Biografia de Cruz e Sousa

Cruz e Sousa

Cruz e Sousa (1861-1898) foi um poeta brasileiro, considerado o mais importante escritor do Simbolismo, movimento que surgiu no Brasil no final do século XIX.

Cruz e Sousa

João da Cruz e Sousa nasceu na província de Nossa Senhora do Desterro, hoje Florianópolis, Santa Catarina, no dia 24 de novembro de 1861. Seus pais eram escravos que foram alforriados pelo Marechal Guilherme Xavier de Sousa e sua esposa. Foi educado em casa, como filho adotivo do marechal, de quem herdou o sobrenome.

Aos 7 anos fez seus primeiros versos, aos 8 já declamava em salões e teatrinhos. Com 10 anos ingressou no Ateneu Provincial Catarinensa, on estudou durante cinco anos. Apaixonou-se pelas letras e, em 1877 já dava aula particular. Começou a publicar seus versos em jornais da província.

Em 1881, fundou com Virgílio Várzea o jornalzinho literário “Colombo”. Juntou-se à companhia teatral dirigida por Julieta dos Santos e percorreu o Brasil de norte a sul.

Em 1883 voltou ao sul e participou ativamente da campanha abolicionista. Tornou-se a figura central da vida literária de sua província. Aproximou-se do presidente de Santa Catarina e foi nomeado promotor público de Laguna, mas não pode assumir o cargo, pois os políticos o recusaram por ser negro.

Obras

Em 1885, Cruz e Sousa estreou com a publicação de “Tropas e Fantasias”, em parceria com Virgílio Várzea. Nesse mesmo ano, assumiu a direção do jornal “O Moleque”, cujo título se deve à sua rebeldia contra o preconceito de cor.

Em 1888, ano da abolição, Cruz e Sousa mudou-se para o Rio de Janeiro, onde trabalhou como jornalista. Em 1890 passou a trabalhar como arquivista na Central do Brasil.

Em 1893, casou-se com Gravita Rosa Gonçalves, também poetisa. No mesmo ano, publicou dois grandes livros: “Missal”, poemas em prosa e “Broquéis”, um livro de versos. Com eles, Cruz e Sousa introduziu o Simbolismo na literatura brasileira.

Cruz e Sousa teve uma vida difícil, sua obra só foi reconhecida por um pequeno círculo de amigos. Sua vida se transformou numa luta constante contra a miséria, as crises de loucura de sua mulher e a tuberculose matou dois dos seus quatro filhos.

Morte

A mesma doença atingiu o poeta, que foi obrigado a residir na cidade de Sítio, em Minas Gerais, à procura de alívio para o mal, onde faleceu três dias depois.

Cruz e Sousa morreu na cidade de Sítio, em Minas Gerais, no dia 14 de março de 1898. Em 1905, seu amigo Nestor Vítor publicou a maior obra do poeta, “Últimos Sonetos”.

Características da obra de Cruz e Sousa

Cruz e Sousa desenvolveu uma linguagem rica e exuberante. Seus poemas são repletos de sonoridade. No plano temático, escreveu sobre sua dor, sua revolta e melancolia. Seus versos são um constante pranto contra o mundo que não o compreendeu.

A obra poética de Cruz e Sousa só foi reconhecida postumamente, depois que o sociólogo francês Roger Bastide o colocou entre os maiores poetas do Simbolismo universal.

Acervo: 14 frases e pensamentos de Cruz e Sousa.

Frases e Pensamentos de Cruz e Sousa

Acrobata da Dor
Gargalha, ri, num riso de tormenta,
como um palhaço, que desengonçado,
nervoso, ri, num riso absurdo, inflado
de uma ironia e de uma dor violenta.

Da gargalhada atroz, sanguinolenta,
agita os guizos, e convulsionado
salta, gavroche, salta clown, varado
pelo estertor dessa agonia lenta ...

Pedem-se bis e um bis não se despreza!
Vamos! retesa os músculos, retesa
nessas macabras piruetas d'aço...

E embora caias sobre o chão, fremente,
afogado em teu sangue estuoso e quente,
ri! Coração, tristíssimo palhaço.

O Horror dos Vivos
Ao menos junto dos mortos pode a gente
Crer e esperar n'alguma suavidade:
Crer no doce consolo da saudade
E esperar do descanso eternamente.
Junto aos mortos, por certo, a fé ardente
Não perde a sua viva claridade;
Cantam as aves do céu na intimidade
Do coração o mais indiferente.
Os mortos dão-nos paz imensa à vida,
Não a lembrança vaga, indefinida
Dos seus feitos gentis, nobres, altivos.
Nas lutas vãs do tenebroso mundo
Os mortos são ainda o bem profundo
Que nos faz esquecer o horror dos vivos.

Nada há que me domine e que me vença
Quando a minha alma mudamente acorda...
Ela rebenta em flor, ela transborda
Nos alvoroços da emoção imensa.

Ah! Toda a Alma num cárcere anda presa,
soluçando nas trevas, entre as grades
do calabouço olhando imensidades,
mares, estrelas, tardes, natureza.

Tudo se veste de uma igual grandeza
quando a alma entre grilhões as liberdades
sonha e sonhando, as imortalidades
rasga no etéreo Espaço da Pureza.

Ó almas presas, mudas e fechadas
nas prisões colossais e abandonadas,
da Dor no calabouço, atroz, funéreo!

Nesses silêncios solitários, graves,
que chaveiro do Céu possui as chaves
para abrir-vos as portas do Mistério?!

Vida obscura

Ninguém sentiu o teu espasmo obscuro,
Ó ser humilde entre os humildes seres.
Embriagado, tonto dos prazeres,
O mundo para ti foi negro e duro.

Atravessaste num silêncio escuro
A vida presa a trágicos deveres
E chegaste ao saber de altos saberes
Tornando-te mais simples e mais puro.

Ninguém Te viu o sentimento inquieto,
Magoado, oculto e aterrador, secreto,
Que o coração te apunhalou no mundo.

Mas eu que sempre te segui os passos
Sei que cruz infernal prendeu-te os braços
E o teu suspiro como foi profundo!