O mais corajoso dentre nós dispõe apenas raramente da coragem de afirmar aquilo que sabe verdadeiramente...
Aquilo que se faz por amor sempre se faz além dos limites do bem e do mal.
Uma era de felicidade simplesmente não é possível porque as pessoas querem apenas desejá-la, mas não possuí-la, e cada indivíduo aprende durante os seus bons tempos a de facto rezar por inquietações e desconforto. O destino do homem está projetado para momentos felizes — toda a vida os têm —, mas não para eras felizes. Estas, porém, permanecerão fixadas na imaginação humana como ‘o que está além das montanhas’, como um legado de nossos ancestrais: pois o conceito de uma era de felicidade foi sem dúvida adquirido nos tempos primordiais, a partir da condição em que, depois de um esforço violento na caça e na guerra, o homem se entrega ao repouso, estica os membros e sente as asas do sono roçando a sua pele. Será uma falsa conclusão se, na trilha dessa remota e familiar experiência, o homem imaginar que, após eras inteiras de labor e inquietação, ele poderá usufruir, de modo correspondente, daquela condição de felicidade intensa e prolongada.
Não enfrentes monstros sob pena de te tornares um deles. Se contemplas o abismo, a ti o abismo também contempla.
Não queremos que os nossos inimigos nos tratem com indulgência, nem tão pouco aqueles a quem amamos de coração. Deixai-me, portanto, dizer-vos a verdade!
Irmãos na guerra! Amo-vos de todo o coração; eu sou e era vosso semelhante. Também sou vosso inimigo. Deixai-me, portanto, dizer-vos a verdade!
Conheço o ódio e a inveja do vosso coração. Não sois bastante grandes para não conhecer o ódio e a inveja. Sede, pois, bastante grandes para não vos envergonhardes disso!
E se não podeis ser os santos do conhecimento, sede ao menos os seus guerreiros. Eles são os companheiros e os precursores dessa entidade.
Vejo muitos soldados; oxalá possa ver muitos guerreiros. Chama-se “uniforme” o seu traje; não seja, porém, uniforme o que esse traje oculta!
Vós deveis ser daqueles cujos olhos procuram sempre um inimigo, o vosso inimigo. Em alguns de vós se descobre o ódio à primeira vista.
Vós deveis procurar o vosso inimigo e fazer a vossa guerra, uma guerra por vossos pensamentos. E se o vosso pensamento sucumbe, a vossa lealdade, contudo, deve cantar vitória.
Deveis amar a paz como um meio de novas guerras, e mais a curta paz do que a prolongada.
Não vos aconselho o trabalho, mas a luta. Não vos aconselho a paz, mas a vitória. Seja o vosso trabalho uma luta! Seja vossa paz uma vitória!
Não é possível estar calado e permanecer tranqüilo senão quando se têm flechas no arco; a não ser assim questiona-se. Seja a vossa paz uma vitória!
Dizeis que a boa causa é a que santifica também a guerra? Eu vos digo: a boa guerra é a que santifica todas as coisas.
A guerra e o valor têm feito mais coisas grandes do que o amor do próximo. Não foi a vossa piedade mas a vossa bravura que até hoje salvou os náufragos.
Que é bom? — perguntais. — Ser valente. Deixai as raparigas dizerem: “Bom é o bonito e o meigo”.
Estou diante de minha mais alta montanha e de minha mais longa viagem! Por isso tenho que descer como nunca desci!
Tenho de ir ao fundo da dor mais do que nunca, até suas águas mais escuras! Assim o quer meu destino. Coragem! Estou pronto!
Creio que aqueles que mais entendem de felicidade são as borboletas e as bolhas de sabão.
Um passo adiante na convalescença: e o espírito livre se aproxima outra vez da vida, lentamente sem dúvida, quase recalcitrante, quase desconfiado. Fica outra vez mais quente ao seu redor, mais amarelo, por assim dizer; sentimento e simpatia adquirem profundeza, brisas de degelo de toda espécie passam por sobre ele. Quase se sente como se somente agora seus olhos se abrissem para o perto. Está admirado e se senta quieto: onde estava? Essas coisas próximas e muito próximas: como lhe parecem mudadas! Que plumagem e feitiço adquiriram nesse meio-tempo! Ele olha com gratidão para trás - grato a sua andança, a sua dureza e estranhamento de si, a seu olhar à distância e a seu voo de pássaro em frias altitudes. Que bom que ele não permaneceu, como alguém delicado, embotado, que fica em seu canto, sempre "em casa", sempre "junto de si"! Ele estava fora de si: não há dúvida nenhuma. Somente agora vê a si mesmo - e que surpresas encontra nisso! Que arrepio nunca provado! Que felicidade ainda no cansaço, na velha doença, na recaída do convalescente! Como lhe agrada sentar-se quieto sofrendo, urdir paciência, estar deitado ao sol! Quem entende igual a ele, de felicidade de inverno, de manchas de sol sobre o muro! São os animais mais gratos do mundo, e também os mais humildes, estes convalescentes e lagartos semi-voltados outra vez à vida: - há entre eles os que não deixam partir nenhum dia sem pedrar-lhe um pequeno hino de louvor na orla do manto que se afasta. E, falando sério: há uma cura radical contra todo pessimismo (o câncer dos velhos idealistas e heróis da mentira, como é sabido -), no modo de esses espíritos livres ficarem doentes, por um tempo permanecerem doentes e então, ainda mais longamente, mais longamente ainda, ficarem sadios, quero dizer, "mais sadios". Há sabedoria nisso, sabedoria de vida, em receitar-se a saúde mesma somente em pequenas doses.
“O que quer que tenha valor no mundo de hoje não o tem em si, conforme sua natureza - a natureza é sempre isenta de valor: - foi-lhe dado, oferecido um valor, e fomos nós esses doadores e ofertadores!”
Aquele que não quer ver o que é elevado num ser humano olha com tanto maior acuidade para o que é nele baixo e superficial - e com isso denuncia a si mesmo.
Não pelo fato de me teres mentido, mas por não poder acreditar-te, é que me agonio.
Demore o tempo que for para decidir o que você quer da vida, e depois que decidir não recue ante nenhum pretexto, porque o mundo tentará te dissuadir.
Pode-se prometer atos, mas não sentimentos; pois estes são involuntários. Quem promete a alguém amá-lo sempre, ou sempre odiá-lo ou ser-lhe sempre fiel, promete algo que não está em seu poder; mas ele pode prometer aqueles atos que normalmente são consequências do amor, do ódio, da fidelidade, mas também podem nascer de outros motivos: pois caminhos e motivos diversos conduzem a um ato. A promessa de sempre amar alguém significa, portanto: enquanto eu te amar, demonstrarei com atos o meu amor; se eu não mais te amar, continuarei praticando esses mesmos atos, ainda que por outros motivos: de modo que na cabeça de nossos semelhantes permanece a ilusão de que o amor é imutável e sempre o mesmo. Portanto, prometemos a continuidade da aparência do amor, quando sem cegar a nós mesmos, juramos a alguém amor eterno.
Cintilei em nosso amor o fulgor de uma estrela, abrilhantado pelas virtudes de um mundo que não existe