Cecília Meireles

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⁠Ai, quem se opusera ao tempo,
se houvesse força bastante
para impedir a desgraça
que aumenta de instante a instante!
E a vida, em severos lances,
empobrece a quem trabalha
e enriquece os arrogantes

Inserida por dia_marti

⁠A palavra liberdade
vive na boca de todos:
quem não a proclama aos gritos
murmura-a em tímido sopro

⁠Ó grande melancolia
Ó profundíssimo assombro

Inserida por dia_marti

⁠...mulheres e homens à espreita,
caras disformes de insónia
vigiando as ações alheias
agudas setas atiram
a inveja e a maledicência

Inserida por dia_marti

⁠já são réus- pois se atreveram
a falar em Liberdade
que ninguém sabe o que seja
Liberdade- essa palavra
que o sonho humano alimenta
que não há ninguém que explique
e ninguém que não entenda

Inserida por dia_marti

⁠passou um louco montado
passou um louco a falar
que isto era uma terra grande
e que a ia libertar

Inserida por dia_marti

⁠pois o amor não é doce
pois o bem não é suave
pois amanhã como ontem
é amarga, a Liberdade

Inserida por dia_marti

⁠Não deve sonhar o pobre
que o pobre não vale nada...
Se o sonho do pobre é crime,
quanto mais qualquer palavra

Inserida por dia_marti

⁠" (E tudo é tão diferente
do que em saudade imaginas!
Onde estão os teus amigos?
Quem te ampara, quem te salva?...)"

Inserida por dia_marti

⁠"Uns querendo ouro e diamantes,
Outros, liberdade, apenas..."

Inserida por dia_marti

⁠E a marcha era tão segura
que uns diziam: "Que coragem!"
E outros : "Que loucura!"
Lá se foi por esses montes,
o homem de olhos espantados,
a derramar esperanças
por todos os lados (...)
Pois parecia loucura,
mas era mesmo verdade.
Quem pode ser verdadeiro,
sem que desagrade? (...)
Pobre daquele que sonha
Fazer bem - grande ousadia

Inserida por dia_marti

⁠...embora venha sorrindo,
traz sinal de desgraçado. (...)
Vejo que vai ser ferido
e vai ser glorificado:
ao mesmo tempo, sozinho,
e de multidões cercado,
correndo grande perigo,
e de repente elevado:
ou sobre um astro divino
ou num poste enforcado

Inserida por dia_marti

⁠Todos querem liberdade
mas quem por ela trabalha? (...)
(o humano resgate custa
pesadas carnificinas!
Quem morre, para dar a vida?
Quem quer arriscar seu sangue?)

Pena que assim se retorce
deixa a verdade torcida.

Inserida por diegomrodz

⁠Talvez um dia se saibam
as verdades todas, puras.
Mas já serão coisas velhas,
muito do tempo passado...
Que me importa o que se diga.
o que se diga, e de quem? (...)
Direi quanto for preciso,
tudo quanto me inocente...
Que alma tenho? Tenho corpo!
E o medo agarrou me o peito...
E o medo me envolve e obriga....

⁠Todos seremos destruídos por ti,
Deusa!
Somos todos irmãos. Em ti, afinal, irmãos!

Somos agora tristes, dóceis, filiais,
deixando-nos devorar por tua fome,
ó Deusa! ó Morte!

Mas pairamos com asas inolvidáveis
acima de tuas chamas.

Cecília Meireles
Poemas escritos na Índia. Rio de Janeiro: Livraria São José, 1961.

Nota: Trecho do poema Deusa.

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Inserida por 78tajmahal

⁠Tudo vai sendo jamais,
tudo é para sempre nunca.

Cecília Meireles
Poemas escritos na Índia. Rio de Janeiro: Livraria São José, 1961.

Nota: Trecho do poema Zimbório.

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Inserida por 78tajmahal

⁠De seu calmo esconderijo,
o ouro vem, dócil e ingênuo;
torna-se pó, folha, barra,
prestígio, poder, engenho...
É tão claro - e turva tudo:
honra, amor e pensamento.

Cecília Meireles
Romanceiro da Inconfidência. São Paulo: Global Editora, 2012.

Nota: Trecho do poema Romance II ou do Ouro Incansável.

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⁠E o meu caminho começa
nessa franja solitária
no limite sem vestígio,
na translúcida muralha
que opõe o sonho vivido
e a vida apenas sonhada.

Cecília Meireles
Metal Rosicler. São Paulo: Global Editora, 2014.
Inserida por paulauskas

A educação é a única das coisas deste mundo em que acredito de maneira inabalável.

Cecília Meireles
Obra em prosa: crônicas em geral. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1998.
Inserida por pensador

Lamento do oficial por seu cavalo morto

Nós merecemos a morte,
porque somos humanos
e a guerra é feita pelas nossas mãos,
pela nossa cabeça embrulhada em séculos de sombra,
por nosso sangue estranho e instável, pelas ordens
que trazemos por dentro, e ficam sem explicação.

Criamos o fogo, a velocidade, a nova alquimia,
os cálculos do gesto,
embora sabendo que somos irmãos.
Temos até os átomos por cúmplices, e que pecados
de ciência, pelo mar, pelas nuvens, nos astros!
Que delírio sem Deus, nossa imaginação!

E aqui morreste! Oh, tua morte é a minha, que, enganada,
recebes. Não te queixas. Não pensas. Não sabes. Indigno,
ver parar, pelo meu, teu inofensivo coração.

Animal encantado – melhor que nós todos! – que tinhas
tu com este mundo dos homens?

Aprendias a vida, plácida e pura, e entrelaçada
em carne e sonho, que os teus olhos decifravam…
Rei das planícies verdes, com rios trêmulos de relinchos…
Como vieste morrer por um que mata seus irmãos!

Cecília Meireles
Poesia completa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.
Inserida por marcosarmuzel

Serenata

Repara na canção tardia
que timidamente se eleva,
num arrulho de noite fria.

O orvalho treme sobre a treva
e o sonho da noite procura
a voz que o vento abraça e leva.

Repara a canção tardia
que oferece a um mundo desfeito
sua flor de melancolia.

É tão triste, mas tão perfeito,
o movimento em que murmura,
como o do coração no peito.

Repara na canção tardia
que por sobre o teu nome, apenas,
desenha a sua melodia.

E nessas letras tão pequenas
o universo inteiro perdura.
E o tempo suspira na altura

por eternidades serenas.

Cecília Meireles
Poesia completa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.
Inserida por marcosarmuzel