Marguerite Yourcenar

1 - 25 do total de 84 pensamentos de Marguerite Yourcenar

A amizade é, acima de tudo, certeza – é isso que a distingue do amor.

Os defeitos são por vezes os melhores adversários que podemos opor aos vícios.

Ninguém ainda sabe se tudo apenas vive para morrer ou se morre para renascer.

Deus é o pintor do universo... Que pena (...) que Deus não se tivesse dedicado à pintura de paisagens.

Nada há de mais sujo do que o amor-próprio.

Não é difícil alimentar pensamentos admiráveis quando as estrelas estão presentes.

A sabedoria é a forma mais dura e mais condensada do ardor, a parcela de ouro nascida do fogo e não da cinza.

A felicidade é uma obra-prima: o menor erro falseia-a, a menor hesitação altera-a, a menor falta de delicadeza desfeia-a, a menor palermice embrutece-a.

A paixão cheia de inocência é quase tão frágil como qualquer outra.

Há mais do que uma sabedoria, e todas elas são necessárias ao mundo; não é mau que elas se vão alternando.

Creio que quase sempre é preciso um golpe de loucura para se construir um destino.

Marguerite Yourcenar
With Open Eyes: Conversations with Matthieu Galey (1984).

Muitas vezes, a alma parece-me apenas uma simples respiração do corpo.

A filosofia epicuréia, esse leito estreito, mas limpo.

Quando se gosta da vida, gosta-se do passado, porque ele é o presente tal como sobreviveu na memória humana.

Sempre tive a impressão de que a música fosse apenas o extravasamento de um grande silêncio.

Consideramo-nos puros enquanto desprezarmos aquilo que não desejamos.

O álcool tira as ilusões. Depois de alguns golos de conhaque já não penso em ti.

O nosso maior erro consiste em tentarmos colher de cada pessoa em particular as virtudes que elas não têm, e de nos esquecermos de cultivar as que de fato são suas.

A morte surgia-lhe como uma consagração de que só os mais puros são dignos: muitos homens desfazem-se, poucos morrem.

A felicidade é provavelmente uma infelicidade que se suporta melhor.

O nosso verdadeiro lugar de nascimento é aquele em que lançamos pela primeira vez um olhar de inteligência sobre nós próprios.

A palavra escrita, ensinou-me a escutar a voz humana, assim como as grandes atitudes imóveis das estátuas, me ensinaram a apreciar os gestos.

Todo prazer sentido com gosto parece-me casto.

Quantas vezes, quando acordei cedo para ler ou estudar, troquei os travesseiros amarrotados e as cobertas desordenadas, aqueles sinais quase obscenos de nossos encontros com o nada, provas de que a cada noite já deixamos de existir.

Quanto amargor fermenta-se no fundo da doçura, quanto desespero esconde-se na abnegação e quanto ódio mistura-se ao amor.