Biografia de Doris Lessing

Doris Lessing

Doris Lessing, nasceu em Kermanshah, na Pérsia, na região que é hoje o Irã, no dia 22 de outubro de 1919. Filha de um soldado da I Guerra e de uma enfermeira cresceu na colônia britânica da Rodésia do Sul, atual Zimbábue, na África. Foi aluna interna do Convento Dominicano de Salisbúria. Com 14 anos abandonou os estudos e teve vários empregos, época em que se interessou pela leitura de artigos sobre política e sociologia.

A partir de 1949, depois de deixar pra trás dois casamentos e dois filhos, foi viver em Londres levando o filho que teve com o alemão Gottfried Lessing, e manteve o sobrenome Lessing. Em 1950 publicou seu primeiro livro “A Canção da Relva”. Entre 1952 e 1956 militou no Partido Comunista e participou de campanhas públicas contra as armas nucleares e contra o regime de Apartheid na África do Sul.

Em 1962 escreveu “O Carnê Dourado”, que foi considerado um marco do feminismo na literatura. Recusava constantemente as classificações de “escritora feminista” e de “autora de esquerda”. Em mais de cinquenta livros publicados, explorou diversos tipos de conflitos sociais e existenciais, entre eles, a tensão permanente entre os sexos, os preconceitos de classe e etnia, os embates ideológicos etc.

Em 1985 publicou “A Bela Terrorista”, sob o pseudônimo de Jane Somers. Em 1994 publicou o primeiro volume da autobiografia “Debaixo de Minha Pele”. Em 2001 recebeu o Prêmio Príncipe de Astúrias e em 2007 o Prêmio Nobel de Literatura, se tornando a pessoa mais idosa a receber essa premiação. Faleceu em Londres, Inglaterra, no dia 17 de novembro de 2013.

Acervo: 7 frases e pensamentos de Doris Lessing.

Frases e Pensamentos de Doris Lessing

Quem vivenciou a Segunda Guerra Mundial, sabe que 11 de setembro foi uma coisa terrível, mas não foi pior que muitas outras coisas.

Uma coisa é sentar aqui pondo as palavras num papel e passando, pelo menos, cinquenta pensamentos para cada palavra - portanto de que vale mandá-la se não posso mandar os pensamentos - um em cinquenta - tão diluídos...
(Roteiro para um passeio ao inferno)

Doris Lessing
Roteiro para um passeio ao inferno

Todos os homens fazem cavernas de sombras para os olhos,
Com chapéus e mãos, órbitas, pestanas, testas,
Para as delicadas pupilas ousarem olhar para a Luz.

Nas terras do norte também, onde a luz não tem sombra,
O homem ergue a mão para proteger a vista;
É coisa que já vi fazerem no luar forte.

Diante de qualquer clarão muito forte, essa mão vigente
Corre ao seu posto, fazendo um escuro;
Como os do gato, os olhos do homem ficam grandes e suaves de noite.

São olhos novos, ainda não habituados a ver.
Absorvendo facetas, individuais,
Ainda sem habilidade para os usarem redondos e certos.

Pensem: animais de quatro nós éramos, baixos,
Com o olhar horizontal bem guardado
Daquela claridade vibrante, chamejante de arder os olhos.

Porém tinha de vir esse dia inevitável:
Um animalzinho valente ergueu a pata ao galho,
Puxou-se para cima - e cambaleou à sua altura.

Nossos bebês humanos nos mostraram como foi.
Eles escalam; nós, vigilantes,
Deixamos que aprendam a loucura de seu susto.

Naquela primeira aventura, a luz desceu em saudação,
De igual a igual, um faiscar na mente,
E o animal pensou ser "anjo" - como bem podíamos.

Uma pata, livre da terra, agarrava-se ao galho liso;
A outra, liberta, esperava, enquanto os olhos
Erguiam-se afinal ás aves e nuvens voando.

E assim ele se equilibrou ali, um animal de pé.
E o anjo, poupando o que ele mal ganhara,
Levantou aquela mão inerte para proteger sua vista,
Naquele gesto mais comum que é feito.
O homem não pode olhar diretamente para o sol.
(Roteiro para um passeio ao inferno)

Doris Lessing
Roteiro para um passeio ao inferno

A verdade é que nós... só podemos torelá-los enquanto eles obedecem às instruções, resolverem seus negócios, sua vida em comum, de modo a adaptar-se às necessidades do Sistema. Mas eles parecem não conseguir guardar por muito tempo essa verdade simples, embora isso lhes tenha sido repetido várias vezes, e isso por causa de uma outra característica muito poderosa do pensamento deles, que é que tudo o que lhes dizem é distorcido para se adaptar a seus próprios preconceitos pessoais ou de grupo, e depois acrescentado, com mais uma pedrinha, às meias verdades que eles já cultivam. Portanto, esperamos, confiantes - ou poderíamos ter esperado no passado, antes desse grande e atual... passo à frente, sob a influência do Vento Solar da Mudança... o dever humano como parte da Harmonia - estará correndo como um cão danado, estará distorcido completamente, logo se tornará propriedade de cem seitas em luta, cada qual alegando que a sua versão é a correta. Mas esse tempo já passou, ou quase. A capacidade de ver as coisas como elas são, em suas múltiplas relações - em outras palavras, a Verdade - será parte do novo equipamento da humanidade, que em breve será criado. Graças, naturalmente, não a Nós, mas a...
(Roteiro para um passeio ao inferno)

Doris Lessing
Roteiro para um passeio ao inferno
Inserida por narizcelo

Pois essas criaturas são, em sua maioria, maldosas e assassinas por natureza, só capazes de tolerar os outros se se assemelharem a elas, capazes de se massacrarem devido a pequenas diferenças na pigmentação da pele ou no aspecto. Além disso, não toleram as pessoas que não pensam como elas. Embora saibam perfeitamente, em teoria, que a superfície do globo habitado é dividida em, ilhares de zonas, cada qual com seu sistema de crença religiosa ou científica, e embora saibam perfeitamente que é por acaso que algum indivíduo entre eles nasce esta ou naquela zona, esta ou aquela zona de crença, esse conhecimento teórico não os impede de odiar os estrangeiros em sua determinada região, e, se não os molestam, então os isolam de todos os modos possíveis...
(Roteiro para um passeio ao inferno)

Doris Lessing
Roteiro para um passeio ao inferno
Inserida por narizcelo