erros. Devemos fazer o mundo intelectual seguro para a democracia. Mas na condição da moderna anarquia mental, nem um nem outro ideal está seguro.

Inserida por LEandRO_ALissON

Os céticos não conseguem arrancar as raízes do cristianismo, porém, sim, conseguem arrancar as raízes das parreiras e figueiras de todos os homens [...]. Os laicista não têm conseguido destruir as coisas divinas, porém, têm conseguido destruir as coisas humanas.

Enquanto as monótonas heresias estão esparramadas e prostradas, a furiosa verdade cambaleia, mas segue de pé.

Os deterministas me dizem, com um grau de verdade, que o determinismo não faz diferença na vida diária. Isso significa que, apesar do determinismo saber que os homens não têm livre arbítrio, mesmo assim, ele continua tratando-os como se tivessem.

Tão forte é a tradição que as gerações futuras sonharão com aquilo que elas nunca viram.

Sem educação corremos o perigo horrível e mortal de levar a sério as pessoas educadas.

O casamento é uma questão de honra. O casamento é uma luta. Às vezes, uma luta apenas consigo próprio. O matrimônio possui, necessariamente, um toque de heroísmo. Na guerra, a lealdade perdura inclusive na derrota, ou até mesmo na desgraça. Precisamente no momento em que a bandeira está quase sucumbindo é que se deve lealdade. Já se aplica esse princípio à bandeira nacional. Trata-se, portanto, de saber se é ou não uma atitude sábia aplicá-lo à família.