Vergílio Ferreira

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O melhor de uma verdade é o que dela nunca se chega a saber.

Vergílio Ferreira
FERREIRA, V., Escrever, Bertrand, 2001

Teve uma ideia, tão original e tão esquematizada em máxima sentenciosa, que se tornou um lugar-comum e perdeu a originalidade. Mesmo para quem a criou.

Vergílio Ferreira
FERREIRA, V., Escrever, Bertrand, 2001

Escrever é ter a companhia do outro de nós que escreve.

Vergílio Ferreira
FERREIRA, V., Escrever, Bertrand, 2001

O amor afirma, o ódio nega. Mas por cada afirmação há milhentas de negação. Assim o amor é pequeno em face do que se odeia. Vê se consegues que isso seja mentira. E terás chegado à verdade.

Vergílio Ferreira
FERREIRA, V., Escrever

Que importa que já o saibas? Só se sabe o que já nos não surpreende.

Vergílio Ferreira
FERREIRA, V., Escrever, Bertrand, 2001

Chora aos berros como as crianças até te estafares. Verás que depois adormeces.

Vergílio Ferreira
FERREIRA, V., Pensar, 1992

Crer para ver.

A moda é uma variante oblíqua de se lutar contra a morte. Ora na velhice tal luta é mais problemática. E é por isso que no velho a moda é mais ridícula.

Vergílio Ferreira
FERREIRA, V., Pensar, 1992

Não penses que a sabedoria é feita do que se acumulou. Porque ela é feita apenas do que resta depois do que se deitou fora.

Vergílio Ferreira
FERREIRA, V., Pensar, 1992

Não consideres petulante um autor quando diz que os outros lhe não interessam nada. Pensa apenas que não é o que os outros fazem que ele quereria fazer. E não o julgues petulante mas honesto. Ou humilde.

Vergílio Ferreira
FERREIRA, V., Escrever, Bertrand, 2001

Ama o impossível, porque é o único que não pode te decepcionar.

Vergílio Ferreira
FERREIRA, V., Pensar, 1992

Se és artista, não fales em ser maior ou menor, para não confundires a tua obra com uma prova de atletismo.

Vergílio Ferreira
FERREIRA, V., Pensar, Bertrand, 1992

De duas ou mais dores simultâneas, a nossa atenção escolhe uma e quase esquece as outras. Na ruína do nosso tempo, vê se escolhes o mais importante dela. Evitarás assim o ridículo de chorar a perda de um alfinete numa casa que te ardeu. E a História olhar-te-á com simpatia - talvez vá mesmo para a cama contigo.

Vergílio Ferreira
FERREIRA, V., Escrever, Bertrand, 2001

Toda a explicação pressupõe o conhecimento do inexplicável, ou seja, do que seria mais interessante explicar.

Vergílio Ferreira
FERREIRA, V., Escrever, Bertrand, 2001

Se fazes questão em reflectir sobre o enigma da vida e do universo, vê se te despachas depressa, que a espécie humana qualquer dia acaba.

Vergílio Ferreira
FERREIRA, V., Pensar, Bertrand, 1992

Não te coíbas de repetir o que já disseste, porque és pequeno e só assim talvez será possível que te ouçam.

Vergílio Ferreira
FERREIRA, V., Escrever, Bertrand, 2001

Numa epidemia a morte é desvalorizada. Porque se não desvaloriza no nosso quotidiano, que é como se houvesse também uma epidemia, embora ao retardador?

Vergílio Ferreira
FERREIRA, V., Escrever, Bertrand, 2001

Lamentares a sorte dos que morreram é uma forma oblíqua e subtil de te julgares imortal.

Vergílio Ferreira
FERREIRA, V., Pensar, Bertrand, 1992

Não se pode verdadeiramente admirar senão quem está longe. Porque só a distância nos garante que não cheire mal da boca.

Vergílio Ferreira
FERREIRA, V., Pensar, 1992

O mais grave no nosso tempo não é não termos respostas para o que perguntamos - é não termos já mesmo perguntas.

Vergílio Ferreira
FERREIRA, V., Pensar, Bertrand, 1992

O que o moralista mais odeia nos pecados dos outros é a suspeita acusação de covardia por não ter coragem de os cometer.

A mulher escolhe sempre o homem que a escolhe a ela, como é da sabedoria das nações. A verdade também.

Vergílio Ferreira
FERREIRA, V., Pensar, Bertrand, 1992

Mas de vez em quando ergues-te ainda frenético, como esse velho de que se conta que fazia amor uma vez por ano....

Vergílio Ferreira
FERREIRA, V., Pensar, Bertrand, 1992

Morrerás em breve. É incontestável. E quanta verdade morrerá contigo sem saberes que a sabias. Só por não teres tido a sorte de num simples encontro ou encontrão ta fazerem vir ao de cima.

Vergílio Ferreira
FERREIRA, V., Pensar, 1992

Guarda o passado, se não tens já futuro. Porque se também o perderes, o presente que te restar é o da pia, que não tem tempo algum.

Vergílio Ferreira
FERREIRA, V., Pensar, Bertrand, 1992